quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quando conheci o Gospel que habita o rock, o blues e o jazz

Não gosto de ir trabalhar em São Paulo, Capital.

A cidade é muito grande.  Muitos carros.  Muitos caminhões.  Muitas empresas, lojas e fachadas.  Muito de tudo...e pouca gente.

Mesmo contrariado, sou levado por força das obrigações e convicções profissionais a estar na capital paulista, no mínimo, cinco a sete dias por mês.

Mas, sim, sei como aproveitar a ocasião.

Sempre que possível, cuido para que a agenda seja tal que, lá pela hora do almoço, eu possa estar no Centro, ou quase isso.

Hoje não foi diferente. 

Consegui arranjar uma forma de almoçar no Centro velho de Sampa, num simpático e antigo restaurante pertinho da Praça da República.  Comi bem rapidinho e iniciei uma boa caminhada em meio a todo aquele barulho e energia dispersa.

Meus passos, certeiros, me levaram até a entrada da já dileta casa de discos do Alceu, esquina com a Travessa Agenor.

De lá, sou cliente quase antigo.  Ou assim me acho.

A loja lembra muito a ficcional loja de discos do filme "Dirceu Discos".  Uma pérola do surrealismo do cinema nacional.  Quem ainda não assistiu, precisa evoluir.

Entrei na loja e fui solenemente ignorado por todos que lá estavam.  Quase quatro pessoas, se papagaio fosse gente.

Vi o Alceu perto do balcão e logo me acheguei dizendo que era o tal "Giba de Itu", cliente dele e coisa e tal.  Por suposto que ele não me reconheceu, visto que sequer me dirigiu um olhar mais delongado que meio segundo, por cima de seus velhos óculos de leitura.

Sujos e gastos, como o velho Centro de São Paulo, a capital das bandeiras.

Perguntei se havia na loja alguma novidade, algo diferente para se ouvir.  Posto que dito, o velho Alceu apontou com os beiços uma pilha de discos, bem à esquerda do balcão.

Esmiucei um-por-um e valeu à pena.

Achei um disco muito antigo.  Prensado em 1959.  Muito bem conservado com sua capa quase intacta e seu vinil quase virgem, como as meninas deveriam ser.

Era um belíssimo disco de música Gospel americana, com uma foto gasta da Mahalia Jackson na capa. 

Que achado !

A primeira vez que ouvi de verdade música Gospel foi em 1998.  Estávamos, eu e Dri, em Nova Iorque para uma semana de férias.  Fizemos vários passeios na cidade e fomos, à pé, desbravando a Big Apple, usando nossa coragem e dois pares de tênis confortáveis.

Um dos passeios era uma visita a uma igreja, no Harlem, para assistir uma missa Gospel.  Era a Mount Mariah Baptiste Church, que fica no finalzinho (ou início) da 5ª Avenida.

Chegamos de mãos dadas e no acomodamos.  Havia uma energia boa no ar.  A velhas senhoras andavam lentamente ostentando belos chapéus na cabeça e um jeito de olhar firme e atento.

Logo o culto começou.

As músicas eram cantadas com paixão.  Canto e contracanto.  Solo e coro.  A assistência acompanhava com palmas, gritos e mais coro.

De instrumentos, apenas um velho contrabaixo acústico, um piano surrado e uma guitarra de blues.  Todo o resto eram vozes e palmas.

Pirei completamente !  Enlouqueci de verdade !  Fiquei sem fôlego durante toda a missa !

Dias depois, já no Brasil, não conseguia tirar da cabeça aquelas melodias, aquela incrível harmonização vocal e toda a emoção verdadeira daquela gente bonita.

Lógico que havia ali, naquela igreja,  um tom ideológico e religioso.  Mas a beleza da música se sobrepôs as isso.  E foi o que eu vi.

Até hoje adoro Gospel.  Assim mesmo, com "G" maiúsculo, pois aprendi que o termo vem de God Spell (Deus Fala)...e quem tiver ouvidos para ouvir, assim o consegue.

Além da contribuição pesada que o Gospel deu à formação natural do Jazz, do Blues e, depois, do Rock, adoro o Gospel por sua sonoridade e beleza espiritual, sem apelação comercial.

Não é por acaso, que o próprio Gospel surgiu a partir de uma música mais antiga, bruta e forte, os Spiritual.

Mas isso é conversa para outro dia...Hallelujah !

GM








segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Razões pelas quais se desconhece o infinito poder da TPM

21 anos.

21 anos ininterruptos de relacionamento amoroso, sexual, fraternal e de uma cumplicidade doméstica que  muito, muito mesmo, supera o reles cumprimento das contas mensais.

21 anos são 252 meses de convívio.  7.560 dias de teto.  181.440 horas de supermercados, shoppings e lojinhas.

Nelson Rodrigues disse uma vez que, potencialmente, o pênis do marido se habitua às dimensões da vagina esposada, no que, concordo, encabresto e  não resmungo.

Mas e quanto a TPM ???

Insofismável questão feminina, que faz caução segura de todo incauto nubente masculino.

No meu caso, até agora, são 252 TPM's consecutivas, pontuais, frequentes, disciplinadas e intensas...muito intensas !

Neste exato momento, o Poseidon dos hormônios se faz presente em nossa humilde morada !  Sim, é uma tormenta tropical infinita, que vai durar três dias precisos.

Arquimedes não seria tão correto.

É nesta hora que eu, covarde e inteligente como um garnisé, me afasto de Poseidon e busco a companhia de Dionísio, na esperança que os mares se acalmem e os hormônios se tornem mais navegáveis.

Haja casco e haja barco !

GM



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Folk, para quem puder ouvir


Dizem que que a música folk não tem pai e mãe.

Assim, juntos, pai-e-mãe.  Dizem, de fato, que a música folk não tem disso.

Eu concordo, discordando, e acrescento mais um conceito: a música folk tem pai-e-pai.  Assim mesmo, juntos, pai-e-pai.

Dizem que o pai do folk moderno foi Bob Dylan.  Eu digo, Bob Dylan sim, porém,  antes de ele deixar de ser ele mesmo.

Antes de "Highway 61, Reviseted". 

Falo do tempo em que Bob, ainda era Dylan.

Sim, Bob, enquanto Dylan, foi um dos pais do folk moderno.

Dizem que Donovan é uma imitação de Bob Dylan.  Pura palhaçada !

Preconceito musical de quem não entende o modo de como conceitos originalmente criados podem se tornar mais elásticos, nas mãos de outrem.

Donovan é Donovan e é também o outro pai do folk moderno.  Sou prova disso e testemunho em qualquer tribunal, posto que agora mesmo ouço "Colours", pérola de 1965, apenas "ontem", na cronologia do folk.

O escocês Donovan fez e faz um folk original, com uma pitada de requinte celta.  Seu som soa como um lamento de arranjos fortes nas cordas, na harmônica e nas letras que contam estórias.

Parece Bob Dylan, mas é melhor, e pior às vezes. 

Exatamente como Bob Dylan costuma ser, às vezes, um arremedo de si mesmo.

Para que se interessa por música de qualidade, recomendo que se interesse também por Donovan, pai do folk moderno, assim como Dylan costumava ser.

GM

domingo, 11 de agosto de 2013

Um ótimo disco que merece ser ouvido e escutado !


Joe Cocker é uma das lendas do rock e do blues.

Eu simplesmente não fazia a menor idéia de que, naquele dia, saindo da loja de discos do amigo Riva, em Campinas, eu levava em mãos algo mais do que um simples disco de Joe Cocker.

O nome do disco sugeria que fosse apenas uma coletânea: "With a Little Help From My Friends", clássico dos FabFour, que foi imortalizada na voz de Cocker no lendário festival de Woodstock.

Pensei ser uma bobagem comercial, pois o disco tinha cara de coletânea, contendo músicas lindas e hits históricos de Bob Dylan, Lennon & McCartney e Dave Mason.

Mas não era nada disso.

Achei o disco tão bom, que resolvi pesquisar e descobri que aquele era o primeiro disco de estúdio do Joe Cocker.  Disco que definiria seu estilo e sua obra a partir daí.

Um baita disco lançado em abril de 1969 e que teve participações de monstros como Jimi Page e Stevie Winwood. 

Além da faixa título, ouvi até cansar "I Shall Be Released" (que também teve versão primorosa com o The Band) e "Dont't Let me Be Misunderstood", imperdível !

Recomendo muito !

Vai ser difícil encontrar este vinil em bom estado, tive muita sorte, mas se o amigo leitor tiver curiosidade, acho que existem outras formas de se conhecer este material.

Boa busca !

GM

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sonny & Cher e Ike & Tina Turner

 
 
A música e o trabalho de Sonny Bono e também o de Ike Turner, não existiriam sem as vozes e o carisma de suas musas, Cher e Tina Turner.
 
Mais do que musas, essas mulheres maravilhosas e cantoras quase perfeitas, representaram o que de mais belo e estético havia no trabalho de Sonny e Ike.
 
Músicos geniais, poetas sensíveis, inovadores na arte do som, Sonny e Ike seriam apenas mais um capítulo na estória de criatividade e explosão sensitiva que foi a indústria fonográfica norte-americana (dos anos 60 até antes do fenômeno pop dos anos 80) se não estivessem juntos da beleza, da competência vocal e da divindade de Cher e Tina.
 
Mas Cher e Tina tiveram papeis diferentes, infelizmente.
 
Nas mãos do louco Ike Turner, muitas (e muitas !) vezes, Tina serviu de saco-de-pancadas em nome de um  desvario e uma loucura sem medida.
 
Surras.  Muitas surras.
 
Essa linda mulher apanhou, apaixonada.   Caiu calada.  Sofreu solitária e quase em vão, nas mãos de um homem que eram seu  amor e, ao mesmo tempo, ídolo musical.
 
Uma tragédia, em todos os sentidos.
 
Foi preciso aturar anos de covardia até que surgisse a coragem para dizer não, e seguir em frente sozinha, numa carreira solo de sucesso e reconhecimento mundial.
 
Cher teve uma estória diferente e viveu o quanto durou sua relação com Sonny, gravando grandes discos e  se fixando como referência no country e no folk.
 
Tina se transformou num monstro sagrado da música pop e Cher brilha, mais ainda nos dias de hoje.
 
Elas seguiram em frente em carreiras solo na música e  na vida.  Valorizadas como artistas e respeitadas como seres humanos e  mulheres. 
 
E que mulheres  !
 
GM