domingo, 31 de maio de 2009

De como ficou triste o meu malbec.

Tudo começou nesta última sexta-feira. Assistia a um bom documentário na TV aberta (acredite, eles existem!) sobre alimentação saudável e estilo de vida.
Um tema em particular me chamou mais à atenção: a bela e esguia repórter, com muito charme e competência, narrava, direto da França, as maravilhas recém descobertas sobre o vinho tinto.
Especialmente o tinto da uva pinot noir.
Todos sabemos que o consumo moderado e sensato do vinho tinto tráz benefícios ao sistema cardiovascular; o que não se sabia até então, era que o resveratrol (a "mocinha" contra a vilania dos males do coração) está muito mais presente nos tintos da uva pinot noir, do que nos demais, incluindo nesta lista meu velho amigo malbec.
É isso mesmo, o resveratrol escolheu a redondinha pinot noir, como hospedeira favorita.
Segui atento a audiência. Ao meu lado, mais-ou-menos acordada, minha mulher rapidamente decretou:
- Agora só compro pinot noir!
Como é duro o coração feminino! Quanta falta de sensibilidade! Meu fiel amigo malbec estava ali, naquele momento, e certamente ouvindo a tudo, muito preocupado.
Repousava solenemente numa taça de cristal, à minha mão direita, enquanto aguardava paciente o momento de ser sorvido.
Quanta dureza naquelas palavras de fêmea!
Senti o restinho do malbec, que jazia na garrafa ao lado, se entristecer bruscamente. Terminei a garrafa com dó...com dor.
No dia seguinte, um sábado lindo e mineiro, a patroa faceiramente me apresentou, orgulhosa de si, duas belas garrafas de pinot noir. Duas beldades francesas, com rótulos clássicos, emoldurados por tons de dourado e vermelho. Ah ! As francesas...
Meus olhos devoraram as curvas daquelas beldades. Me senti um pouco canalha naquele momento...thank's God!
Peguei uma delas nas mãos, ato contínuo dei uma olhadela no relógio, cedo demais para beber.
Ainda com o meu mais novo brinquedinho em punho, li baixinho uma inscrição em destaque no rótulo: PINOT NOIR.
Maliciosamente encostei minha barba de fim-de-semana na "orelha" da garrafinha linda e sussurrei:
- Olá, você vem sempre aqui ?
Putz...como é etílico viver !

Vamos em frente !

GM

sábado, 30 de maio de 2009

Uma dedicatória e a velha Elizart

Naquele dia eu caminhava pela calçada da esquerda da Av. Mal. Floriano, no Centro velho do Rio. Ia sentido Central X Rio Branco e meu objetivo era localizar uma pequena cafeteria, bem antiga, que ficava na esquina da rua Acre.
Lembro-me de frequentar aquele lugar interessante, nos tempos em que morei no Rio, o café era forte e o lugar, muito honesto. Bebíamos em pé, junto ao balcão, enquanto ouvíamos as conversas do português, senhor absoluto daquele ponto.
Café Capital...agora o nome salta em minha mente, reclamando um lugar neste texto.
Meu passo era apressado, teria um compromisso as 14h00m ali perto, na praça Mauá, e a pontualidade é um stress e uma marca que me acompanha de tempos.
De forma natural olhei à direita enquanto andava e observei a fachada da Livraria Elizart, a mais que centenária senhora dos livros, que reinou forte no Centro do Rio por muitos anos. Fica na altura da rua Conceição, próxima a loja de música e de músicos Ao Bandolim de Ouro (essa é outra estória...).
Não pude resistir a idéia de bisbilhotar um pouquinho entre suas prateleiras.
O lugar estava um pouco envelhecido, mas conservava a nobreza de quem foi, e de quem é. Aquele cheiro característico de livros impregnava tudo...uma delícia, cheiro de idéias ! Pessoas circulavam concentradas mas com uma atitude leve nos rostos, estavam felizes por estar ali.
Eu também.
Na prateleira central, um livro me provocava curiosamente, era um exemplar da Divina Comédia, de Dante, já bem usado e com uma dedicatória marcante, na segunda página.
Alguém escreveu: "Meu filho...leia, até que as palavras façam parte de você." Assinou, não pude entender o nome grafado, e datou, 02 de outubro de 1968. A edição era de 1956.
Os franceses dizem que quando você lê uma dedicatória, revive o momento de quem escreveu; é como se você voltasse no tempo, para o exato instante em que a pessoa escrevia e dedicava seu amor; uma espécie de testemunho no tempo.
A dedicatória era de 68. O mundo aconteceu em 1968 ! Sgt. Peppers dos Beatles, os dias de chumbo no Brasil a revolução do comportamento e do saber. E aquele livro acontecia naquele momento para mim, carregando todo o simbolismo de Dante e todo o sentimento daquele pai para aquele filho.
Naquela tarde, o café desceu mais gostoso, embalado pelas letras daquele achado feliz.

Putz...como é bonito viver !

Vamos em frente !

GM

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Os quatro fantásticos...mesmo!

Eram quatro, sim, mas que valiam por quatro mil !
Tom, Toquinho, Miúcha e Vinícius se juntaram antes da aurora final dos anos 70, e criaram algo realmente fantástico.
Mais que um show memorável, aqueles momentos no Canecão (RJ) marcaram o redespertar da vocação boêmia e sonata da música brasileira. Que o diga Aloysio de Oliveira !
Entre generosas doses de scotch on the rocks e boas baforadas cubanas, os parceiros deliciaram o público com a mais fina poesia jamais escrita para mortais; com a mais simples e sofisticada música que Tom ousou cuidar, além da voz pequena e afinadíssima de Miúcha.
O fiel, preciso e rico violão de Toquinho completava o quarteto...luz, som, dimensão e pura mágica.
O disco em vinil ouvi até arranhar, lá nas minhas tardes pobres em Mesquita, nos idos de oitenta e poucos (thanks, Arlindo !); já o CD caiu, despretensiosamente, nas minhas mãos, semanas atrás, enquanto buscava tesouros num sebo de Campinas.
Ah...que delícia ! Na viagem de volta a Itu, ouvi, no carro, repetidas vezes a faixa Wave...o jazz nunca foi tão brasileiro assim!
Em casa, o ritual de sempre foi invertido: dada a minha ansiedade, primeiro pus o CD no meu velho sony, depois, só depois, é que abri um tinto que, impaciente, me esperava na adega.
Putz...como é simples viver !
Vamos em frente !
GM