sexta-feira, 9 de novembro de 2012

David Bowie e meu filho Victor


Essa estória eu precisava contar.

Sábado.  Sábado à tarde.  Precisava instalar o novo computador no escritório.  Checando os fios e periféricos que vieram no pacote, percebi que a tomada elétrica do carregador da bateria era daquelas moderninhas, já com três entradas desalinhadas.

Todas as tomadas de minha casa estão no padrão antigo.  Precisava então de um adaptador.

Peguei o carro e corri no Centro da cidade.  De chinelo e camiseta branca entrei numa simpática lojinha de materiais elétricos e expliquei minha situaçao ao vendedor.

Enquanto aguardava pela solução, fui até a calçada da loja e fiquei inspecionando a paisagem.

Em frente à loja há uma lava-jato, desses que deixam seu carro limpinho em poucos minutos.  Logo em frente duas meninas de 13, talvez 14 anos, ouviam e dançavam ao som de uma música truculenta que identifiquei como funk.  

Ou pseudo-funk.

As meninas estavam com pouca roupa e esbanjando uma sensualidade não adequada para a idade delas.  Eram crianças bricando de uma forma indevida.

Se fossem minhas filhas não estariam alí.  Mas estavam.  E logo em frente, num boteco de esquina, alguns marmanjos na faixa dos 30 anos apreciavam a cena e incentivavam o rebolado.

Um senhor de certa idade se aproximou das meninas e, indignado, alertou, chamou à atenção, brigou, mas não adiantou.  Elas continuaram com a brincadeira perigosa.

Uma delas, a menor, quando questionada pelo senhor, preocupado sobre a música horrível e a dança inadequada, ouviu:

- Tio, agente não está ouvindo música não, 'tamo só mexendo a bunda !

Gargalhadas e mais rebolado.  Os caras do bar cada vez mais atentos.  Isto não poderia dar certo.

Enquanto o vendedor finalizava minha compra, observei que, do outro lado da rua, surgiu uma senhora com uma vassoura na mão e, na base da vassourada,  acabou  com aquela festa sexista e ousada.

Era a mãe preocupada e decidida.  Os marmanjos reclamaram o fim do showzinho.

Se fossem minhas filhas, provavelmente minhas mãos estariam arrebentando os dentes daqueles sujeitos.  Mas não eram.

Este é o efeito da música ruim, sem propósito, sem harmonia que hoje só gera sexismo e violência.

Funk, axé, nazi-punk, sou contra todas elas. De verdade e radicalmente.

Voltei pra casa.  Finalizei a instalação do computador novo e deixei no modo reprodução de CD´s, ouvindo uma coletânea dos anos 70.

Meu filho estava perto, dedicado ao seu vídeo game favorito, ouvindo também, perguntou:

- Que música é essa, pai ?

Estava tocando "Heroes", música de David Bowie e Brian Eno (o inventor da lounge music) de 1977.

Expliquei quem e o que era David Bowie e sua importância para a estruturação do pop saudável.  Conversamos mais e ao final já estávamos trocando idéias sobre "Blonde", "Iggy Pop" e a banda brasileira "Made in Brazil".

Quando ele me disse que queria ouvir mais David Bowie, não perdi tempo.  Espetei o vinil "Changesbowie", uma coletânea aveludada que dá uma ótima leitura sobre o som de Bowie.

Escutamos em silêncio duas ou tres faixas.

Ao final ele me pediu para tirar o som.  Disse que não era bonito, mas era diferente e curioso.  Um som que ele não tinha ouvido ainda, nada parecido.

De fato David Bowie é isso.  Um artista nada parecido com nada.  Sem molduras.  Seu som é próprio.

Meu filho ouve música atual.  Gosta de Beatles e ouve muito Guns e Led.  Mas também se devota ao McFly e ao Arcade Fire.

Tudo bem.

Só o fato de curtir com ele alguns minutos do som lendário de David Bowie, valeu à pena.

´- Ô pai, se tiver mais alguma coisa diferente, depois a gente ouve...

Já estou limpando o disco "77" do Talking Heads. 

Deixa comigo.

GM

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