quarta-feira, 30 de setembro de 2009

You've got a friend, meu amigo.

You've got a friend (Carole King, imortalizada por James Taylor)

When you're down and troubled
And you need some help and care
And nothing, oh nothing is going right.

Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest nights

You just call out my name, and you know wherever I am
I'll come running to see you again
Winter, spring, summer, or fall,
All you got to do is call
And I'll be there, yes I will

You've got a friend.

If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together and call my name out loud now
And soon I'll be knocking upon your door.

You just call out my name, and you know wherever I am
I'll come running to see you again
Winter, spring, summer or fall
All you got to do is call
And I'll be there...

Hey, ain't it good to know that you've got a friend?

When people can be so cold
They'll hurt you and desert you.
They'll take your soul if you let them.
Oh yeah, but don't you let them.

You just call out my name...that's it.

Vamos em frente, meu amigo !

GM

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os desafinados

E todos sabem que não sou fã de Rodrigo Santoro. Considero-o mesmo uma cópia chinatown de Alec Baldwin, 20 kg mais magro.
Tudo bem, o moço faz bonito com as menininhas dos 16 a 86 anos, mas fazer o quê, não estou falando de beleza, mas sim de talento.
Só que quase mordi a língua e engoli minha inveja quando vi o carinha atuando no filme Os Desafinados.
Uma direção segura de Walter Lima Jr. potencializa talentos como a deliciosa Cláudia Abreu e a desejável Alessandra Negrini. Um filme simples mas muito gostoso de assistir. A trama fala de um grupo de músicos amigos que decide ir para NY tentar a sorte.
Lá eles formam um grupo, chamado Os Desafinados, e integram o movimento que lançou a bossa nova. Ao longo dos anos eles acompanham o cenário político e musical do Brasil.
Recomendo sim, pois nem todo dia é dia de Marx. Temos que relaxar na mesma medida do endurecer...desculpa Chê !
Aliás, estou muito curioso para ver o que o Rodrigão aprontou na pele de Raul Castro, ao lado do indomável Benício del Toro.

Mas esta fica para a próxima !

Vamos em frente !

GM

domingo, 27 de setembro de 2009

Insight triplo

" Quando eu era pobre, me chamavam de louco; agora que sou rico, me chamam de excêntrico. "

Arthur Jones

"Não há nada mais chato do que duas pessoas que continuam falando enquanto você está interrompendo."

Mark Twain

" Fantasia é um troço que o cara tira no caranaval."

João Bosco

sábado, 26 de setembro de 2009

Joe Cocker

A mais impressionante homenagem, adaptação, livre-interpretação, ou chamem lá como quiserem, de uma beatle song foi feita por Joe Cocker. Cantor inglês de rythm & blues, que tinha e tem na voz, sua mais forte aliada e companheira.
Um timbre único revelou e embasbacou toda a audiência de Woodstock, quando em seu show, celebrou a inspiração de Lennon-McCartney numa fusion com gospel e R&B. With a Little Help From my Friends nunca soou tão formidável !
O cara é bom !

No começo da música, há um silêncio devastador nas colinas de Bethel, mesmo que habitadas por quase 400 mil cabeças cabeludas e piolhentas. Ninguém sequer respirava. Ouvindo os originais em mono, se percebe até o raspar dos dedos dos músicos nas trastes do braço das guitarras.
Sinistro !
"Um silêncio tão profundo, do vizinho reclamar...", diria um Chico, certamente ausente.

Mas Joe estava lá ! E a estrutura da introdução é levemente adiada por um contra-baixo que soa apenas duas notas...e as repete, como que chamando o jovem Cocker a trabalhar.

E ele veio. Despejando visceralmente a potência de sua voz rouca, legítima herdeira de James Brown e filha bastarda de Aretha Franklin. Cantou forte e lindamente. Provocou uma reação emocional e abissal na platéia. Revelou-se como fazedor da história. Fez-se a lenda.
Ouvindo hoje o CD do festival, me deparei com coisas deliciosas: Joan Baez no auge; Crosby, Stills, Nash & Young fervilhando acordes e um Country Fish Joe cínico e político.
Mas nada se compara ao, hoje, velho, e ainda, bom Joe Cocker.

Rock and Roll á muito mais do que agitar cabeleiras. É talento, ensaio, estrutura musical e vontade de fazer.

Se tiver dúvidas, ouça o disco, veja o filme e leia o livro.

O resto é Raul Gil.

Vamos em frente !

GM

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Se meu Fusca falasse

Quem nunca teve um Fusca que atire a 1ª pedra. Quem nunca teve o prazer de guiar um autêntico VW original, que se esmaeça.
Eu tive o privilégio. NZ 2309. Branco. 1976. Alavanca de mudança com caranguejo e volantinho esportivo. Um charme refrigerado a ar.
Ficou conosco até 1983, para ser tristemente substituído por uma Brasília marrom-cocô. Pobre infeliz.

O Fusca representa um tanto a mais do que simples registros de venda, na indústria automobilística. Um Fusca é um Fusca, e pronto !
Esterça pouco, mas pra que mais ? Treme um pouco, mas pra que menos ? Faz barulho, mas o que seria do silêncio sem uns decibéis rascantes ?
Hoje ganhei de meu amigo JP um exemplar do bélissimo Almanaque do Fusca, que a Ediouro lançou na signa de Fábio Kataoka e Portuga Tavares.
Uma fanfarra ! Muito bom !

Registro literário muito bem humorado e registro fotográfico iconoclasta.

Uma partilha com a saudade de muitos, que como eu, sabem muito bem o que é transar dentro de um espaço de 0,90 cm quadrados e ter um ataque de câimbras, momentos antes do prazer final.

Era tão apertado que mal dava espaço para um bom e juvenil sexo oral.

Mas isso é outra estória.

Vamos em frente !

GM

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Papillon

Steve McQueen.

"...Steve foi menino de fazenda, conviveu com hippies, delinquentes e transviados. Passou dois anos em um reformatório da Califórnia e aos quinze anos abandonou a família para ser marinheiro, carregador, empregado de posto de gasolina e vendedor. A sorte chegou quando topou ganhar quinze dólares por semana para dizer um pequeno diálogo por noite em um teatro off Broadway."
E a wikipédia continua:

"...Ele mesmo se definia como um indomável cínico, rebelde e nada bonito, e sempre procurou personagens obcecados por uma ideia, nada românticos e sem o estereótipo do galã. Ao chegar a Hollywood, na década de 1950 foi logo saudado como o sucessor de James Dean."
Assisti anos atrás a obra prima chamada Papillon. Ele, um prisioneiro infeliz numa prisão à prova de fugas na Guiana Francesa. Chamava-se Papillon, pois tinha uma enorme borboleta tatuada no peito.
No filme, há uma passagem muito forte que se destaca: surge a imagem do diretor da prisão decretando sua prisão perpétua e confinando-o a 180 dias de solitária.
Ele foi atirado num cubículo escuro, fedido,cheio de ratos e insetos. Iguarias deliciosas.

Lembro-me de que ia sucumbindo à privação de seus sentidos, da luz e de tudo, quando num repente, localizou no teto da solitária uma barra de ferro atravessada entre duas paredes.
Ele não usou esta barra pra fugir, não naquele momento. Nem para atacar ou se defender pois estava absolutamente isolado.
Num salto rápido pendurou-se na barra e começou a se exercitar. Fazendo exercícios diários e destilando sua raiva e energia, dizia, cem vezes seguidas:
- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...

Desde aquele dia guardo a cena, a imagem e a música que fazia a trilha naquela exata passagem do filme (Simple Man, do Lynyrd Skynyrd).
Desde aquele dia, me reenergizo todas as vezes que um mau caráter qualquer me prejudica:
- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...
Desde aquele dia me revigoro sempre que me iludem com mentiras e ardis:

- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...

Desde aquele dia parei de ter medo da escuridão de mentes pequenas:

- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...

Desde aquele dia rio de idiotas, mentirosos, falsos, cretinos, bastardos, fingidos, sorrisos-amarelos, covardes, manipuladores e gananciosos que vendem a alma ao demônio por uns trocados a mais no final do mês:
- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...

Steve morreu jovem, com menos de 45 anos de idade. Era um louco em muitos sentidos, mas era autêntico.
Não sei quantos dias ainda Deus me reservou por aqui, só sei que serão vividos com 100% de dignidade !
Assistam Papillon. Eu, humildemente, recomendo. Vai ser uma boa fonte de energia para vocês. Aprendam, como eu, a dizer, sempre que puderem:

- Estou vivo, desgraçados ! Estou vivo...

Vamos em frente !

GM

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A festa de Micai

Meu amigo Micai vai fazer 40 anos. Quarenta, que escrevendo em extenso parece menos do que foi. E mais do que seria.
O sorriso highlander vai passar à fase Honoré de Balzac. O maior fígado de Itu. A mais autêntica risada do Morumbi. Um grande irmão paulista. Que com entradas e bandeiras, desbrava toda a tristeza ao redor, transformando tudo em alegria.
Um grande chapa.
Micai não tem pais. Como eu. É, como eu, primitivo naquilo que é certo: onde há luz não há trevas...onde há trevas não há luz. Micai seguiu um caminho de pedras, mas foi polindo-as no transcurso de sua vida.

Para ele não se fez a luta em cursos, só o curso de seu sorriso e de sua picanha ao alho, de longe, a melhor do Brasil.
Chegando outubro anunciando a meirinha de uma estação, no canto de um Quero-Quero valente, veio também a vontade da aurora, de raiar em um novo dia. Em uma nova época. Em uma nova idade.
Tem medo não Micai, eu já fiz 41 e ainda estou por aqui. Falta muito para o jogo final. Nossos artilheiros ainda hão de golear muito e mais do que os outros.

No repertório que te enviei repare que só tem sorriso. O bom DJ que de certo contratarás fará bom uso da lista. Só peça para não esquecer de sugarhill gang, afinal, se é pra festar que se faça direito.

Parabéns !

Vamos em frente !

GM

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Discoteca básica 10 - a última da pretensa lista

Raul Plasman provavelmente diria: "O jogo só vai acabar, quando o juiz apitar"...ou ainda..."Se ninguém fizer gol não haverá vencedor."
Pois é. O juiz não apitou mas chegamos aqui, depois de três meses de pensares e pesares, ao fim da mais pretensiosa lista de referência musical que algum maluco tenha ousado publicar.
Peço que me entendam. Não peço que me aplaudam. Na verdade a idéia nem foi minha. Mas um espírito tenentista verde-oliva me jogou na empreita. Fazer o quê.

Aqui na solidão do quarto do meu hotel despreferido no Itaim paulista, ouvindo o abusados Little Feat na last.fm (a melhor rádio-comunidade da web), me dei conta de terminar a lista.
Naveguei um pouquinho nas nove primeiras dicas. Lembrei que recomendei Ray Charles, por que música dele dispensa a luz; falei de um Chico Buarque construtor, que fez elegia nas estruturas da MPB; sussurrei Miles Davis como dica sonata; belisquei Milton na esquina de seu clube; entre outros, sei que muitos ficaram para trás: uns secos, outros molhados, algumas damas não citadas, todas, acho que caberiam nas entranhas de Betânia...que estava lá.
Fidalguiei Beatles, como se Elvis não existisse. Paciência, perfeito só o Flamengo de 1981 !

Agora encerro a questão e ouso recomendar Tom Jobim e seu Stone Flower, produzido por Eumir Deodato e que boquiabertou todos os gringos de cintura dura, além das terras pau-brasiliensis.
Ele é forte demais. Navega em arpejos para cima e para baixo. Ao piano, suas notas são como gotas de chuva. O cara é bom. Maior do que ousamos crer em homenagens nativas. Pequenas e políticas. A nossa cara.

O cara é bom, mas se foi. Ficou a música, especialmente este seu disco aqui recomendado.
Nossas conversas sobre música não acabaram. Falaremos sempre. Mas chegas dessas listas de alcova. Sou descrítico e prefiro ouvir e beber. Beber e coitar.

Vamos ouvindo, em frente !

GM

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cuidado com o cão

"Na porta da loja há um enorme cartaz: 'Cuidado com o cão'. Um sujeito entra com medo. Mas, uma vez lá dentro, depara-se com um pequenino poodle, com cara de bonzinho e preguiçosamente esparramado no chão.

- Ei ! É esse o cachorro que eu tenho que tomar cuidado ?
- É esse mesmo. Responde a velha atendente.
- Mas ele não me parece nem um pouco perigoso...Por que a senhora colocou o cataz ?
- É que antes todo mundo pisava nele..."

Coisas de Rolando Boldrim.

Vamos em frente !

GM

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Diferenças entre Chico e Caetano

Chico é homem. Caetano não tem sexo.
Chico é poeta. Caetano é completo.
Caetano é violão, com e sem banquinho. Chico é construção, com domínio das estruturas.
Caetano é tropicalista. Chico é tropical.
Chico é Marieta. Caetano é severo.
Chico não canta. Caetano encanta.
Chico é escritor. Caetano cristaliza toda a dor.
Caetano é Billie Jean. Chico á Charles Aznavour.
Chico pensa. Caetano executa.
Caetano é beija-flor. Chico é Benjamin.

Ainda bem que eles existem. Na música e nas letras.

Vamos em frente, caetanear é preciso, expressamente Chico !

GM

sábado, 12 de setembro de 2009

Insight

" Quando você fala com Deus, é por que está rezando. Quando Deus fala com você, e você ouve, é por que está esquizofrênico."
Errol Flynn, saudoso ator americano.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O dia em que achei Belle and Sebastian

Tiger Milk, um petisco irrecusável. Beijo na boca. Harvest Moon do Neil Young, um volta ao começo de tudo e Jason Mraz uma feliz descoberta. Recomendo todos.
Saí do hotel rapidinho para degustar meu espagueti com alho e óleo preferido em Blumenau. No meu restaurante italiano preferido. Sentado à minha mesa preferida. Bem acompanhado de um tinto qualquer.
Na volta, um sátiro bem sem-vergonha me empurrou pra dentro da Bruneti discos. Eu não queria, juro. Mais ou menos.
Entrei naquela que considero a melhor loja de discos do mundo. Gozei na boca. De cara, a Brunetinha me trouxe Tiger Milk, uma encomenda antiga minha, pois não achei nem no Rio e nem em SP, que dirá em Itu.

- Apareceu, hein ?
A jovem vendedora achava que minha encomenda era vazia. Que eu não viria buscá-la. Não, eu cumpro cada deleite que prometo.
E levei de quebra uma coleção de 3 discos de pop-jazz, seja-lá-o-que-isso-for; além de From Elvis in Memphis e Ramones, o primeiro lógico.
No hotel, enquanto tomava banho, deixei na cama, deitadas, todas as capas. No computador tocava Jason Mraz, já disse, surpresa boa, e, claramente depois, Belle and Sebastian.
É por isso que eu ouço !

Vamos em frente !

GM

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O belo e estranho dia em que SP parou

175 km de engarrafamento. Não, não foram 175 metros, ou 1750. Foram 175 km de congestão urbana, neste belo e estranho dia pra se ter alegria.
Se Roberta Sá estivesse ao meu lado, no banco do carona, estaria provavelmente cantando as belezas de seu último disco. Mas não estava. Estava apenas no meu CD player. E como canta, essa menina. E como chove nessa cidade. Chove prédios com mais de vinte andares.
Sim, se Robertinha estivesse anca ao meu lado, provavelmente minha mão direita estaria em sua coxa esquerda. Ou atrás de sua nuca, forçando um vai-e-vém sem quadris. Mas não estava. Estava a chuva infatigável que me ofuscava a visão. Estava o carro da frente, e a caminhonete do lado, e o caminhão do outro, e um imbecil atrás, buzinando.
175 km de AVC urbano e um animal estressado buzinando atrás de mim !
Descobri que amo São Paulo. Amo não, venero, e me debruço, e me apaixono. Se não, como explicar tamanha quietude ? Como explicar enfrentar 175 km de embulia capital sem nem um xingamentozinho sequer. Ouvindo Roberta Sá e Guilherme Arantes. Deixa chover?
E nem um praguejamentozinho ? E o animal atrás buzinando ? OK !
Dei seta pra direita naquele desbunde de água. O amontoado de aminoácidos passou ao meu lado, dirigindo um desses utilitários da moda, com uma cara mais feia do que a do porteiro da boate Hawaí, em Mesquita. Emparelhou comigo e abaixou o vidro. Abaixei o meu também e, antes que ele gritasse qualquer coisa, adiantei:
- Que chuva, não !
Ele não achou a menor graça. Também, com os dois ou três neurônios que certamente estariam malhando ferros em sua caixa craniana, não haveria ligação sináptica suficiente para ele lembrar de Cristina Mullins.
Vamos em frente !
GM

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Disco é cultura...lembranças disponíveis também em Musicassete

Mais de dois anos. Foi o tempo que demorei para criar coragem e começar a folhear a coleção de LP´s que Arlindo me deu.
Mais de dois anos de covardia. Com medo das coisas que ficaram, e que as vezes, em apinéias noturnas, assustadoras, me reassolam. Tiram-me o ar dos pulmões e me preenchem de pânico e dor.
"Perto da minha casa havia um bosque, que um muro alto proibia...", Chico, avassalador, me arrebata de primeira, logo no primeiro disco que pego para desempoerar. Um prensagem de 74. Uma virada.
Segui em frente organizando, redescobrindo e me reencantando. Me emocionei com a redescoberta, em vinil, da obra-prima em homenagem a Vinicius, póstuma gentileza, mas com depoimentos de todos que eram um pouco Vinícius também, e com Van Gogh de Rubem Braga. Redescobri o poema "O Haver", musicado por Edu Lobo, se não me engano.
E foi assim, arrumando e empilhando os discos que descobri dois, deste filho instrutivo de Fernando Lobo, autografados firmemente por uma Bic nervosa, reliquiamente bem conservados, com a grafia orginal dos dedos de Edu Lobo. Um presente.
Como aquele que Arlindo dedica, na capa do disco, a Sérgio, seu irmão doze anos mais velho, e filho da mesma Joaquina que me criou e me fez forte. Um gene português que se verteu em emoção quando escreveu na obra do maestro Don Costa: "Ao mano Sérgio, pelo transcurso de seu 31º aniversário." Era 1967.
Reconheci a grafia dele na hora. Uma letra forte e bela. Confusa como seu signatário. Um Arlindo audaz e dono de toda inteligência e cultura do mundo, mas infeliz como a codorna que voa baixo. Herdeiro daquela tristeza lisboeta de quem partiu pra longe. Seus olhos estavam sempre perdidos, me lembro, na escuridão da sala, apenas da brasa de seu cigarro e da música solitária no stereofônico.
Não dá pra congelar o tempo Arlindo, mas sim é possível descongelar a partida.
Chorei muito. Chorei feio. Solucei e perdi o ar. Entrei em pânico. Fiquei com medo de morrer ali mesmo, com os discos nas mãos e as lembranças nos olhos. Estava só em casa. Adri, longe, com Víctor na cidade. A casa só minha e sozinha, seria um túmulo incauto.

Resolvi e engoli aquele medo. Eram só lembranças.

Quando herdei a coleção de discos sabia da responsabilidade de mantê-los e da dificuldade de encará-los. Tudo viria a tona. Como veio.
Me refiz com meia garrafa de bourbon. Sorri amarelo quando minha mulher chegou. Só parei de tremer uma hora depois, debaixo do chuveiro. Disfarçando as lágrimas com a água encanada.
Era isso.

GM

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Discoteca básica 9

E olha que nossa lista básica, daquilo que merece ser ouvido, degustado e compartilhado, está chegando ao fim. Música é assim. Um pouco você ouve, um pouco você devora.
Segue aqui o especial do dia, para aqueles que tem fome de som, um prato nada feito: Kind of Blue, do gênio Miles Davis.
"Vendeu 6 milhões de cópias desde que foi lançado, há precisamente 50 anos. Com Miles Davis (1926-1991) no trompete, Bill Evans no piano e John Coltrane no saxofone tenor, "Kind Of Blue" - com apenas cinco músicas - viria a tornar-se numa das obras maiores da história do jazz."
Estas palavras precisas do crítico Simão Martins, demonstram a importância histórica do disco, que rompeu com o bebop e marcou a retomada criativa do jazz, as vezes em escalas, as vezes em virtuosismo puro.
Miles é sublime. A audição do disco é uma viagem. Imperdível. Recomendo baixar a luz e sorrir. Silenciosamente a música de Miles vai te mostrar o caminho.
Vamos em frente !

GM