quarta-feira, 30 de maio de 2012

Pátria amada, Brasil !

O Brasil é um país em camadas.


Camadas tecidas e erigidas ao longo de mais de 400 anos de práticas de favorecimentos, favoritismos, acordos e cochichos ao pé do ouvido.

No começo, o sotaque era luso-brasileiro. Bigodes pontudos e sebosos, além de cacarejos de alcova.

Hoje e já ontem, o sotaque soa diferente. Soa miscigenado e equalizado. Homogeneizado na busca igual por dinheiro e poder.

É o sotaque brasiliense.

Sotaque que não representa a bela e concreta cidade. Mas sim os corpos que habitam aqueles paletós de colarinho sujo, tão vistos e usados em suas dependências congressistas.

Isto tudo gera raiva e sentimento de impotência. E nos leva à conclusões primárias e doloridas:

O Brasil precisa da corrupção ! O Brasil é pai e mãe da corrupção ! O Brasil respira corrupção !

Sem ela, a beladona, o país vai travar. Escolas vão ficar sem giz. Hospitais minguarão sem medicamentos. Tijolos faltarão em canteiros de obra.

Nossas licitações manipuladas representam o alimento que mantém e o cimento que comprime as estruturas.

Sem corrupção, os prazos para compras públicas serão prescritos. Vencidos de propósito, para que se entre em regime urgente de compras. É nessa hora em que se compra pelo litígio da própria constituição. Na urgência mesma em que se dispensam os orçamentos preventivos, os pregões e a seriedade do processo.

Tudo em nome de uma urgência que nunca existiu. Urgência prevista e manipulada.

Somos o país das chacinas e do caos aéreo.

Aonde se ouve em qualquer saguão de embarque, de qualquer aeroporto de banheiros sujos e sem iluminação, vindo da boca de qualquer turista latino e sul-americano, irritado com atrasos e cancelamentos: “País de mierda !”

Somos a nação dos acordos. Acordos para votações. Acordos para liberação de verbas. Acordos para eleições. Acordos para depoimentos. Acordos para acordos.

Em nossa terra cantam os sabiás e batem asas as CPI’s manipuladas. Num exercício patético de uma falsa democracia. Praticada por gente despreparada e rasa.

Por aqui o discurso político é sem sentido e risível. A graça acontece pela imbecil desorganização das ideias de quem fala e pela idiota e errada aplicação da língua portuguesa.

Pobres e pobres professores !

Nossos políticos são semianalfabetos. Graças ao estado de coisas que eles ajudaram a erguer e manter.

A impunidade verde e amarela e o despreparo de políticos de carreira no exercício da função, gera um ciclo vicioso, cheio de absurdos gloriosos e de degeneração autoimune.

Somos a quinta da impunidade e a sede mundial da falcatrua desmedida.

Pra frente Brasil !

A máquina imbecilizante do carnaval, do funk, do axé e da TV sem qualidade, ajudam a manter um constante estado de torpor. A leitura foi substituída por imagens. O diálogo foi banido pelas mensagens de texto. E a consciência e cidadania ficaram perdidas e confusas, entre uma festa rave e mais um capítulo da novela.

O cenário é propício para o gado de corte, não para homens !

A corrupção é o motor do crescimento do Brasil. Nela, pequenas células cancerígenas mutantes se transformam, evoluem e mudam de nome e cor. Às vezes se chamam vereadores, às vezes deputados e algumas vezes até se proclamam presidentes.

Isto está mais para metástase do que para metamorfose.

E o cidadão segue o féretro, em frente, tranquilo, sob analgesia. Manipulado algumas vezes. Consciente em outras. Lesado em seus impostos regiamente pagos, sempre.

Contente e feliz, o povo esboça um sorriso amarelo numa boca de poucos dentes e confere, no relógio, a hora em que termina o Jornal Nacional. E sem saber para onde, segue em frente mais uma vez.

Um cidadão sem crítica constrói um país sem vergonha.

Pode curtir. Nós merecemos !

GM

terça-feira, 29 de maio de 2012

Na noite em que conheci o Libertango


Fazia 09°C em Campos do Jordão.

Noite agradável.  Nada comparado ao frio intenso de outras vindas a Campos.  Noite propícia para o bom ócio e para os bons amigos.

Na dica sempre certeira do amigo Anderson Micai, seguimos em direção a galeria Geneve, em Campos, e lá chegamos ao nosso destino, pouco depois das 15h00m, o delicioso restaurante Libertango.

Almoço tardio.  Regado a 02 excelentes garrafas de vinho.  Um bom malbec e um ótimo cabernet.

O proprietário da charmosa casa de 09 mesas, pilotava um parrilha argentina, construída sob medida e disparava a todo instante olhares  amigos de boas vindas e alegria, por estarmos juntos alí.

Quando nos recebeu, à porta da casa, nos disse ternamente que era uma honra para ele estarmos presentes.

Galanteio portenho na boca de um bom brasileiro !

Comemos a melhor carne da qual posso me lembrar, nestes tantos anos de peregrinação gastronômica.

Afirmo sim, sem medo de errar !

Bebemos.  Depois bebemos de novo.  E seguimos então para a varanda da casa, acompanhados desta vez pelo filho mais velho do amigo parrilheiro.

Sentados sob o frio gostoso de Campos encontramos Tito.  Jovem de 55 anos, contando já 41 dedicados a arte do bom violão.

Nos acompanhou em mais duas garrafas de vinho e nos brindou com muita bossa nova e MPB de qualidade. 

Foi um show particular, deste músico da noite, com obras já gravadas e participações em especiais de TV e rádio.

Uma noite memorável, na compania de amigos memoráveis, Gláucia e Anderson, que nos acompanharam como cúmplices naquilo que a vida oferece de melhor: família e amizade.

GM

terça-feira, 22 de maio de 2012

Quando um homem precisa tomar uma providência, uma atitude ou uma decisão


Chega um momento na vida de um homem, em que é preciso se movimentar.

Toda uma sorte de deveres, de compromissos e de posicionamentos, e mais uma centena de coisas adversas, levam o homem, verdadeiro alpha dominante, a tomar uma atitude, uma providência ou uma decisão.

Então  vamos analisar cada uma delas.

Primeiro a Atitude.  Uma cachaça acessível no paladar e no preço.  Oriunda de Goiânia, pode ser encontrada na versão garrafa tradiconal de 600 ml, com rótulo clássico, ou na versão moderna, garrafa estilosa e rótulo adesivo vertical.

Paga-se menos de R$ 30,00 por uma unidade.

Não é envelhecida.  Tem coloração branca e aroma adocicado de mosto sucro-alcooleiro.  Recomendo para quem dela necessitar.  Seja a razão qual for.

Melhor não perguntar.

Depois vem  a Decisão.  Uma peça e tanto.  Oriunda da cidade mineira de Sabinópolis.  É armazenada em tonéis de bálsamo, seja lá o que isso queira dizer, tem coloração amarela em tons suaves. 

Posso afirmar que o sabor é incomparável.  O aroma é doce e a descida garganta abaixo é arredondada, como um poema de Bandeira.

Acessível em seus R$ 25,00 é apresentada em garrafas de 600 ml, incolor. 

Recomendo para aquelas criaturas que apreciam a tradição de uma boa cachaça. sem o pedantismo ofegante de um cana-chato.

E finalmente, a Providência.  De longe a minha preferida.  Fabricada no interior das Minas Gerais, na pequena Buenópolis. É envelhecida em tonéis de carvalho e depois envasada, com muito carinho, em garrafas de 600 ml âmbar e, também, incolor.

Aroma equilibrado e sabor marcante.  Ao degustar esta cachaça, lembre de todo aquele trabalho que te espera na mesa do escritório e, como diria o bom e velho filósofo popular Bob Charles Braga, mande tudo pro inferno !

Essa sim, é uma providência que precisamos tomar.

GM

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Gamboa, berço da boa malandragem carioca



Eu nasci na Gamboa.

Senador Pompeu, 51.  Bairro da Saúde, pertinho da Zona Portuária. 

Um cortiço que abrigou famílias portuguesas que vieram trabalhar na edificação de um Rio de Janeiro, que crescia rápido, nos caminhos de Pereira Passos.

Nasci na rua onde morou Chiquinha Gonzaga e João da Baiana.

Brinquei a infância nas pedras das ruas da Conceição, Camerino e da Ladeira Pedro Antonio.  Subi e desci o Morro da Conceição, centenas de vezes, sem nunca ter observado malvadeza ou desvario.

A Lapa levou a fama, mas foi mesmo a Gamboa que foi o berço do samba e da boa malandragem.

Cantada pelos modernos Chico, Bezerra da Silva e Dicró e referenciada pelos eternos Donga, Heitor dos Prazeres e Sinhô, a região da Gamboa e da Cidade Nova sempre foram os alicerces do samba e da raiz.

Que assim o diga a Pedra do Sal, ali tão pertinho da subida da Conceição, do Valongo e da Sacadura Cabral.

Ontem, se não fosse pelas lembranças tão vivas daqueles tempos de infância, brindados na Gamboa, teria me perdido em meio a tanta reforma, construção e desordem urbana que hoje ali se vê.

De dentro do táxi, fui orientando o condutor, bom vascaíno: vira aqui, atravessa alí, estaciona lá...de forma que pudéssemos sair do aeroporto Santos Dumont e chegar na Praça Mauá, a tempo de meu compromisso.

Alguma coisa estava mudada e muita coisa permanecia igual.  Inclusive o aroma do ar, o prédio da Noite e a Ladeira do Escorrega.

A Gamboa está viva, ainda, mesmo que muitas autoridades incompetentes insistam em sufocá-la.

Viva na boa malandragem e no sorriso de João da Baiana, aonde que que ele esteja.

GM

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Lee Jackson e o samba-rock


Eu gostava de atribuir a invenção do samba-rock a Jorge Ben, aquele que se tornou Benjor.

Aquela batida e levada diferente no violão e na guitarra, geralmente sempre muito bem acompanhada dos ótimos músicos da "Banda do Zé Pretinho", era marca registrada do bom e velho "Babulina".

Ele também gravou um disco  (de muitos)  antológico chamado "África-Brasil", do qual me orgulho de enfileirar na prateleira e espetar na agulha da pick-up, a todo momento.

Mas, ao que parece, o samba-rock não foi de fato inventado por ele.  Nem por ninguém.

Eu não estava buscando provas para fundamentar esta tese fraquinha, mas, meio que sem querer, caiu em minhas mãos um disco que ajuda um pouco a reescrever esta história.

Falo do disco "Bill Halley presents: Lee Jackson, featuring Samba-Rock" de 1976.  Um disco que não era apenas  de samba-rock, seja lá o que isso queira dizer, mas sim, uma fusão de samba, baião e forró com o rock tradicional.

O velho Bill Halley acompanhou as gravações e posou para as fotos.  Apenas.

A banda Lee Jackson era composta, em seu núcleo base, por Dudu França, Luiz Carlos Maluly e Marcos Maynard.  Desses três, dois (Luiz e Marcos) se tornaram grandes executivos de gravadoras, em Portugal, México e Brasil.

Já Dudu França virou poeira inter-estelar.

Muito interessante o disco.  Bons músicos e arranjos curiosos que mesclam Stones com Valdir Azevedo.  Luiz Gonzaga com Ray Charles.

Peça rara.  Mas se você conseguir uma cópia, dando sopa, incauta, por aí...compra logo e escuta com calma.

Vai ser uma grata surpresa.

GM

terça-feira, 15 de maio de 2012

A progressiva e irreversível degradação da música popular brasileira


Eu sei.

Não ouvimos mais Tom Jobim nas FM´s brasileiras.

É verdade.  Também Chico e Caetano estão ausentes.

Foi como por água no vinho.

Boa música ?  Para  ouvir em casa ?  Se não for comprada em algumas já poucas lojas do ramo, no formato CD, DVD ou quem sabe até numa boa reprenssagem de vinil...esqueça.

As rádios já não tocam mais música.  Tocam barulho.

E o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?  Perguntaria uma também ausente Rita Lee.

Não vende.  Não faz a "cabeça" da juventude.  É complexa demais.  Não balança.

A MPB se tornou música "prapular brasileira".  Doa a quem doer.

Os idiotas que promoveram isso não conhecem música.  Conhecem apenas o mercado musical.

Enquanto este cenário não mudar, durma com um barulho incrivel, abrace Michel Teló, beba sertanejo universitário, ame tecnobrega e faça amor com o inexplicável funk carioca.

Ou...mantenha o rádio desligado e visite mais lojas de discos.

GM



sexta-feira, 11 de maio de 2012

A saga da Thanos...contra o X-Box 360 ?


Navegar nas páginas físicas do universo Marvel, foi uma das mais relaxantes atividades de lazer, de minha geração.

Idos de 1980. 

Ainda se respirava a atmosfera verde-oliva das casernas no comando da coisa pública.  Brasília era um distante quartel-general.

A pequena editora RGE detinha os direitos de publicação no Brasil, para toda a criatividade de Stan Lee.  Todos os heróis Marvel e suas estórias em quadrinhos emocionantes, eram repoduzidas aqui pela RGE.

Assim o foi até meados de 1983/84, quando a poderosa Editora Abril comprou os direitos de publicação.

A qualidade física de encadernação, editoração e arte-finalização melhorou muito.  O repertório das estórias também.

Foi neste período que, aos poucos, fui conhecendo personagens marcantes como "Os Vingadores", "X-Men", "Tropa Alpha", "Demolidor", entre tantos outros.

Numa dessas idas ao jornaleiro do bairro comprei uma edição (se não me engano a 1ª) da revista "Grandes Heróis Marvel - GHM").  O ano era possivelmente 1985 ou 86.

Nesta edição e nas três seguintes, pude ler a primeira saga do vilão Thanos, o mesmo que vai protagonizar a trama do filme "Vingadores II", previsto para 2014.

Eram todos os heróis da Terra, contra Thanos.

Thor, Capitão Marvel, Vingadores, Visão, Serpente da Lua, Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, Gavião e tantos outros que levaram muitos sopapos do titã, filho de Mentor e irmão de Eros, até que o quase moribundo Capitão Marvel, descobrisse que bastava destruir o cubo cósmico, para que o vilão Thanos fosse derrotado.

A  estória, lida em quadrinhos, era fascinante.  Tenho certeza de que quando for reproduzida nas telonas também o será.

Dei muita sorte em achar as três revistas num sebo de Campinas e presentear meu filho, que as leu com alguma curiosidade e depois largou aquelas preciosidades num canto qualquer do quarto dele.

Ah...como eu detesto o X-Box 360 !!!

GM

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Aero Seven, o som de Emílio Martins


Ouvi Aero Seven, do excepcional percussionista, baterista e, as vezes, bom violonista e baixista, Emílio Martins.

Na verdade ouvi 06 vezes.  O belo disco do bom Emílio tocou repetidas vezes na viagem de São Carlos a Itu, na última terça-feira.

Sempre que acabava a última faixa, eu e minha mulher, comigo no carro, trocávamos olhares cúmplices e, deixávamos tocar mais uma vez.

O disco está lindo.  Um obra em camadas, que vai te conduzindo passo a passo, instrumento a instrumento, por uma viagem de imagens musicais.

Obra sensível e bem acabada.  Trabalho instrumental, mas extremamente acessível e belo.  Nenhuma nota está perdida alí.  Todas as harmonias fazem  sentido, musical e artístico.

Faz justiça ao legado da boa música intrumental brasileira, de Eumir Deodato a Castro Neves.  O disco de Emílio Martins não é pedante e nem pretensioso.  É uma obra instrumental macia, agradável e bela. 

Recomendo, para que gosta de música de verdade. 

GM