sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Joelmir Beting e as lacunas que ficaram...


Foi-se o velho Beting.

E de tão novo que foi-se, deixou em orfanato as mentes dos poucos que sabem ler. 

Estas mentes não tiveram tempo para uma preparação maior.  Ele apenas se foi, sem avisar previamente.  E assim ficamos, pela terceira vez este ano, relegados ao orfanato das palavras.

Primeiro Chico Anysio.  Depois Millôr Fernandes.  Agora o velho Beting.

Felizes os anjos que finalmente terão mais luzes a conversar.  Infelizes os que ficam, cada vez mais, com menos linhas para ler e entender.

Joelmir Beting, o inventor da inteligência no jornalismo (e também do gol de placa) segue agora outros rumos, certo de estar cumprida sua missão terrena e concreta.

Por aqui ficamos nós, buscando mais enredos e abrindo espaço para outros que possam deslacunar a leitura.

Tomara que venham logo, pois nosso povo se imbeciliza mais, a cada dia.

GM

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Chico, a censura e o disco da samambaia


Na verdade o disco se chama Chico Buarque, 1978.

O Chico posou sorridente e o click do fotógrafo captou uma imagem juvenil.  Um Chico de sorriso torto para a direita, com cabelo curto, estilo Zeca Pagodinho e com uma grande samambaia ao fundo.

Lenda urbana instantânea, virou o "disco da samambaia". 

Favor não confundir com  "disco da mulher samambaia"...tomara Deus que ela não o tenha  gravado.

Este trabalho de Chico é indispensável por 03 razões básicas:

1. É um trabalho que apresenta um artista mais maduro e mais flexível;
2. Apresenta e abre portas às vozes de Elba Ramalho e Zizi Possi; e,
3. Produz um dos mais importantes hinos contra a ditadura militar, na canção "Apesar de Você".

São tres motivos poderosos para qualquer mortal pagão dedicar uns 90 minutos à audição do disco.

Em especial pela canção "Apesar de Você", que de forma mágica e inexplicável passou pela censura da época e rapidamente invadiu bares, lares, mares e mentes de toda uma juventude, que ansiava por uma voz a mais, na luta contra os coturnos da caserna.

Existe uma canção de Chico chamada "Jorge Maravilha", que não está neste disco, e que tem um verso muito emblemático desta questão da censura.  Diz assim:

"...e como já dizia Jorge Maravilha, prenhe de razão: mais vale uma filha nas mãos, do que dois pais sobrevoando !  Você não gosta de mim, mas sua filha gosta..."

Diz a lenda que a "filha" destes versos era a filha do General Geisel, antecessor do General Figueiredo, e que ela, vez ou outra, interferia na censura para algumas músicas de Chico "passarem" desapercebidas aos olhos duros de censores de mentes duras e caras duras.

Provavelmente ela fez isto com o samba-hino "Apesar de Você", mas esta informação carece de fontes oficiais, certamente censuradas, todas.

Mas a música seguiu em frente seu caminho e atravessou anos e gerações, se mantendo atual, atemporal e descolada.

Apesar deles.

GM


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Apenas uma frase...

"E que não me faltem forças para seguir em frente, sempre, mesmo que o caminho se mostre tortuoso, íngreme e extenuante.  E que muitos amigos estejam comigo, e que pelo menos em um deles, eu possa confiar cegamente.  Que não me falte a coragem e a decisão para afastar do caminho os canalhas, os mentirosos, os preconceituosos e aqueles que não tem caráter e praticam a covardia.  E que eu possa mesmo, ao final do caminho, poder olhar para trás e mandar todos eles, juntos, para o inferno !"

Frase de um anônimo qualquer, mas, como diria Jorge Maravilha, "...prenhe de razão..."
 
 
GM

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Além da Linha Vermelha

Um elenco com Sean Penn, Jim Caviezel, Nick Nolte, John Cusack, Ben Chaplin, Adrien Brody, John Travolta, George Clooney e Jared Leto já bastaria para chamar alguma atenção.

Não bastando isto, o diretor Terrence Malick em seu filme "Além da Linha Vermelha" de 1999, desconstrói todas as bases criadas em volta de temas e roteiros sobre filmes de guerra.

Na verdade, não se trata de mais um filme sobre guerra.   A batalha de Guadalcanal e a segunda guerra mundial são apenas cenário  e cena para este grandioso filme.

Talvez inspirado em "Apocalypse Now", este belíssimo filme de 13 anos atrás é mais atual do que nunca.  Retrata a emoção da solidão em meio a um conflito, a dor da ausência de tudo e a beleza da bravura humana.

A fotografia é única e o ritimo de filmagem é alucinante.

Não se trata de EUA contra o Japão.  Ma sim do homem contra ele mesmo.  Como sempre.

Recomendo.

GM

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Idéais para um feriado chuvoso e frio

Nem sempre a praia e os calores do litoral são as melhores opções para um relaxamento total e um merecido descanso.
 
É sabido por todos que, nós, brasileiros tropicalistas na gênese e na alma, temos larga preferência pelas cores e bundas de nossas areias escaldantes litorâneas.  Mas isto não é tudo, nem as areias e nem as bundas, quando o assunto é o ócio criativo.
 
Esta discussão se torna ainda mais relevante quando temos pela frente um feriado chuvoso, cinza, molhado, frio e londrino.
 
É nestas horas, e sobretudo nestes feriados, que algumas opções diferentes precisam ser consideradas.  Por exemplo, agora mesmo, que teremos alguns dias de paradeira geral em função de dois feriados, precisamos avaliar estas opções.

O máximo que eu posso fazer aqui, é adiantar ao amigo leitor o que vai acontecer na minha agenda e torcer para que sirva de alguma valia, a você que lê este post:
 
Família e amigos:
 
Sempre.  Reunir família e amigos, sem grande preparação ou cerimônia.  Apenas uma carne gostosa na churrasqueira.  Um tinto justo aberto sobre à mesa.  Uma salada bem temperada.   Algumas cervejas e caipiras.  Uns bons discos para emoldurar.  E está feita a festa. 
Longe da confusão dos carros que se apertam entre as ruas estreitas das praias.  Longe das filas nos bares e restaurantes.
Uma solução caseira e que vai ficar na memória das boas fotos que você vai tirar e guardar para sempre.
 
Comida e cinema:
 
Um arroz bem refogado ganha ares de risoto quando mais duas ou tres pessoas estão juntas, ao lado do fogão, lembrando estórias engraçadas ou simplesmente filosofando sobre o nada.
Dois ou tres filmes combinam bem com o friozinho que a chuva traz e com cobertores quentinhos para os pés.
Um conhaque aquece a alma.  Um tinto brinda uma relação.  Assim mesmo, simples e acessível.

Música e conversa:

No mundo das mensagens de texto e da distância física, simplesmente colocar a conversa em dia pode ser uma opção emocionante.  Desde que haja verdade e que a conversa seja interessante, ao invés de interessada.
E a música não poderia faltar.  Achar uma trilha que combine com um feriado frio e cinza é tarefa simples e divertida.  MPB, jazz, rock do bom, pop do bom, blues, bossa nova...a lista seria muito grande para ser reproduzida aqui.
Eu já separei os meus discos para este feriado.  Começo com Beatles, passo por Milton e Flávio Venturini e termino com Ray Charles, Paul Simon e Chico Buarque.

Acho que meus amigos não vão reclamar muito não.

Bom feriado chuvoso a todos  !

GM

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

David Bowie e meu filho Victor


Essa estória eu precisava contar.

Sábado.  Sábado à tarde.  Precisava instalar o novo computador no escritório.  Checando os fios e periféricos que vieram no pacote, percebi que a tomada elétrica do carregador da bateria era daquelas moderninhas, já com três entradas desalinhadas.

Todas as tomadas de minha casa estão no padrão antigo.  Precisava então de um adaptador.

Peguei o carro e corri no Centro da cidade.  De chinelo e camiseta branca entrei numa simpática lojinha de materiais elétricos e expliquei minha situaçao ao vendedor.

Enquanto aguardava pela solução, fui até a calçada da loja e fiquei inspecionando a paisagem.

Em frente à loja há uma lava-jato, desses que deixam seu carro limpinho em poucos minutos.  Logo em frente duas meninas de 13, talvez 14 anos, ouviam e dançavam ao som de uma música truculenta que identifiquei como funk.  

Ou pseudo-funk.

As meninas estavam com pouca roupa e esbanjando uma sensualidade não adequada para a idade delas.  Eram crianças bricando de uma forma indevida.

Se fossem minhas filhas não estariam alí.  Mas estavam.  E logo em frente, num boteco de esquina, alguns marmanjos na faixa dos 30 anos apreciavam a cena e incentivavam o rebolado.

Um senhor de certa idade se aproximou das meninas e, indignado, alertou, chamou à atenção, brigou, mas não adiantou.  Elas continuaram com a brincadeira perigosa.

Uma delas, a menor, quando questionada pelo senhor, preocupado sobre a música horrível e a dança inadequada, ouviu:

- Tio, agente não está ouvindo música não, 'tamo só mexendo a bunda !

Gargalhadas e mais rebolado.  Os caras do bar cada vez mais atentos.  Isto não poderia dar certo.

Enquanto o vendedor finalizava minha compra, observei que, do outro lado da rua, surgiu uma senhora com uma vassoura na mão e, na base da vassourada,  acabou  com aquela festa sexista e ousada.

Era a mãe preocupada e decidida.  Os marmanjos reclamaram o fim do showzinho.

Se fossem minhas filhas, provavelmente minhas mãos estariam arrebentando os dentes daqueles sujeitos.  Mas não eram.

Este é o efeito da música ruim, sem propósito, sem harmonia que hoje só gera sexismo e violência.

Funk, axé, nazi-punk, sou contra todas elas. De verdade e radicalmente.

Voltei pra casa.  Finalizei a instalação do computador novo e deixei no modo reprodução de CD´s, ouvindo uma coletânea dos anos 70.

Meu filho estava perto, dedicado ao seu vídeo game favorito, ouvindo também, perguntou:

- Que música é essa, pai ?

Estava tocando "Heroes", música de David Bowie e Brian Eno (o inventor da lounge music) de 1977.

Expliquei quem e o que era David Bowie e sua importância para a estruturação do pop saudável.  Conversamos mais e ao final já estávamos trocando idéias sobre "Blonde", "Iggy Pop" e a banda brasileira "Made in Brazil".

Quando ele me disse que queria ouvir mais David Bowie, não perdi tempo.  Espetei o vinil "Changesbowie", uma coletânea aveludada que dá uma ótima leitura sobre o som de Bowie.

Escutamos em silêncio duas ou tres faixas.

Ao final ele me pediu para tirar o som.  Disse que não era bonito, mas era diferente e curioso.  Um som que ele não tinha ouvido ainda, nada parecido.

De fato David Bowie é isso.  Um artista nada parecido com nada.  Sem molduras.  Seu som é próprio.

Meu filho ouve música atual.  Gosta de Beatles e ouve muito Guns e Led.  Mas também se devota ao McFly e ao Arcade Fire.

Tudo bem.

Só o fato de curtir com ele alguns minutos do som lendário de David Bowie, valeu à pena.

´- Ô pai, se tiver mais alguma coisa diferente, depois a gente ouve...

Já estou limpando o disco "77" do Talking Heads. 

Deixa comigo.

GM

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Solar da Fossa


Num tempo em que no Botafogo, um charmoso bairro do Rio, ainda não existiam o Canecão e o shopping Rio-Sul, havia por alí um antigo casarão, nas mesmas paragens, que abrigou entre 1964 e 1972, o fino da intelectualidade e rebeldia do Brasil.

E naqueles tempos, de chumbo, intelectualidade e rebeldia podiam ser sinônimos de cadeia. 

Hoje, para prerservar esta memória há um livro que retrata bem este tema.

O "Solar da Fossa" que Caetano pintou em cores bonitas na música tropicalista, abrigou feras como Zé Kéti, Paulinho da Viola, Paulo Diniz, Gil, Gal, Paulo Coelho entre tantos outros anônimos que por ali se instalaram, agora está retratado em um belo livro.

O livro "O Solar da Fossa..." do jornalista Toninho Vaz, que recomendo especialmente para quem gosta de música, sobretudo a brasileira e também de história, sobretudo, a política.

Vale à pena se deixar levar pelas estórias deliciosas do livro, e apreciar fotos e imagens de uma época romantica de um Rio que passou e que não existe mais.

Mas ainda ecoa nos versos e nas músicas de alguns malucos geniais.

GM