quarta-feira, 28 de março de 2012

No mês em que perdemos Chico Anysio...

Também perdemos Millôr Fernandes.

Eu sei.  Todos nós sabemos.  A vida é uma sintaxe de alta complexidade.

Não sabemos, todos nós, por qual motivo viemos a esta esfera.  Também não sabemos por qual razão iremos, um dia, para o outro plano.

O fato é que nós iremos.  O fato, é que eles se foram.

Millôr e Chico fazem parte das minhas memórias.  Muitas delas.  Assistir Chico City, Chico Total ou Chico Anysio Show nas noites de terça ou de quarta dos distantes anos de 81 e 83, era quase uma obrigação canônica.  Um dogma que cumpríamos, eu, Arlindo e meu irmão Roberto, com rigor militar.

Uma delícia lembrar das risadas afônicas que Arlindo dava, a cada piada e a cada cena.  Impagáveis as memórias de ouvir os LP´s de Chico, em família, contendo a transcrição dos shows que fazia no Canecão.

Chico era quase da família.  Era quase a famíla.

Millôr era diferente, mas era igual.

Conheci Millôr através da crônica e dos textos de O Pasquim, que Arlindo comprava toda a semana e que eu lia, nos idos de 1979, sem entender quase nada, mas louco pelas fotos de Leila Diniz.

Millôr era uma figura mais distante, mas muito próxima.

Era meu cúmplice em sua prosa racional e em seu amor profundo, intenso e voraz, pelos ares do Rio de Janeiro, cidade que não pudemos compartilhar.

Uma pena.

No mês em que perdemos Chico, perdemos Millôr. 

Estaria, o Senhor, precisando de compania de alto nível e inteligente no paraíso ?  Entediado talvez, por tantas harpas e liras, resolveu convocar aos dois para uma partida de xadrez ?  O que diria John Milton ?

Não sabemos.

Melhor seria ter perdido duas dúzias de deputados.  Ou mais que isso, de senadores.

No mês em que perdemos Chico e Millôr, Dilma ganhou diploma de doutora honoris causa, conferido, carimbado e chancelado por importante universidade do exterior.

De certo os desconheciam, a Chico e a Millôr, por completo.

A vida é assim.  Uma sintaxe, de alta complexidade.

Saudades.

GM

P.S.: Para Arlindo e Roberto, pais e irmãos.

terça-feira, 27 de março de 2012

The Band

O que faz o som de uma grande banda de rock ?

E o que faz esse som, se tornar único, diferenciado, bonito e ao mesmo tempo, consistente musicalmente ?

Vários fatores fizeram com que o som da The Band, uma das mais importantes bandas de rock (do bom) do mundo - canadenses e globais - fosse assim...ou se tornasse assim.  Vamos aqui tentar entender alguns deles.

O fato de terem gravado 04 discos como banda de palco e estúdio de Bob Dylan, não conta.   Na verdade não conta e não importa, pois eles já eram grandes músicos antes disso.

Também o fato de, anos depois, Eric Clapton ter se rendido a genialidade dos caras e ter gravado uma participação especial em um de seus discos, conta menos ainda.

The Band tem vários encantos e diferenciais que a colocam na seleta lista de 10 ou 12 bandas de rock verdadeiras.

Afirmo isso sem medo de errar.  Afinal, estamos falando de músicos de verdade.  Vamos dar uma olhada:
Rick Danko – baixo, violino, vocais, violoncelo;

Levon Helm – bateria, bandolim, vocais, sanfona;

Richard Manuel – vocais, teclado, bateria, guitarra acústica, flauta;

Garth Hudson – teclado, saxofone, flauta transversa, harmônica.

Então, estamos falando de músicos de verdade.  Com domínio da execução e composição e vários instrumentos.  Eram caras que gostavam de tocar, estudar e ensaiar.  Até o limite da perfeição.

Começaram a tocar juntos em 1958, para acompanhar Ronnie Hawkins e não muito tempo depois já estavam na estrada fazendo a diferença junto a grandes nomes da cena rock.

Dylan foi só um exemplo.

Estiveram juntos atá 1999, e de sua discografia original, recomendo o disco "The Band" de 1969/70.

Um disco memorável, lendário e raro.  Ouvindo esse disco você vai se sentir lançado dentro da música country, do soul, do gospel, do jazz, do blues e do rock, como filho bastardo de toda essa orgia.

Tive a sorte de achar um exemplar, numa feira de vinil, e desde então, não consigo parar de ouvir.

Esses são os tipos de músicos que, definitivamente, fazem falta.

GM




quarta-feira, 21 de março de 2012

Um bom e justo tinto brasileiro

Passou o tempo, e longe, em que os bons vinhos eram apenas os vinhos importados.

Não sou enólogo.  Meus amigos bem o sabem.  Não sou sommelier e muito menos enochato.

Meus amigos também o sabem.

Tanto bem ouvi falar de tintos franceses, italianos, portugueses, sul-africanos, australianos e por tanto tempo, que cheguei a pensar que estes países eram a origem única dos bons e justos tintos vitiviníferos.

Até que, num dia qualquer, alguém me apresentou aos merlot e cabernet chilenos e, também, aos incríveis malbec argentinos.

Quanta prosa e verso deitamos, eu e amigos, velando a arte de se abrir estes tintos.  Abrí-los e promiscuí-los com queijos, massas, carnes ou nada mais.

Quanta música boa, em sua forma vinil, foi brindada nessas taças de latitude 33°Sul...

Então, num outro belo dia, aquele mesmo alguém alfinetou: - E os tintos brasileiros ?

E lá fomos nós, seleto e democrático grupo de amigos que cultuam os tintos e as músicas, em busca dos bons tintos brazucas.

Pessoalmente, encontrei dois que me surpreenderam e aqui recomendo ao leitor amigo:

Casa Perini Cabernet Sauvignon.  Um veludo.  Equilibrado, suave e intenso.  Justo, na casa dos R$ 20,00.

Mastela Bordô.  Intenso.  Encorpado. De cores vivas, de um rubi brilhante.  Aroma sedutor.  Justo, na faixa de R$ 15,00.

Extremamente acessíveis e de grande qualidade.  Dois excelentes tintos brasileiros.

Bons, belos e justos.

Saúde !

GM

sexta-feira, 16 de março de 2012

E por onde andará Juliette Binoche ?

Atriz de grande talento dramático.

Mulher linda e deliciosa.  Dona de uma beleza única, diferente e que não precisa de holofotes para ser percebida.

E além de tudo isso, francesa ("Ah...as francesas...", já suspirou Vinicius de Moraes, mais de uma vez).

Assim é Juliette Binoche, de quem tanto sinto falta nos recentes lançamentos em sétima arte.

Atuou em vários filmes importantes, ora como protagonista ou as vezes fazendo uma simples escada generosa, para algum colegas que dela necessitasse. 

Sua filmografia é longa, desde 1982, quando fez sua estréia em cinema, atuou em 43 filmes, com destaque para:

- "Je Vous Salue, Marie", 1987;
- "A Insustentável Leveza do Ser", 1988;
- "A Liberdade é Azul", 1993 - que lhe valeu um César de melhor atriz;
- "O Paciente Inglês", 1996 - que lhe valeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante;
- "Chocolate", 2000 - com Johnny Depp;
- "Paris, Eu te Amo", 2006;
- "Copie Conform", 2010 - do iraniano Abbas Kiarostani - prêmio de melhor atriz em Cannes em 2010.

Um currículo de gente grande, numa mulher espetacular.

É o tipo de criatura que poderia habitar nossos sonhos masculinos por muitos anos, sem perder o encanto, mesmo que o tempo seja impiedoso com a bela dona.

Por onde andará Juliette Binoche ?  Se alguém souber, por favor, peça para ela dar uma passadinha em Itu.

Estamos com saudades daquele sorriso indecifrável e de todo o conjunto da obra.

GM


terça-feira, 13 de março de 2012

Pela razão de hoje ter sido o que foi...

Quando perguntaram a Bruce Lee o que fazia quando um obstáculo intransponível aparecia no caminho, ele respondeu que apenas continuava seguindo o caminho.

Quando perguntaram a Ishikawa o que fazia quando um obstáculo se interpunha à frente de suas metas, ele respondeu que só conseguia olhar o obstáculo se tirasse os olhos das metas.

Quando perguntaram a Senna como podia acelerar tão forte em curvas, nas chuvas e em situações de perigo, ele respondeu que não acelerava, o mundo é que ficava estranhamente lento.

Às vezes é preciso mais inspiração do que respiração.

Hoje, foi um desses dias !

GM

sexta-feira, 9 de março de 2012

Comemorando os 10.000 pageviews !

E para comemorar a marca de 10.000 pageviews, que nosso pequeno, pessoal, amador e sem fins lucrativos blog, atingiu, estamos lançando uma pequena campanha cultural:

O amigo leitor que se sentir à vontade para fazê-lo, poderá postar algumas linhas sobre sua banda, artista, filme ou livro preferido; vale também dicas gastrônomicas, de enocultura ou teatro.
Qualquer post que esteja relacionado à natureza do blog: um lugar para relaxar.
Os posts serão feitos no facebook, em seus próprios perfis. O blog vai lançar estes posts com as devidas assinaturas de autoria.
Não há tamanho padrão para o post, pode ser uma única frase ou várias linhas dedicadas ao assunto. Tudo será lido, com muito carinho, por uma comissão composta por mim, eu mesmo e myself.
Serão escolhidos 03 posts para uma votação final, via blog ou facebook, e os escolhidos ganharão um pequena e carinhosa lembrança do blog:
- 1º lugar: 01 DVD clássico, a ser escolhido pelo vencedor, entre as opções rock / pop / blues / jazz;

- 2º lugar: 01 CD a ser escolhido nas mesmas opções do 1º lugar;

- 3º lugar: 01 livro a ser escolhido entre os gêneros: biografia / literatura clássica / best seller.
É uma forma de agradecer aos amigos leitores que gostam de ler os posts que o blog publica e também de incentivar mais a adesão à música, bons filmes, livros e outras coisa boas que as vezes ficam pelo caminho.

Forte abraço !

GM


quarta-feira, 7 de março de 2012

Brothers in Arms, do Dire Straits


Alguns discos marcam profundamente o DNA de uma banda, ou de um artista.

Dizem até que certas bandas ou artistas são "estrelas de um disco só" e que ficam estigmatizados por este trabalho.  Por mais competente que seja.  Por mais comercial que seja.

Falam por aí que a sede e a ganância da indústria da música, e também de alguns artistas, levam à produção de discos pequenos, que acabam rotulando o criador.

Neste sentido, me parece que Robertinho de Recife (um dos maiores guitarristas que o Brasil já teve), ficou amarrado ao disco "Satisfação". 

Também pode ser correto dizer que a banda The Police, quase se escravizou em "Ghost in the Machine".  E não seria exagero afirmar que Biquini Cavadão, tenha se resumido, finitamente, ao disco "Tédio".

Poderia também apedrejar um pouquinho nomes como Simple Minds ("Live"), Os Novos Baianos ("Acabou Chorare") e Light House Family ("Duets"), todos retidos dentro dos próprios trabalhos...mas jamais falaria algo assim do Dire Straits.

A banda do monstro e guitarrista Mark Knopfler foi muito mais do que o disco "Brothers in Arms".

E se restar alguma dúvida, que possamos todos ouvir juntos o álbum "Alchemy", gravado ao vivo nos fins dos anos 70 e início dos 80.

Eles são, foram e serão grandes músicos.  Mark revolucionou a técnica para guitarra, puxando dedilhados desconcertantes, ao invés de arpejar.  A banda em si era imensa.  Repleta de profissionalismo e gigantes na improvisação.

O disco "Brothers in Arms" apenas fortaleceu e massificou o que todos nós já sabíamos: o "Brothers in Arms" era do Dire Straits, e não o contrário.

Quem ouvir, verá !

GM

sexta-feira, 2 de março de 2012

Nada como um março, depois de um fevereiro

Quando a ressaca passar, respire fundo e lembre-se de que ainda somos um país.

Quando o pânico chegar, respire fundo, várias vezes, e não faça mais nada.

Se esquecer o caminho de casa, sua família virá te buscar.  Se esquecer do caminho da verdade, seus amigos virão te resgatar.  Se nada disso acontecer, desligue a TV e abrace aquele que estiver ao seu lado, pois ainda há tempo.

Para toda e qualquer dor, sorrir é alívio imediato.

Vamos em frente !

GM