domingo, 29 de setembro de 2013

Faroeste Caboclo, 26 anos depois


A primeira vez que tive contato com "Faroeste Caboclo", não foi através da música.

Tenho certeza de que ainda não havia escutado a  música, quando, em 1987, li no JB uma matéria no "Caderno B", que apresentava ao grande púbico, o fenômeno que a música havia se tornado.

Uma matéria que teve de minha parte, quase nenhuma atenção.

Eram idos de 1987 e naquela fase, eu era então guerrilheiro e combatente da ativa atuando nas fileiras da MPB.  De Chico a Vandré, eu só ouvia acordes dissonantes e letras, pelo menos um pouco, complexas.

Ainda bem que pouco tempo depois, me tornei um ouvinte mais flexível e, por isso mesmo, mais completo.

Mergulhei de cabeça no movimento BRock e me achei nos acordes mais simples e crus de plebes e rudes, que faziam a cena voadora do RJ pré-Rock in Rio.

Sim, eu estava lá !

Li a matéria e pirei completamente.  O repórter falava da coragem da letra, da simplicidade harmônica e da beleza brasileira, contemporânea, escondida nas entrelinhas.

Era poesia concreta, e eu, na época, não me dei conta disso.  Era Bob Dylan e seu furacão e eu, também, não me dei conta disso.

Semanas ouvindo o hit na Fluminense FM (saudades...) e também espetando o LP da minha irmã na bela pick-up que ela tinha, foram suficientes para me santificar.

Se eu já respeitava Legião por "Andrea Doria", "Acrilic on Canvas" e "Baader Meinhof Blues", passei a canonizar a banda, após entender as entrelinhas de João de Santo Cristo.

Naquela época, quando escutava a música, várias imagens me vinham a cabeça.  Como num filme, a cena do duelo, a cena de João chegando em DF e a cena de uma rockonha qualquer, sempre eram imaginadas.

Engraçado foi assistir a essas cenas, vendo o filme hoje e comparando com as imagens mentais que eu produzia em 1987.

Um pouco decepcionado e, também, um pouco surpreso, muitas cenas seguiram o meu roteiro mental, tão próprio, e outras não.

Tudo bem.

Mas de fato fico com a sensação de que o roteiro era meu, as imagens, minhas, e toda aquela estória compartilhada na época, in loco, por mim, eram posses também.

Era como se eu fosse dono da estória por detrás da letras, e como se eu estivesse muito ofendido por não ter sido ouvido pela produção, antes da letra virar filme, e da música virar trilha.

Um pouco mentira e um pouco verdade, afinal, eu fui apenas mais uma, entre tantas outras, testemunhas vivas daqueles dias.

Sorte a minha.

Vi o filme hoje,  26 anos depois de ter tido contato com a música e de ter aprendido seus 02 acordes básicos e ter decorado sua letra épica.  Parece que foi ontem.

Gostei do filme, e me senti um pouco nostálgico, mesmo discordando de alguns exageros na estética e na linguagem.  Aprovei o trabalho, me sentindo um pouco parte daquilo tudo.

Sim. sorte a deles.

GM

sábado, 28 de setembro de 2013

Zimbo Trio e Doobie Brothers


Por que será que ninguém, ou quase, mais ouve Zimbo Trio ?

Talvez, pela mesma razão que poucos de hoje ouvem Doobie Brothers.

Enquanto o excepcional trio brasileiro se inspira no samba e no jazz, para criar uma música única, talvez só comparável ao trabalho de Milton Banana, a grande banda americana funde o blues, o gospel e o rock e nos presenteia com uma música de primeiríssimo nível.

Mas quem liga pra isso ?

Pra eles e para Tom, Chico, Caetano ?  Bob Dylan, Stones e Beatles ?  Quem os ouve ?  Ou melhor, aonde os ouvir ?

Digo e repito que desde anos nossos ouvidos tem sofrido um sério processo de imbecilização, que é devido, entre ouros motivos, a necessidade da indústria e a falta de espaços correntes.

A indústria musical, digo, a barata, precisa vender e, para isso, ocupa os espaços, com tudo o que na minha pequena opinião, não presta.

Tente ligar o rádio.  Esqueça...

Experimente a TV. Ridículo...

Como nem todos tem a oportunidade de ouvir em casa algum material decente.  Como nem todos tem acesso a uma pequena coleção ou mesmo a uma pilha de discos velhos, sobra o que o sistema manda.

E o sistema está produzindo muito, de nada e divulgando muito, também de nada.

O meu alerta é simples: as mentes dos jovens de hoje, os mesmos que serão os senhores de amanhã, estão sendo dia-a-dia reduzidas a uma massa sem crítica.  Imbecis manipuláveis a espera do próximo jargão e do próximo refrão.

A música é apenas um exemplo.  Procure produção consistente, hoje, na literatura, no cinema ou na TV.  Perda de tempo.

Tudo está banalizado.  Tudo é axé.  Tudo é raso e simplesinho, afinal,  se não fosse assim, nossos jovens, muitos deles, não seriam capazes de entender.

Complicar é demais.  Não !  De outro modo, eles seriam obrigados a pensar.  E isso, hoje, parece ser um absurdo.

Acordar é preciso, ou nosso próximo presidente da república pode ser um cidadão chinês e não me refiro a etnia, e sim a cidadania.

Axé, Brasília !

GM

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O dia em que o Brasil morreu


Muito bem amigos, o previsível aconteceu.

Embargos infringentes. Termo jurídico para rotular a morte da cidadania e o renascimento da esperteza e da vilania.

Só para registrar, esperteza é toda a forma de inteligência sem ética.
Agora, o emaranhado jurídico se tornou mais importante do que o fato gerador.
Ora, os crimes ocorreram ?

Sim. Formação de quadrilha. Improbidade administrativa. Desvio de recursos públicos. Peculato. Abuso do poder político.

Sim, os fatos ocorreram, mas o urdume técnico se encarregou de emaranhar a verdade numa trama capaz de enojar até os céticos.

Senão, vejamos: ocorrendo sim os crimes, e estando sim condenados os réus, dá-se direito a eles, criminosos, a um segundo julgamento, pelo simples fato de terem ocorrido, durante o julgamento original, votos contra a execução da pena.
 
04 votos.
 
Ou seja, então, em não se havendo maioria de votos a favor da condenação, acha-se a brecha esperta para a ação dos malandros de plantão.

Experimente então, você, pobre eleitor, não pagar mais seus impostos. Espere pois,  por sua própria e célere condenação e, após isto, ouse lançar mão dos seus "direitos" aos embargos infringentes.
Sabe bem o eleitor incauto o que vai acontecer. Sua voz vai ser abafada e seus direitos a embargos serão embargados.

O benefício que se dá ao Zé Povinho é menor, muito, e diferente, demais, da brandura que se dá ao Zé Dirceu, e aos outros 11 condenados.

Sim, parece cinema, mas não é.

Graças a este efeito Denorex, daqui pra frente, assassinos, ladrões, estupradores e delinquentes em geral, estarão protegidos pela aura pura da jurisprudência, enquanto o cidadão, simples,  pagador de impostos se resumirá a insignificância de sua própria existência política.
 
Então, o que nos resta ?  Nada !

Então, isto posto, quero aqui, agora, de forma simbólica, emocionada e triste, RENUNCIAR A MINHA CIDADANIA BRASILEIRA !

A partir de agora seguirei sem pátria, entre as cidades da terra mãe do ICMS, IPI, IR, ISS, das contribuições sindicais, taxas de luz, de água, de telefone, do lixo e de todos os outros impostos que, juntos, retiram da mesa da minha família, a dignidade que meu pai legou, a mim, em seu nome.

A mesma dignidade que eu queria tanto legar ao meu filho, em meu nome, mas que acredito não ser mais possível.
Então, o que me resta ?
 
Seguir em frente, mudo, em meio a tanto lixo político e institucional, tendo a certeza, de que em meu ex-país, cujo nome já me envergonho de escrever, o CRIME COMPENSA.
 
E muito.
 
GM

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Luiz Maurício Pragana dos Santos e o Rock in Rio


A imagem que abre este artigo é romântica e emblemática.

Um jovem Lulu Santos, dividindo o palco do  Rock in Rio 1, com o talento e o sax tenor de Leo Gandelman. 

Imagem rara !

Me lembro bem que, após a sua primeira apresentação no Rock in Rio 1 (no já distante ano de 1985), Lulu Santos recebeu críticas pesadas quanto a sua atuação.

Colossos da imprensa, como por  exemplo o JB do Rio, aludiram a Lulu como "apático e sem brilho", ou algo como isso, se não me rasga a memória. 

Pena não ter guardado aquela edição.

Já após a sua segunda apresentação Lulu teria sido ovacionado, elogiado e erguido ao panteão dos grandes instrumentistas e artistas de sua geração.

Justiça divina ao Luiz Maurício, ex-Vímana, e que na abertura do festival teria sido barrado na entrada do backstage por um truculento segurança, que, lendo o nome na credencial não pôde reconhecer em Luiz Maurício Pragana dos Santos, o talento do jovem Lulu.

Estórias do festival !

Na edição deste ano (sim...estamos em 2013 !), Lulu foi homenageado pela  banda pop Jota Quest, assim rebatizada por Tim Maia, pois os mineiros eram originalmente os "J. Quest". 

Uma justa homenagem a um dos pais do pop-rock brasileiro, Lulu.

Guitarrista exímio.  Violonista prá lá de competente.  Letrista.  Cantor.  Performer de palco e péssimo apresentador de TV, Lulu é uma das bases estruturais do movimento BRock e, também, um dos pilares históricos do festival.

Sua música tem qualidade e merece ser ouvida, dentro e fora do Rock in Rio.

E o que falar do festival ? O que falar de um Rock in Rio que se desvia da mátria roqueira e  se perde pelos caminhos do pop, do funk, do axé e do nada ?

Diria apenas uma última frase: o festival, ou o que ele se tornou, não é  digno de seu público, não é digno de nossa audição e, também, não é digno do bom e quase velho Luiz Maurício, cuja música vai continuar por  aqui, muitos anos depois que o Rock in Rio se tornar lembranças e estórias de backstage.

Quem puder ouvir, verá.

GM





terça-feira, 10 de setembro de 2013

Seguindo em frente !

A única certeza da vida, pelo menos, da minha, é o hoje.

E todos esses hojes que permeiam a existência, pelo menos, a minha, eu quero viver com família, amigos, bons discos, bons livros, bons filmes e um bom vinhozinho, por que ninguém é de ferro.

É nesta caminhada que eu sigo em frente !

O resto ficou pra trás.

GM

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Andanças em BH...Status na Savassi

A música, os livros, a arte, a gastronomia e o estar de bem, tem endereço certo em BH.

O bar-restaurante-café-espaço-livraria-galeria-museu Status, abriga todos os seus amantes, devotos e descolados.

O espaço vem existindo e resistindo por muito tempo.  Já se passaram 04 décadas e os ideais de boa música e boa atmosfera, continuam contaminado todos, ou quase.

Estava em BH, trabalhando, na companhia do jovem e novo amigo Raphael, com quem divido os louros pela decisão de pararmos para jantar no Status, grata decisão.

Um espaço incrível, com decoração cult, acervo beat e frequência bossa !

Sentamos junto a honestas mesinhas de calçada e por sorte, nossa mesa era homenagem a Paulinho Pedra Azul.  Degustamos justíssimas cervejas geladas, saboreamos o mais fiel dos cardápios mineiros e ouvimos um sensacional (e gratuito) quarteto de jazz-bossa, inspirado no que de mais sensato existe em termos de música instrumental.

Fica na Alameda Pernambuco, na Savassi, no coração de BH e pertinho do Rio, de Sampa, de Manaus e Porto Alegre, basta festejar.

E olha que eu apenas queria comprar uns discos (coisa que o fiz) na loja CD-acústica, do amigo Camelo, na esquina da Tourinho com Getúlio Vargas.

Pernambuco não estava nos nossos planos, mas valeu à pena.

Recomendo.

GM