sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Os 100 maiores brasileiros de todos os tempos


Uma lista.

Apenas uma lista.  Não é a lista oficial e também não é um documento formal, daqueles que tem catálogo de edição e arquivamento na Biblioteca Nacional.

Graças à Deus !

É apenas uma lista proposta pelo SBT, provavelmente sugerida por uma reunião de pauta ausente de conteúdo e infeliz de propósitos.

Uma lista estapafúrdia !  Ridícula, rizível, rasa, pequena e, pra dizer pouco, indigna.

Nesta lista dos "100 Maiores Brasileiros de Todos os Tempos" o povo vota.  Vota e desvota, seguindo seus credos e, principalmente, guiados pela influência dos meios que os cercam.  Neste caso, a TV. 

Uma TV de baixa qualidade, por sinal.  E não estou falando da qualidade técnica do sinal, por sinal.

Estou falando de uma TV que ninguém vê.

E é este público, desta TV que, democraticamente, escolheu os nomes daqueles que estarão presentes no panteão dos deuses dos brasilerios louváveis em todos os tempos.

Louváveis pela sua contribuição ao país ?  Veremos.

Pra começar a cantora Joelma (quem ?) está à frente de Chico Buarque.

Sim.  O autor dos versos: "...De que me vale esta bebida amarga, tragar a dor e engolir a labuta, mesmo calado o peito resta a cuca, silêncio na cidade não se escuta.  De que me vale ser filho da santa ?  Melhor seria ser filho da outra.  Outra realidade menos morta...tanta mentira, tanta força bruta...", e também autor da lírica poesia cantada em versos por ele e por Milton Nascimento ("Cálice"), foi vencido, derrotado e preterido por Joelma, a megastar do tecnobrega, cantora dos versos: "...Vem meu moreno, vem fazer chibum...Vem meu moreno, vem fazer chibum...Vem meu moreno, vem fazer chibum...bum...bum."

Silêncio sepulcral...só uns segundos, por favor.

Tudo bem.  Todos sabemos que sou muito afeito às coisas do Chico. 

Então vamos a um exemplo mais neutro: 

Cláudia Leite. 

Célebre imitadora de Ivete Sangalo, que por sua vez imita Daniela Mercury, que por sua vez imita Margareth Menezes (esta sim, que não imita ninguém), na listagem, Cláudia Leite está relacionada numa posição melhor do que Jorge Amado...!!!  Eu disse Jorge Amado, um dos maiores escritores em língua portuguesa, um dos intelectuais mais traduzidos do mundo, perde, na listagem, para Cláudia Leite.

Tristeza sem fim.  Meu fígado, em prantos de dor de corno, reclama uma latrina fétida para por fora, e adentro, todo vômito que couber no mundo !

Indignação !  Indigna nação !

Tem mais: Gugu Liberato x Monteiro Lobato.

Quem poderia imaginar uma comparação dessas ?

Mas, na listagem, ela existe e, pasmem todos e tudo, Monteiro Lobato perde !!

Um dos maiores escritores, pensadores e articuladores políticos do Brasil, é menos importante do que Gugu Liberato...pelo menos nesta lista idiota.

Um minuto de pausa para minha revolta, ampla, geral e irrestrita !

Esta iniciativa deste canal de TV foi, na minha modesta opinião, uma das maiores idiotices da história da humanidade.  Um tempo precioso perdido em nada !

Uma manifestação coletiva de histeria ignorante !  Um vácuo completo, escuro e gelado !

Por favor, parem com isso agora mesmo !

GM







quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dirigindo e pensando...

O gesto afoito traz à luz certas consequências.

Estas, por sua vez, vão dar origem ao gesto pensado, que invariávelmente é corretivo e tardio.

A desilusão é apenas a visita da verdade.

GM

sábado, 22 de setembro de 2012

Apenas Suzanne Vega, apenas.


Já disse e repito: o folk não é pop.

E o pop, bem, este às vezes, é prá lá de folk.  Depende da competência de quem o faz.

Suzanne Vega é daquelas mulheres que podem enlouquecer um homem.  Seu jeito de menina e seu olhar de puta, tiram o fôlego da alma do mais casto pagão.

Isto, pra não falar de sua música.

Suzanne Vega é daquelas mulheres que quando cantam congelam a cena e o cenário.  É uma artista maravilhosa.

Sua música inspira a minha imaginação e percepção auditiva, ao mesmo tempo.  E ao mesmo tempo em que a ouço, imagino cenas em que poderia devorá-la aos poucos, mastigando e engolindo cada pedacinho branco daquela pele lisa.

Suzanne Vega é uma grande mulher pequenina.

Achei discos que antes achava perdidos, e depressa espetei na agulha de minha velha pick-up. Me satisfiz com músicas belíssimas como "Luka" e "NY is a Woman".  Ouvi repetidas vezes, além do físico e aquém dela mesma.

Suzanne Vega é daquelas mulheres que nos dá vontade de pôr no colo.

Mesmo sob o risco de ouvir dela o quanto esse gesto é antigo e idiota. Como são antigos e idiotas os homens de minha geração.

Existem mulheres que não precisam de colo.  Só precisam ser devoradas.  Às vezes aos poucos, e às vezes de uma única vez. 

Eu gostaria de me engasgar com Suzzanne Vega na garganta.  E depois, só depois,  deixar rolar.  Acredito que seria bom, ou no mínimo, esquisito.

Mas como isso não será possível, e é sabido e aceito, me contento em ouvir suas lindas músicas pop com alma folk e negra.

Uma de suas letras mais autorais e das quais mais gosto diz assim: "...NY city is a woman and she'll make you cry, to her, you're just another guy...".

Totalmente Suzanne.

E assim é minha relação com esta mulher em forma de som: eu apenas ouço e ela, feliz, apenas obedece.

Nossa testemunha é, apenas, um ovation de 12 cordas.

GM



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A falta que faz o "The Police"


“Last Exit” era a banda de jazz-rock aonde Sting tocava baixo e cantava, nos idos de 1975/76. Uma banda inexpressiva e que não conseguia conter o talento criativo de Sting.


Stewart Copeland tocava bateria num grupelho de rock progressivo chamado “Curved Air”. Irritava Ponce Chapell, o vocalista da banda, com suas viradas de inspiração jamaicana e com a mania que tinha de prender a baqueta aos dedos com esparadrapo.

Andy Summers, enquanto isso, provavelmente “...tomava um conhaque no outro canto da cidade, como eles disseram...”.

No começo, 1977, já com o nome The Police, Sting e Stewart convocaram um guitarrista obscuro, chato pra caramba, perfeccionista e com tendências disco, chamado Henry Padovani.

Estava concluída a 1ª formação da banda.

Neste mesmo ano lançaram Fall Out, 1º single da banda, que chamou a atenção da crítica pela fusão rock-jazz-reggae-punk, característica que marcaria o caminho criativo da banda e dos músicos, até que fossem mordiscados pelas armadilhas do pop.

Ainda em 1977, Henry Padovani foi gentilmente convidado a ir para bem longe da banda e a virtuose de Andy Summers assumiu o posto de guitarrista.

Eram um trio novamente. O resto é história:

Assinam em 1978 com a gravadora A&M e saem numa aventura louca, sem mídia e sem dinheiro, tocando em 26 cidades americanas, numa van alugada e com equipamento alugado.

Coisa de gênio ou de maconheiro. Ou ambos, quem sabe.

Ainda em 1978 lançam o disco Outlandos d’Amour, que entrou no top 10 da Inglaterra e no top 30 dos Estados Unidos. Na carona do relançamento da pedrada chamada “Roxanne” (a estória de uma garota de programa de Amsterdam), o disco chega ao sexto lugar nos Estados Unidos.

Depois, em 1979, lançam Reggatta de Blanc, com o baita sucesso Message in a Bottle. Um orgasmo sonoro com base jazzística e levada pop.

Então vieram os anos 80.

Zenyatta Mondatta, Ghost in the Machine e Synchronicity confirmaram o talento criativo do trio, com direito a diversas premiações, além de 03 prêmios Grammy.

Vieram ao Brasil em 1982, para tocar no Maracanãzinho, show que por falta de idade e de dinheiro, infelizmente não pude assistir.

A partir de 1984, a banda entre em parafuso emocional.

Cada integrante queria seguir um caminho diferente. Sting flertava com o cinema. Stewart fazia projetos instrumentais e Andy Summers, “...comia todas as menininhas do pedaço...”.

Desgraça anunciada. A banda se desfez.

Voltou a ser reunir para vários shows, inclusive  no Brasil em 2008. Após isso a ruptura foi definitiva.

Perguntaram ao Summers se ele queria voltar a tocar com Sting, em algum outro projeto. Ele teria dito que não.

“...o Sting é um cara chato para caramba...”.

Saudades do Police.

Uma das poucas bandas de música que tinham qualidade musical, criativa e sabiam fazer rock / reggae e jazz, como poucos.

GM

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Machado de Assis ainda vive nas ruas do Centro velho


Joaquim Maria Machado de Assis.

Machado de Assis.

O bruxo.

O bruxo do Cosme Velho.

Gostava mesmo era de andar pelas ruas do Centro do Rio.  Preferidas eram a Gonçalves Dias, pela opção literária da Confeitaria Colombo e a  do Ouvidor.  Pelo trasfegar coletivo da população mulata.

Machado era um escritor sem palavras.  Suas estórias eram cheias de células, ao invés de letras.  Sua arte era urbana daquele tempo e faz sentido no urbano de hoje, em termos de contexto ideológico.

O perfeccionista do conto, chegou ao ápice literário em obras como "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

Letras sensacionais e indispensáveis.

Hoje quando vou ao Rio, e tenho algum tempo, me deixo levar pelos ares do Centro.

De olhar atento aos malandros de plantão, vou respirando aquela atmosfera portuguesa, de casarios tristonhos, restaurantes pequeninos, trilhos de bondes em ruas onde já eles não passam mais e muita história.

As calçadas de pedras rosetas e lusas, apertadas, vão apontando a direção para cariocas, paulistas, sulistas e nordestinos de todas as nações.

Sempre que me acomodo num banquinho da Colombo, pergunto sempre ao mesmo garçon:

- Foi nesta mesa mesmo que Machado se sentou ?

E com ternura e pressa o homem de avental branco logo mente:

- Sim, todos sabem...este era o canto preferido de Machado de Assis...

Sorrio e agradeço a mentira gentil, me lembrando de que sempre sento em lugares diferentes, mas a resposta provável será sempre a mesma.

Na Colombo e em outras mesas velhas do Rio, Machado estaria sempre presente.

É nas escolas de hoje que sentimos sua falta.

Tristeza póstuma e perene.

GM


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Donga cantou pelo telefone


O Largo da Carioca fica no finalzinho da rua Uruguaiana, ao lado do Convento Santo Antonio, no Centro do Rio.

Não era exatamente o endereço mais boêmio do Rio nos idos de 1916.  Certamente a Cidade Nova e a Gambôa (juntamente com o bairro da Saúde e a Pedra do Sal), tinham mais destaque na agenda de bambas como Heitor dos Prazeres, Donga, João da Baiana e Pixinguinha.

Mesmo assim é o Largo da Carioca que abre os versos do samba "Pelo Telefone".  O primeiro samba a ser gravado e lançado comercialmente. 

Diz o registro autoral que este samba é de autoria do Donga. 

Diz a lenda que foi uma criação coletiva de vários sambistas seminais, na casa de Tia Ciata, mãe postiça e verdadeira do samba.

Se Donga foi esperto não sabemos. 

Mas já dizia Sinhô, grande sambista e pianista intuitivo, que "...samba é igual passarinho, fica voando por aí e quem pegar primeiro põe na gaiola...".

O fato é que "Pelo Telefone" é sim o marco inicial da produção musical em samba, sob o ponto de vista comercial.

A letra começa assim: "...o chefe da polícia pelo telefone mandou avisar, que na Carioca tem uma roleta para  se jogar...".  Esses versos foram mudados algumas vezes, pois falar em jogo de roleta numa época em que chefes de polícia truculentos como o Delegado Vidigal ainda estavam firmes, era pouco recomendado.

Virou história.  E Donga cravou seu nome de forma inapagável.  Hoje é verbete de consulta para todos os ouvintes.

Gostando ou não de samba.

GM

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Por que Tom Jobim é genial ?



Quando estava prestes a gravar nos Estados Unidos um disco com Elis Regina, Tom foi tomado por grande ansiedade e nervosismo.

Elis era uma das maiores cantoras do mundo.  Estava no auge de sua forma.

Tinha também a presença no estúdio de Cesar Camargo Mariano, encarregado dos arranjos, marido de Elis, músico perfeccionista e chato para chuchu.

Logo na primeira sessão de gravações o clima esquentou.  Tom não gostou de parte dos arranjos e tentou ligar para Claus Orgeman, que já trabalhara num disco dele com Sinatra.

A maionese quase desanda !

Elis, como toda mulher, dominava a cena e conduzia o processo.

Foi quando Cesar Camargo perguntou a Tom o que ele queria realmente, em termos de arranjos.

A resposta foi única:  "...apenas a minha música...como ela lhe parecer...".

Coisa de gênio.

O disco ficou lindo !

Recomendo !

GM