sábado, 30 de maio de 2009

Uma dedicatória e a velha Elizart

Naquele dia eu caminhava pela calçada da esquerda da Av. Mal. Floriano, no Centro velho do Rio. Ia sentido Central X Rio Branco e meu objetivo era localizar uma pequena cafeteria, bem antiga, que ficava na esquina da rua Acre.
Lembro-me de frequentar aquele lugar interessante, nos tempos em que morei no Rio, o café era forte e o lugar, muito honesto. Bebíamos em pé, junto ao balcão, enquanto ouvíamos as conversas do português, senhor absoluto daquele ponto.
Café Capital...agora o nome salta em minha mente, reclamando um lugar neste texto.
Meu passo era apressado, teria um compromisso as 14h00m ali perto, na praça Mauá, e a pontualidade é um stress e uma marca que me acompanha de tempos.
De forma natural olhei à direita enquanto andava e observei a fachada da Livraria Elizart, a mais que centenária senhora dos livros, que reinou forte no Centro do Rio por muitos anos. Fica na altura da rua Conceição, próxima a loja de música e de músicos Ao Bandolim de Ouro (essa é outra estória...).
Não pude resistir a idéia de bisbilhotar um pouquinho entre suas prateleiras.
O lugar estava um pouco envelhecido, mas conservava a nobreza de quem foi, e de quem é. Aquele cheiro característico de livros impregnava tudo...uma delícia, cheiro de idéias ! Pessoas circulavam concentradas mas com uma atitude leve nos rostos, estavam felizes por estar ali.
Eu também.
Na prateleira central, um livro me provocava curiosamente, era um exemplar da Divina Comédia, de Dante, já bem usado e com uma dedicatória marcante, na segunda página.
Alguém escreveu: "Meu filho...leia, até que as palavras façam parte de você." Assinou, não pude entender o nome grafado, e datou, 02 de outubro de 1968. A edição era de 1956.
Os franceses dizem que quando você lê uma dedicatória, revive o momento de quem escreveu; é como se você voltasse no tempo, para o exato instante em que a pessoa escrevia e dedicava seu amor; uma espécie de testemunho no tempo.
A dedicatória era de 68. O mundo aconteceu em 1968 ! Sgt. Peppers dos Beatles, os dias de chumbo no Brasil a revolução do comportamento e do saber. E aquele livro acontecia naquele momento para mim, carregando todo o simbolismo de Dante e todo o sentimento daquele pai para aquele filho.
Naquela tarde, o café desceu mais gostoso, embalado pelas letras daquele achado feliz.

Putz...como é bonito viver !

Vamos em frente !

GM

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