quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Bem rapidinhas, mas muito bem dadas...

1. Fernando Pessoa:

Ontem, li um poema de Fernando Pessoa, enquanto ele mesmo, que aprofundava na carne a percepção que a alma do homem tem, a respeito do corpo da mulher.

Dizia o luso poeta:

"...e não hei de querer amá-la posto que é comum e trigueiro, mas sim hei de devorá-la, até fazer sangrar a ponta dos mamilos...até que não haja um único lote de pele que não tenha sido mordido...".

E o tarado e imortal poeta seguia mais em frente, em seu soneto, desnudando dimensões eróticas na visão física das mulheres que amamos:

"...e quando cansados, dormindo valentes por entre coxas meladas, que não nos sobrem ares de insatisfação, tanto nelas quanto em nós, mas que nos  falte o fôlego, perdido para sempre, expulso dos pulmões em tosses, caminhando ligeiro pela boca, com destino certo, através do lábio e da língua: o caminho sagrado do que é guardado entre as pernas das mulheres que sonhamos...".

Eu já tinha lido antes algumas poesias adultas de Drummond e de Bandeira.  Mas acho que o portuguesinho magricela e bigodudo superou a ambos.

O cara era bom.  Tarado, mas bom.

2. Hotel Ibis:

Meus amigos cansaram de me avisar que o Ibis não tem relação custo x benefício, e sim custo x malefício.

Me hospedo na rede há anos e me divirto sempre com a falta de foco daquelas criaturas.

A rentabilidade não vem da redução de custo.  A redução de custo é um periférico, importante, mas suburbano.

A rentabilidade vem do bolso do cliente.  Que volta.  Sempre.  Desde que esteja feliz.

Temos uma brincadeira lá em Itu para comparar o serviço do Pão de Açúcar, com o do Carrefour.  É bem simples.

Uma grande amiga, esposa de um grande amigo, fala assim: "...Carrefour: lugar de gente infeliz...".

Adaptei o conceito para o Ibis:

a. Cena 1, no check in:

- Boa noite, reserva para Gilberto de Moura, por favor...

Uma criatura do sexo feminino, de cabeça baixa, sem me olhar, resmunga:

- O sr. pode estar aguardando um minutinho ?

Provavelmente o retorno de Katrina ou de um outro, de intensidade 4 pelo menos, se anunciava.

Respirei fundo e respondi:

- Sim.

02 minutos depois, a criatura finalmente levanta os olhos e diz:

- Pois não, senhor ?

E eu digo:

- Pois não, o quê ?

E ela diz:

- O Sr. já foi atendido ?

Pressão 16 x 12.

- Não, você não me atendeu...

E a corajosa insiste:

- Ah...pois não, então ?

(...)

Engoli minha pré-raiva e disse, de novo:

- Reserva para Gilberto de Moura, por favor...

Então, brilhantemente, aquele aglomerado de moléculas uniformizadas reponde:

- É o senhor mesmo ?

Jesusmariajosé...

b. Cena 2, no jantar:

Desci para o jantar as 19h30, mais ou menos, pois queria voltar para o quarto logo, para me  conectar na web.

Após fazer meu prato e escolher um mesa longe da TV, chamei o garçon (que estava num papo animado com outras duas pessoas)...chamei de novo, de novo  e de novo.

Ele veio.

Pedi um vinho e uma água mineral sem gás e sem estar gelada, ou seja, ao natural.

O vinho veio e a água não.  Pedi de novo a água.  Ela veio...gelada.   Tentei explicar que queria a água sem gelo, ao natural.  O garçon, um misto de Ralph Macchio com Amelinha, me disse que todas as águas minerais do hotel eram naturais.

Me calei perplexo...

c. Cena 3, café da manhã:

Desci animado depois de uma noite de sono cheia de sonhos interessantes. 

Fui direto ao salão do café (que também é de jantar, que também é bar, que também é anexo do lobby...) e na entrada, fui chamado ásperamente por uma criatura de uniforme sujo:

- O senhor precisa assinar...
- Assinar o que ?
- O controle de café !
- Mas eu já paguei o café no check in...deixei todos os dias pagos...
- Mas o senhor precisa assinar...
- Minha jovem, o controle de fluxo para café da manhã é trabalho do hotel...não do hóspede...!
- O senhor pode estar reclamando na recepção, mas o senhor tem que assinar !
- (...)...(...)...(...)... = perplexidade infinta, que levou alguns segundos.
- É só assinar senhor...

Assinei.

d. Cena 4, ainda no café da manhã:

Já sentado, reparei que a faca estava suja, com manchas típicas de talher que após passar pela lavadoura, não foi bem enxaguado, então ficam manchas de detergentes, secas.

Não chamei o garçon, pois achei que ele pudesse demorar de novo e de novo.

Andei até um funcionário uniformizado e pedi, educadamente:

- Por favor, troque esta faca que está suja. Obrigado.
- Senhor, esta faca não está suja.

Olhei no fundo do nervo ótico daquela criatura pequena e franzina na minha frente e perguntei:

- Esta faca está limpa ?

Foi então que Gioconda, quase 600 anos depois, sorriu amarelo:

- Não senhor, ela não está limpa, mas também não está suja !

Recuei atônito, afônico, incrédulo, pasmo, mas ainda rubro-negro.

Respirei fundo e pensei:

- Dane-se o Vasco...!

GM


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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma caminhada pelo Centro Histórico do RJ



De novo no Rio.

Desta vez à trabalho.  Cheguei cedinho e fui direto atender meu compromisso profissional.  Cheguei sem sequer abençoar a linda paisagem de pouso do Santos Dumont.

O mais lindo pouso de aeronave, que um pequeno aeroporto poderia proporcionar. 

Cheguei um pouco tenso.  Agenda cheia de compromissos na parte da manhã e à tarde também.  Seria mais um dia intenso.

Mas ao meio-dia não !  O almoço estava livre !

Liguei para meu irmão Roberto e decidimos almoçar juntos.  Eu estava no Centro, próximo a Praça XV.  Ele também estava no Centro, só que um pouco distante, na altura do 43 da histórica e cansada Av. Rio Branco. 

Por alí tudo é história.

Combinamos o horário e decidimos almoçar num daqueles restaurantes simples e deliciosos do Centro, bem pertinho do Arco do Teles.  Espaços herdados de famílias portuguesas que souberam manter viva a tradição de um arroz branquinho, um picadinho carioca e um porção generosa de feijão preto.

Minha boca se manifesta, como se estivesse vendo de perto uma mulher carnuda !

Decidi ir caminhando.  Saindo de onde estava, levaria uns bons 25 minutos andando pelo Centro.  Uma aventura caótica e definitivamente necessária.

Saí da Praça XV, cruzei o Paço Municipal e me perdi na beleza do desenho arquitetônico do casario.

Lembrei dos tempos em que ia visitar minha mãe, na Ladeira Pedro Antonio, e me deixava escorregar um pouco em andanças juvenis pelo Centro.

A cabeça repleta de sonhos e marchas !  Passou...

Alcancei a Av. Rio Branco bem na altura do Theatro Municipal, imponente, majestoso e único.  Tentei não adimirar muito, para não bancar o Carioca repatriado com ares de turista.

Inútil disfarçar, estava bêbado de emoção.

Segui em frente pela Rio Branco, ignorando o caos urbano e as pessoas.  Namorei a fachada da Biblioteca Nacional e andei mais um pouco.

Passei em frente ao prédio da Associaçao de Imprensa do RJ, da Justiça do Trabalho e do Palácio Tiradentes.

Continuei mais um pouco.

Cruzei a Presidente Vargas e novas lembranças vieram reclamar espaço em meu disco rígido.

Imagens antigas de minha avó Joaquina, me conduzindo de mãos dadas em travessias da Presidente Vargas, sempre preocupada com o trânsito e com gatunos que poderiam estar nos arredores.

A velha Joaquina sabia impor respeito.  Parecia que  parava o trânsito com a força daqueles olhos portugueses.  Profundos, tensos e acolhedores.

Cruzávamos a Presidente Vargas sempre à altura da Rua Uruguaiana, no caminho da oficina de Sérgio, o filho.

O maior artista em ourivesaria de todo o RJ.  Uma outra estória...

Cheguei em frente ao edifício onde meu irmão trabalha.  Liguei avisando.  Aguardei, contando os minutos.

Ele desceu com aquele sorriso único e imortal.  O branco dos dentes se misturando com algumas novas rugas de sorriso.  O mesmo brilho de sempre no olhar.

Um olhar expressivo, que sempre diferenciou meu irmão de todos.  E de tudo.

Um abraço forte.  Uma nova caminhada.  Achamos o restaurante e conversamos sobre nada e sobre tudo.

O tempo passou rápido demais.

Na saída, encontrei uma loja de artigos do Flamengo, uma espécie de Flamengo Store.  Entrei para comprar uma lembrança.  Um mimo para meu filho, que espera minha volta, em casa.

Meu irmão Roberto, vascaíno, teimoso e, como eu, filho de português, ficou de fora, de costas para a loja, zombando da cor dos manequins de plástico que vestiam belas camisas rubro-negras.

Família tem disso: a rivalidade entre dois times às vezes é tão forte quanto a saudade entre dois irmãos.

Nos despedimos na promessa de encurtar a distância, parar o tempo, falar e ver mais vezes e abraçar um ao outro, cada vez mais forte. 

Até que não haja mais o que dizer.

Ou o que caminhar.

GM







sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vinho tinto: um hábito saudável, social e brasileiro.


Uma ou duas taças de vinho tinto, acompanhando o jantar, todos os dias.

Esta talvez seja a receita mais feliz e antiga para uma boa saúde, pessoal, emocional e social.

Há de se tomar alguns cuidados !  O excesso deste fiel amigo leva a um efeito reverso.  Quem bebe mais do que o recomendado terá problemas relacionados ao uso abusivo de bebida alcoólica.

Óbvio, mas não desprezível.

A receita do bem estar é simples: sono, frutas, legumes, verduras, proteínas magras, muita água, atividade física moderada e...vinho tinto.

Mas qual vinho tinto ?  De que marca ?   De que origem ?

A marca é irrelevante, acredite.  Na verdade o rótulo está mais relacionado ao status e ao preço do que à qualidade organoléptica do produto.

Tem que ser tinto.  Com certeza.  Tinto, rubro, vermelho.  Detalhe importante e inexorável.

Os especialistas associam a presença de flavonóides e resveratrol no vinho tinto, com as propriedades longevas que buscamos na bebida.

Vinho tinto é sinônimo de mais flavonóides, mais resveratrol e mais saúde.  Mas tem que ser na medida certa.

Duas taças ao jantar.  Não mais que isso.

Os mesmos especialistas afirmam que as uvas Tannat, Isabel e Bordô são as que mais concentram as substâncias benéficas. 

Por sorte  o Brasil é muito  bem servido dessas uvas e de bons vinhos feitos destas uvas.

Isso mesmo amigos.  O vinho mais acessível é também o mais saudável.

Isto resgata a tradição do vinho de mesa da família brasileira e desmistifica a questão: preço não é saúde.

Saúde é acesso, equilíbrio e atitude !

Eu brindo a isto, degustando um belo bordô, brasileiríssimo e feliz da vida.

Saúde !

GM


terça-feira, 21 de agosto de 2012

360, de Fernando Meirelles


Na época de Glauber era, uma câmera na mão e uma idéia na cabeça.

Isso foi há pouco e muito tempo.

Cinema hoje, antes de arte, é negócio.  E aí sim, se for negócio será arte.  Por que se não for negócio, ninguém verá, por falta de espaço.

Então sendo negócio será arte e sendo arte será Fernando Meirelles.  De novo.

A novidade dele foi Inspirada em "La Ronde”, clássica peça de Arthur Schnitzler.  O filme 360, novíssimo,  é uma reunião de histórias dinâmicas e modernas, bem ao estilo de "Traffic" ou de "Passeata em Paris".

Estórias passadas em diversas partes do mundo, mas nem por isso desconexas.

A personagem Laura (a brasileira Maria Flor) é uma mulher que deixou a vida na terra natal para tentar a sorte em Londres.  Levou junto o sortudo namorado Rui (o global e fortão, Juliano Cazarré).

Ao descobrir que o parceiro está tendo um caso com Rose (a extraordináriamente gostosa e linda, Rachel Weisz), decide voltar para casa.

Anthony Hopkins é um senhor que ela conhece no caminho de casa e a partir daí o show começa.

Os destinos de Mirka (Lucia Siposová) uma jovem que começa a trabalhar como prostituta e a irmã Anna (Gabriela Marcinkova) também se cruzam. O primeiro cliente de Mirka é Michael (Jude Law), casado com Rose.

Uma espiral forte e envolvente que parece que vai se perder na trama.  Qual nada.

Muito Fernando Meirelles.  Pouco cinema brasileiro.

O filme, que começa em Viena e passa por Paris, Londres, Rio de Janeiro, Bratislava, Denver e Phoenix, promete.

Li a sinopse antecipada e assisti a versão inn num evento em Paulínia.

Não perca.  Ou você vai se perder para sempre.

GM





sábado, 11 de agosto de 2012

Seleção Brasileira de Futebol...é muita marra !!!

Acompanho jogos da seleção brasileira de futebol desde 1976.

A cartolagem ainda era chamada de CBD.  E seu chapeleiro-mor, Giulite Coutinho.

Minha 1ª copa do mundo, acompanhada e chorada jogo-a-jogo, foi em 1978. 

Assisti Kempes, Passarela, Ardiles e Fillol.  E também olhei para Leão, Toninho, Dirceu, Rivelino e o jovem Zico.

Desde então não perdi nenhuma.  E nem nada.

Sei de cor as escalações do Brasil de 1958 a 1994. 

Grande coisa !

Amigos, sou malucamente apaixonado por futebol, e as vezes me envergonho disso.

Acabo de assistir a final das olimpíadas deste ano, 2012. 

O tempo passa.

Estou com nojo.  É muita marra !  É muito dinheiro !

Sobram "asinhas" levantadas na hora de dominar a bola.  Sobram tiaras na cabeça, fitinhas,  chuteiras coloridas, brinquinhos de brilhante. 

Sobram carrões e modelos gostosas.

Abundam comerciais de TV.  Fartam cortes de cabelo moderninhos e colares de ouro pesados.

Por isso mesmo ficamos com a prata !

Uma palhaçada !

Saudade dos jogadores que treinavam 05 vezes por semana e jogavam mais duas ! 

Saudades dos salários baixos.  Saudades dos tempos em que o marketing vinha depois do sucesso, e não antes !

Saudades do tempo em que nossos craques se jogavam menos em campo, e corriam mais, e lutavam mais, e eram mais simples.

Simples atletas !

Saudades de profissionais.  Saudades DOS profissionais !!

É muita marrra !!  Muito toquinho de lado !  Muita pose !!

É um tal de fazer caras e bocas, sabendo que está sendo filmado !  É um tal de ajeitar o meião e reclamar !  É um tal de não-correr, não-chutar, não-jogar !!!

É muita marra !!!

Sou do tempo em que jogador de futebol, jogava futebol.

Acho que estou ficando velho !

GM

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Celso Blues Boy e Caetano Veloso

Na vépera do aniversário de seu tropicalista mor, o Brasil perdia um de seus maiores guitarristas.

O blues e o rock davam adeus a Celso Blues Boy ("...aumenta que isso aí é rock and roll..."). 

A MPB e a arte inteligente celebravam Caetano Veloso.

Infeliz coincidência.

Também perdemos Millôr e Chico (O Anysio) numa mesma semana.  Sorte grande a de São Pedro, e todos os seus confrades celestes, que os receberam de uma só vez, para alegrar e iluminar as tardes monótonas do paraíso.

A música de Celso Blues Boy não era fashion.  Era música.  Não vendia muito.  Mas se ouvia demais !

Já Caetano celebra ainda sua justa exsitência.  Um gênio como poucos !

Em luto por Celso, celebro por Caetano.

A tropicália é assim.  Uma dicotomia profunda que só faz sentido quando não faz.

GM

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Como Ver Um Filme

Terminei a leitura de um dos livros mais interessantes, na minha opinião, dos últimos tempos.

Trata-se de "Como Ver Um Filme" da crítica de cinema e escritora Ana Maria Bahiana.  Uma expert quando o assunto é cinema.

Meus amigos sabem, não é segredo nenhum, que gosto demais de assistir filmes.  Os entendidos no assunto chamam isso de cinefilia.  Logo, eu seria uma espécie de cinéfilo.

Na verdade, sou apenas mais um, entre muitos, que apreciam um bom filminho.

Cinema, TV, DVD, Blu-Ray, não importa o formato, bom mesmo é esticar as pernas na minha poltrona favorita, aninhar a cabeça no colo quentinho da minha linda Dª Onça e curtir a película.

Sempre fiz isso como amador, óbvio, mas agora, após a leitura deste livro, peguei um pouco mais de "jeito" na "coisa".

O livro fala de técnicas de filmagem, estilos de diretores, closes, fade-in, filmagem em 1º plano e mais uma dezena de curiosidades sobre a produção de cinema.

Usa exemplos prá lá de didáticos, baseados nos maiores clássicos do cinema.  Isso sem falar que o texto é leve e de fácil entendimento.

Uma ótima leitura !  Recomendo !

GM