terça-feira, 31 de maio de 2011

Don McLean - American Pie



Nada parecido com o fraco filme americano do fim a década de 70, verdadeiro pastelão de pouco riso e muitos peitos e bundas, a música "American Pie" de Don McLean, tem espaço garantido na recente história da música pop.

Nem tanto pelo disco de mesmo nome, aonde a faixa título era o destaque, mas sim pela própria estória dentro da música.

Quem já teve o prazer de ouvir a canção deve lembrar bem o começo "...long, long, time ago...", era um início de canção que pretendia realmente contar uma cartase.

A trama era e é triste, mas também real:

Em fevereiro de 1959, numa noite muito fria, após mais um show, 03 artistas americanos jovens subiram num bimotor pequeno.

Eram Buddy Holly, Ritchie Vallens e Big Bopper, tres dos maiores destaques da música pop daquele momento.

Não é preciso ir muito longe para entender então a inspiração para aquela canção de Don McLean, comporia e lançaria décadas mais tarde.

Num certo momento ele canta como aqueles músicos eram importantes para ele e em outro como a morte deles foi marcante, a ponto de inspirar a composição de seu maior sucesso.

Don McLean não é um grande astro da cultura pop e nem um grande vendedor de discos, mas esta canção, linda por sinal, é um registro honesto de um caso de amor entra a boa música e o bom artista.

Recomendo ouvir.

GM

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Jazz, a verdadeira história

A história do jazz !

Incrível publicação da editora Duetto em parceria com a Livraria Cultura.

Os livretos vem juntos (04 por vez), dentro de box com acabamento nobre e farto material histórico e jornalístico.

Cobriram tudo, desde os primórdios e do início do jazz em 1890 até a estruturação refinada de Miles Davis, passando pelo grande Louis Armstrong, verdadeira força motriz do gênero.

Cada livreto vem acompanhado de DVD com imagens de época, sem ser datadas e com registro biográfico.

Imperdível !

Recomendo !

GM

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Stevie Wonder e Milton Banana Trio

Duas rapidinhas, mas muito bem dadas:


1. Stevie Wonder

Este fim de semana tiver o prazer de ouvir o disco Talking Book, do mágico Stevie Wonder. Um disco histórico e que deveria fazer parte da discografia básica de qualquer mortal que goste de boa música.

A capa é tranquila...uma foto do Stevie sem óculos sentado num chão de seixos.

O grande destaque do disco, na minha opinião, é a emblemática "You Are The Sunshine Of My Life". Acho que ele deveria estar muito apaixonado quando escreveu os versos e compôs a melodia desta obra.

E, por outro lado, a mulher deveria ser linda, cheirosa...gostosa...educada, calma, foguenta, sexy, elegante, inteligente...gostosa...perspicaz, sensível, amorosa...gostosa...carinhosa, companheira e doida por sexo.

Assim, serviria de inspiração perfeita para uma canção como esta.

Acho esse, de longe o melhor trabalho de Stevie Wonder.

Recomendo, Talking Book de 1972.

2. Milton Banana Trio

Um verdadeiro achado arqueológico !

Encontrei num sebo de Campinas o disco Milton Banana Trio, de 1968, só com clássicos de uma bossa e MPB que já não se faz mais.

Quando moleque, meu tio me contou uma estória do João Gilberto que dizia que antes de gravar com Stan Getz o clássico "Getz/Gilberto", que ganhou 06 Grammy, João teria dito ao produtor que só gravaria com o "gringo" com duas condições:

a. Se fossem todas canções de Tom Jobim;
b. Se o baterista fosse Milton Banana.

Nunca entendi direito a razão, mas agora após ouvir esse monstro da bateria compreendi totalmente.

O cara, como músico, estava no mínimo uns cem anos à frente de seu tempo !

Recomendo, Milton Banana Trio, de 1968.

GM

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A última música, do último lado, do último disco dos Beatles





E qual seria, de verdade, o último disco dos Beatles ?

Esqueça as regravações e coletâneas comerciais. Abandone as antologias e os "naked", feitos para caçar níqueis.


Falo do último disco de verdade dos Beatles.


Qual seria ?


E qual seria a última faixa do lado "B" do último disco dos Beatles ?


Quem gosta de rock, e consequentemente de boa música, sabe que o lado "B" dos discos sempre foi motivo de fetiche para os artistas e para os ouvintes.


Era sempre no lado "B" que as bandas registravam suas mensagens codificadas, suas letras mais obscenas e suas forças mais ocultas e bonitas.


A última faixa do lado "B" então, era sim, o verdadeiro espaço da contra e da pró-cultura. Era ali que bandas e artistas como Joy Division, Cure e Neil Young, acolhiam seu legado musical.


Muitas pessoas afirmam que Let it be, de 1970, foi o último trabalho autoral dos Fab Four.


Outros, mais atentos, afirmam que foi Abbey Road, de 1969.


Qual seria de fato ?


Tenho minhas convicções, baseadas em muita audição e alguma leitura.


A publicação da Larousse "The Beatles, Gravações Comentadas e Discografia Completa", organizada por Jeff Roussel em 2005, meu deu pistas interessantes.


Descobri, por exemplo, que Let it Be era parte de um projeto maior que envolvia um filme de bastidores e músicas compostas entre 1967 e 68 e que se chamava Get Back.


Muita discórdia, discussões sobre grana e direitos autorais e a presença oxidante de Yoko nos estúdios levaram ao óbvio.


Além disso, eles brigavam tanto durante este projeto que o mesmo simplesmente não aconteceu.


Foi engavetado numa câmara mortuária.


George Martin, desesperado, compilou, arranjou e organizou um arrazoado de sobras de estúdios e de gravações, as vezes, individuais, dos quatro e, rapidinho, lançou como um álbum duplo.


Era o que o mundo conheceu como o Álbum Branco dos Beatles, de 1968. Obra prima da pós-fase Hindu.


Depois disso as gravações que ainda existiam e não tinham sido lançadas, deram lugar aos incríveis Abbey Road e Let it Be (oficialmente penúltimo e último trabalho autoral da banda).



Mas a verdade não era bem essa.


Let it Be, por exemplo, não foi produzida por George Martin e ficou tão ruin que muitos anos depois teve que ser relançada, com o nome de Let it Be Naked, sem as mudanças que o produtor substituto alucinara em 1969.


Então, por assim dizer, já sabemos que o último disco dos Beatles foi, na verdade o Álbum Branco (que tem pérolas como "Blackbird") e a última faixa, do último lado, do último disco dos Fab foi..."Good Night"...seria sugestivo ou apenas a já famosa sina do lado "B" falando mais alto e apontando o destino ?


Não sei.


Sei apenas que com este "boa noite", a carreira da banda que revolucionou a música e o comportamento no século XX estava terminada, para sempre.


E que falta esses caras fazem !


GM












quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma receita contra o mau humor e a dor de cabeça

Funcionou comigo e por isso compartilho com vocês.

Depois de uma viagem inumana de Poços de Caldas à Sorocaba, de carro, com direito a uma rápida parada na pequena, feia e belíssima Aguaí, fui surpreendido por uma dor de cabeça animal e por uma crise de mau humor Elizabetana.

Então, já em casa, para não estragar a noite da bela a quem tanto amo e da ferinha que me aguardava querendo brincar, ataquei:

1. Banho morno de 20 minutos, ouvindo Cartola;
2. Duas taças de um malbec argentino qualquer, desde que seja um bom qualquer;
3. Dois copos de água fria...não gelada;
4. Um disco inteiro do Cat Stevens, antes do jantar;
5. Após o jantar, uma sessão de 15 minutos de cafuné...daqueles bem devagarinho.

O mau humor foi embora...a dor de cabeça virou lembrança...e me deu uma baita preguiça de levantar do sofá.

Recomendo.

GM

terça-feira, 10 de maio de 2011

Um bom tinto rapidinho

A trabalho em Poços de Caldas/MG (ninguém merece !), jantando sozinho no Caipira's (ninguém merece...mesmo !), resolvi experimentar um cabernet sauvignon legitimamente brasileiro.

Pedi um justo e bem apresentado Miolo Seleção, safra 2009, na versão de 1/2 garrafa e me fiz acompanhar por uma generosa porção de lasanha caipira....especialidade da casa !

Pé na jaca total !

O vinho estava aveludado, desceu fácil. Sua estrutura era simples mas, apesar disso ou graças a isso, ali estavam todos os atributos que sempre busquei num tinto amigo e honesto.

Quanto mais eu mergulho no mundo dos tintos brazucas, mas eu me sinto à vontade !

Saúde !

GM

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Play it Again, Sam...Victory (ou Fuga Para a Vitória)... e Take Five



Casablanca

Foi Zuza Homem de Mello quem disse, ou melhor, escreveu no Correio de Campinas na edição deste domingo: a frase mais recordada e repetida da história do cinema nunca foi dita.

E com muita propriedade e alguma pesquisa, este culto jornalista reproduziu em sua matéria, até os diálogos entre Ilsa Laszlo (Ingrid Bergman - sueca) e o pianista Sam (Dooley Wilson, na verdade cantor e baterista e que não sabia um único acorde ao piano).

De fato a bela mulher em nenhum momento diz "Play it Again, Sam...". A frase passa perto disso, mas não é isso.

Efeito Denorex, numa das mais belas cenas da história cinematográfica.

Casablanca, de 1942, entrou no inconsciente coletivo de qualquer um que saiba reconhecer um pedaço de película no chão.

Já do shampoo não se pode dizer o mesmo.

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Victory

No domingo íamos assistir ao filme Pelé Eterno, em DVD.

De tanto falar no rei, meu filho ficou curioso. Voltamos de Campinas e o filme ficou na prateleira de Sherlock, meu sogro preferido.

Já em casa me lembrei de um filme razoável, rodado em 1982, com a atuação de Pelé, ao lado de Silvester Stallone (ainda magrinho) e Michael Caine.

Por sorte estava bem conservado.

Na fita, um grupo de prisioneiros de guerra é desafiado pelos nazistas para uma partida de futebol. Pelé faz de suas artes, com direito a gol de bicicleta e Stallone (sem bomba) é o goleiro frangão que se redime no final.

Cenas imperdíveis: todas de Pelé, sempre, e a cena em que todo o estádio canta, a altos brados, o hino francês em sinal de revolta e resistência à ocupação nazista.

Fraquinho, mas recomendável.

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Take Five

Paul Desmond e Dave Brubeck não deveriam ser músicos de jazz.

Na verdade, deveriam ser professores de matemática.

Música de Desmond e interpretação de Brubeck e seu quarteto, a obra-prima Take Five é como um tratado de cálculo diferencial: pela perfeição, pelo profundo conhecimento de composição de quem a sonhou e pela beleza extrema de seu todo.

A começar pelo difícil compasso 5/4, a passar pela incrível simbiose entre o contra-baixo e a bateria e a terminar pelo conjunto.

Moderna desde 1959, parece uma espiral infinita. Se você a escutar prestando muito a atenção certamente terá aflição e ansiedade.

Recomendo ouví-la baixinho, ignorando as harmonias e prestando atenção apenas à melodia e à taça de vinho, que certamente estará á sua mão.

É conforto certo.

GM

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Alguém para dividir os sonhos



Era uma noite de insônia. Brava, daquelas de dar raiva do travesseiro.

Um hotel modesto em Niterói, com cama dura, de sogra, não ajudava muito.

Desistindo de dormir, depois de alguma luta, me estiquei na cama e liguei a TV.

Procurei qualquer coisa que me fizesse esquecer a obrigação de dormir. Qualquer coisa mesmo.

Numa sessão madrugada de um canal qualquer, reencontrei um filme fantástico.

"Alguém Para Dividir os Sonhos", um filme emocionante, que, mais uma vez, me fez rever alguns valores, enquanto dividia meus pensamentos com um travesseiro cheio de ácaros.

Em geral não gosto do trabalho de Matt Dillon. Sempre o achei um ator canastrão, daqueles que tem o mesmo gesto e o mesmo olhar para qualquer tipo de cena e personagem.

Danny Glover também nunca esteve entre os meus preferidos, apesar de todo seu esforço em "Máquina Mortífera".

Desta vez foi diferente, de novo.

Neste filme, Matt Dillon emociona até o mais frio expectador, numa estória onde um homem busca reencontrar sua fé na vida, nos amigos e em si mesmo.

Danny Glover é a moldura e a escada que proporciona tudo isso.

Um filme impressionante, ultra-atual, apesar de seus 18 anos de lançamento.

Recomendo sem medo de ser feliz.

GM

quarta-feira, 4 de maio de 2011

1968

Tudo bem, eu nasci em 1968.

Num quase distante 07 de setembro, na Gambôa, bairro do Rio antigo, perto da zona portuária e da Pedra do Sal, berço do samba.

Mas qual...não é nada disso o motivo deste post. Não é saudosismo e sequer é uma bobagem autobiográfica qualquer (desculpe, Fiuk...!).

Trata-se da trilogia 1968. Uma trilogia diferente, pois foi escrita em épocas diferentes e por escritores diferentes.

Começo pelo clássico "1968: o ano que não terminou", do Zuenir Ventura. Uma abordagem corajosa sobre a mudança da percepção e do comportamento humano, no limiar dos anos 60 e no auge da repressão.

Praticamente a invenção do pop, nas letras brasileiras.

Passo para "1968: o ano que abalou o mundo" do Mark Kurlansky. Um retrato fiel das mudanças políticas e geo-econômicas, que tiveram início com o advento da "primavera de Praga".

A 1ª revolução jovem do mundo.

Finalizo com "1968: eles só queriam mudar o mundo" assinado por Zappa & Soto. Uma narrativa muito gostosa das mudanças que a música e o cinema legaram aos jovens que tinham espaço na cabeça para qualquer coisa, além de LSD.

Recomendo os três para leitura.

Para acompanhamento, abra um bom e jovem Merlot, acrescido de porções generosas de um bom queijo da Serra da Estrela.

Para deleite dos ouvidos, espete um bom vinil dos Beatles, de preferência "Sgt. Pepper's".

Relaxe na poltrona e deixe rolar...é melhor do que qualquer coisa !

Boa leitura !

GM

terça-feira, 3 de maio de 2011

Vinicius de Moraes



Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes.

Vinícius de Moraes.

Poeta, poetinha camarada.

Vinícius é a poesia viva que feita em música por Tom, Toquinho, Baden, Chico entre outros poucos afortunados, fez melhor e mais humana, a vida daqueles que tiveram a sorte de lhe ouvir.

Ele era meio alquímico. Transformava uma tarde qualquer, num pé-sujo em Ipanema, numa poesia romântica, digna das notas de um Tom ou de um Bach.

Vivia de bar em bar, buscando os melhore tons para sua poesia.

De olho em musas como a então menina Leila Diniz, escreveu declarações de amor a todas as mulheres, e nos braços de muitas se realizou.

A discografia é imensa e não é meu objetivo aqui falar disso. Se alguém quiser matar a saudade do poeta-canção, recomendo ouvir "Chega de Saudade"...minha aliteração foi mero acaso...juro !

Minha proposta aqui é relembrar uma estória engraçada de nosso Vinícius, diplomata cassado por generais de pijama, teimoso em sua escolha pela boemia e pelas mulheres bonitas.

Diz a lenda que certa noite, na casa da Gávea, estavam Tom, Vinícius e Chico bebendo, muito, whiskey do bom e gargalhando alto às escolhas que cada um fez na vida.

Em dado momento Chico teria perguntado, meio que na galhofa, sorrindo bonito e com ar de cachaça, a Vinícius o que ele faria se tivesse uma segunda chance nesta terra, uma chance para recomeçar do zero.

Teria então respondido Vinícius:

"Amigo Chico, se eu morrer amanhã e Deus achar por bem me mandar de volta, pediria a Ele para que as coisas fossem exatamente como foram até agora...e que Ele me mandasse de volta exatamente do jeito que sou...apenas com uma pequena diferença: me faria um homem com um pau um pouquinho maior..."

Todos explodiram em gozo e gargalhadas. Abraçaram-se forte. Os três.

Vinícius foi-se meses depois disso, deixando a MPB orfã de poesia e o Brasil mais seco de bom humor.

O espaço que ele deixou ainda não foi preenchido. Talvel não o seja.

Um brinde ao poeta !

GM

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O que Boca Livre e Hank Willians tem em comum ?










O que o incrível e finito grupo de MPB "Boca Livre" tem em comum com o pai do "country & western", Hank Willians, falecido há muitas décadas ?





Muitas coisas.




"Jambalaya on the Bayou", canção seminal do "C & W", seria uma das respostas.





"João Balaio", deliciosa versão de João Bosco, gravada pelo "Boca Livre" no disco antológico, zerado e fora de catálogo "Boca Livre em Concerto", de 1989, seria certamente outra resposta válida.





Mas acredito que CORAGEM seria a opção mais justa.





Hank Willians teve a coragem de fundir, em 1938, elementos do country com rudimentos do gospel para germinar, contra tudo e contra todos, o distante rock'abilly.





"Boca Livre" ousou contra a censura dos anos de chumbo, gravou e fez shows sob ameaças do DOI-CODI e revolucionou a estética musical brasileira de 1978 até a primeira metade dos anos 80.





Com sua formação original (Maurício Maestro, Zé Renato, Cláudio Nucci e David Tygel) influenciou gente do quilate de "Cor do Som", "Quinteto Violado" e "Raíces de América".





Seguiu em frente compondo verdadeiras obras de arte e vendendo muito pouco, infelizmente.





O grupo acabou em 1995, após gravar com a banda de rock progressivo "Yes" e de lançar dois discos no mercado americano, muito bem aceitos pela crítica.





Uma irreparável perda num cenário musical cada vez mais pobre, cada vez mais vazio, cada vez mais pop, cada vez mais Lady e cada vez mais Gagá (com acento no último "a").





Se vc deseja realmente evoluir de um punhado de moléculas conscientes para uma forma mais astral, ouça, pelo menos, uma música do "Boca Livre".





Recomendo.




GM