Para receber o ano inteiro, todos os dias, tanta gente e fortuna, o Rio não sai de férias. Para abraçar paulistas e paulistanos, paranaenses e paraenses, baianos e soteropolitanos, o Rio não sai de férias.
Eu não queria fazer as contas, mas acabei concluindo que nos últimos vinte anos só fiz apaulistar. Não reneguei minha origem carioca, pois a paixão pelo Maracanã sempre me avisa, com terna atenção; o caso é que morando em SP, o apaulistamento é natural. Acabei me acostumando com o caos nosso de cada dia dessa gente branquela e feliz. Também abranquelei, pois feliz eu já era. Abracei SP, como o Rio me abraça. E abraça a quem sorrir. Abracei as Marginais, a Bandeirantes e a Castelo como quem abraça uma nau. Como quem quis ficar e ficou.
Abracei mulher e filho. Abracei uma escolha.
Hoje, 17 de julho, saio de férias com destino ao Rio, depois de 12 anos sem estar de férias no Rio. E saibam que estar de férias no Rio não é nenhum sacrifício. É ócio criativo.
Na mala levo sei lá o quê, só sei que está grande demais. Um exagero de fêmea. Comigo, meu filho e minha linda. Desta vez sem roteiros, pois a cidade está na palma de minha mão e no canto da minha boca. Imagino começar a cantar quando o avião iniciar o pouso: "Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro..." versos de Tom na emblemática "Samba do Avião": a dor da saudade transfigurada em poesia. Só Tom e um legítimo scotch, com duas pedrinhas de gelo, seriam capazes de tal proeza.
A cabeça segue o corpo, cheia de idéias: Grumari, Jardim Botânico, Pão de Açúcar, Corcovado, Mirante do Leblon, Lagoa, Floresta da Tijuca, Restinga da Marambaia e...o Maracanã !
Maracanã que, terna e atentamente, vai me lembrar do fim do passeio e da viagem de volta.
O Rio vai me esperar até o dia em que voltar, de novo de férias, ou de novo a negócios. O Rio sabe esperar: pacientemente ele espera o dia em que o estado vai, por milagre, voltar a funcionar. Afinal pagamos os impostos. O Rio vai esperar pelo dia em que poderemos voltar a passear no Bairro Peixoto no fim da tarde; ou que voltaremos ao Horto no raiar do dia; ou, ainda, que subiremos a Vista Chinesa sem medo de FAL ou AR-15.
Este dia vai chegar, e quando chegar, o Rio vai estar lá, firme e jovem, de braços redentores bem abertos. Aguardando pio e paciente.
Pois o Rio não tira férias.
O resto é
Niterói !
Vamos em frente !
GM