sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A incrível saga do Angu do Gomes

 
 
Esta saga apesar de carioca, não é exclusividade Fluminense. Trata-se de uma saga gastronômica e de uma estória de muita luta.
 
Entre as décadas de 60 e 90, as noites e madrugadas cariocas eram regadas a muita agitação e descontração.  O carioca estava aprendendo a curtir a noite, muito antes da palavra "embalo" ser substituída pela corruptela "balada".  Tudo era festa, sol, praia, as boates da zona sul, os bailes da Pavuna e o angu do Gomes.
 
Pra situar um pouco mais aqueles que não tiveram o privilégio de viver no Rio nesta época, eu diria que o angu do Gomes está para o fim de noite, assim como a lanchonete Estadão de São Paulo ou o Bate-Papinho de Campinas, estão para a madrugada paulicéia e interiorana, respectivamente.
 
O angu do Gomes era o regalo final dos bêbados e equilibristas. 
 
Depois de muita cerveja, vermute, conhaque e batidas coloridas, o consolo final se dava mesmo num profundo, quente, recheado e metálico prato de angu.
 
O angu do Gomes.
 
A receita, dizem, era de Manoel Gomes, pai de João Gomes, a quem coube dominar a técnica e expandir o negócio.  Diz ainda a lenda, que no auge do negócio, em meados de 1980, eles chegaram a ter mais de 500 quiosques de angu espalhados do Leme ao Pontal. 
 
Isto sem contar o célebre restaurante Galeto 183, no Centro do Rio, que durante muito tempo foi reduto dileto e predileto do clã Gomes.
 
Funcionava mais ou menos assim: toda a energia gasta com a dança, o canto, o sexo e a metabolização do álcool ingerido, era reposta através de  porções generosas do angu do Gomes.
 
Nossa juventude era um grande prato de angu !
 
Famosos (como Tom Jobim, Ruy Castro e Evandro Mesquita) e anônimos como eu e minha turma de pobres felizes, frequentavam assíduamente os quiosques do Gomes, em busca da fiel reparação e recuperação da vitalidade.
 
Depois era só recomeçar, tudo de novo.
 
O negócio prosperou e em 77, um restaurante foi inaugurado como base dos quiosques. Mas na década de 1980, a crise e o advento das redes de fast food trouxeram grande impacto ao negócio.
 
O carioca, que já conhecia o Bob´s, se rendeu às cores do McDonald's.  O angu ficou no prato.
 
Em 1995, o angu do Gomes fechou as portas e recolheu os pratos.
 
Um infarto fulminante, aos 77 anos, levou João para as cozinhas do paraíso. Pobre, esquecido e endividado.
 
Ainda nos anos 90 um neto e alguns amigos tentam reinaugurar  o negócio, reabrindo o restaurante da Praça Mauá.
 
A receita, dizem, era a mesma, mas todos nós já tinhamos passado do ponto.
 
Melhor guardar na memória.
 
GM
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Miguel de Cervantes Diria Que...

"Deus tolera os maus, mas não por muito tempo."

E eu sou forçado a dizer que nosso mundo foi invadido por pessoas sem caráter, sem escrúpulos e sem ética.

Essa gente pequena está assistindo demais a séries de TV, aonde invariavelmente a vida humana não vale um sopro.

Não muito tempo atrás, antes de tomarmos uma decisão que pudesse deixar alguém em risco, perigo ou mesmo numa posição desconfortável, pensávamos duas, tres, quatro vezes e se ainda assim, a decisão tivesse que ser tomada, passaríamos várias noites intranquilas em remorso e desequilíbrio.

Nossa geração tem (ou tinha) empatia.

Hoje, assistimos todos os dias pessoas sendo aniquiladas, enganadas, desrespeitadas por uma geração de jovens que não entende o significado da palavra escrúpulo.

O lema dos dias atuais é "antes ele do que eu".  Ou ainda: "está entrando água no 'seu' lado da canoa".

A esse povo falta entender o bumerangue que a vida é, e que canoas afundam como um todo.

A essa gente falta ler e entender o que Cervantes dizia, sobre a honra de sermos homens e de criarmos nossos filhos como homens, não como animais.

GM

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Antes tarde do que nunca...

Presságio:

Quando as nuvens negras se movem sem vento e bloqueiam a passagem de toda a luz.

Andança:

Quando os ventos se movem em espirais à sua volta, levando embora todo o oxigênio, pela ação do vácuo de mentes mesquinhas.

Constatação:

A desilusão é apenas mais uma visita da verdade.  É bom saber aproveitar !

Quæ Sera Tamen !!

E vamos em frente !

GM

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Segunda Guerra Mundial sob uma nova perspectiva

 
Uma das maiores, senão a maior, tragédia da humanidade.  O flagelo da ignorância bélica. 

A Segunda Grande Guerra Mundial.

Numa coleção de 18 DVD´s, a série "Battlefield" mostra e revive a dureza e frieza do maior conflito armado de nossa história.

Cenas reais, áudio original, fotografia direta, fatores que fazem deste documentário um dos mais sérios já editados sobre o tema.

O foco são as batalhas.  Épicas, sangrentas e decisivas batalhas, que marcaram o lento avanço dos aliados, contra as forças do eixo Berlin-Roma-Tóquio.

Se você gosta de história, recomendo.  Se você se interessa por questões militares e geo-política, recomendo.

E se você apenas se interessa pelo passado, como fonte reveladora de um possível futuro, recomendo muito !!

GM



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Muito mais do que o rei do baião

Luiz Gonzaga foi um gênio musical.

Sua importância  e contribuição para a música do século XX vai muito além da criação e popularização de gêneros como o baião. o xote e o xaxado.

Dono de um ritmo único, uma forma de dividir inigualável e de uma criatividade musical intuitiva sem par, Luiz Gonzaga se perfila ao lado de gênios como Louis Armstrong, Tom Jobim e Frank Sinatra.

Além de sua contribuição para a música, Gonzagão também inspira por sua estória de vida, vítórias sobre as dificuldades e força extrema de seu positivismo e sorriso largo.

Com certeza, um cabra pra lá de iluminado.

GM

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

No dia em que Niemeyer arredondou uma mesa de carteado

Neste dia inesquecível estavam, lá no céu dos justos e inteligentes, Chico Anysio, Millôr Fernandes e Joelmir Beting se divertindo às custas de uma jogatina pacífica e sonolenta.

Era um misto de bacará com sueca, típico jogo das noites de beco da Lapa.

Ocorre que estavam em três, e jogatina de cartas se calha melhor com quatro na linha.  Quatro na linha e nenhum no gol, pois craque feito nas letras e nas ruas, que se preze, só joga no ataque.

O estranho é que a mesa que dividia e juntava ao mesmo tempo os tres desencarnados amigos era pontuda.  Pontuda, bicuda, sisuda e triangular.  A pobre coitada, provavelmente, nunca fôra levada a passear uns dias em Brasília, posto que se tivesse ido, voltaria redonda.

Niemeyer foi então se achegando de mansinho.  Com passos lentos e precisos, marcados na cadência de respeitáveis 104 primaveras, encostou no ombro de Millôr, que assobiou em resposta:

- Demorou, meu velho !  E logo agora que eu estava ganhando !  Trouxe o projeto ?

Do bolso de sua túnica branca, única e radiante, tirou um arrazoado de idéias gentis, traduzidas em traços leves e equilibrados.  Tal qual a mãe natureza faria.

- É esse o projeto ?  Foi o Oscar que o fez ? Desdenhou o velho Beting, com ares de provocação inteligente.

- Fiz não...só estava no meu bolso.

Uma resposta proferida em meia boca e com palavras inteiras.

O projeto foi para a mesa, e a mesa ficou redonda.  Os traços do paraíso também se arredondaram.  E assim como na Terra, esse paraíso nunca mais foi o mesmo.  Ficou muito melhor, como melhor também seria uma Brasília desabitada de políticos corruptos.

Nosso planeta era diferente antes da passagem de Niemeyer.  Era mais feio, mais duro e mais frio.

O velho Oscar arredondou nossas vidas, e construiu a mais importante obra arquitetônica da história de nosso mundinho pequeno.

Lá em cima, a velha mesa de carteado, agora suave, equilibrada, ousada e perfeita, agradou a todos.

Exceto ao velho Millôr, que é muito mau humorado.

Pergunte ao Jaguar.

GM

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O verdadeiro sentido das coisas

E no final, quando uma turba de minhocas estiverem metabolizando todos os seus carboidratos e todas as suas fibras calcificadas, as únicas coisas que terão valido à pena, são as horas que você passou brincando com seu filho,  as noites em que fez amor com sua mulher, os amigos que você soube abraçar, a família que você ousou aproximar, a música que você  se permitiu ouvir, os filmes em que você se deixou chorar, a saúde que você conseguiu dar e as viagens que fizeram parte disso tudo.

O resto, é dinheiro.  E o dinheiro apenas troca de mãos.

O tempo todo.

GM

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

E Deus criou o rock and roll...


 

Este artigo não é acadêmico.

E nem é também obra de um profissional em história da música, ou mesmo de um especialista em comportamento.  Trata-se apenas de um texto meu, sobre um tema que me agrada e que resolvi dividir e compartilhar com vocês, amigos, que fazem uma leitura paciente das ideias simples que publico no blog.

O tema de hoje é complexo, apesar de simples.

Falar da origem do rock and roll, é uma tarefa que requer alguns cuidados.  Isto porque o tema é de domínio de todos.  Todo mundo entende, ouve, ouviu, gosta ou gostou de rock and roll.  E também por que o rock é uma coisa velha, graças à Deus.

Velha na origem, que remonta aos idos de 1910 e velha na execução, que mantém a mesma base harmônica e melódica desde 1956, também graças à Deus.

Então quando falamos de uma área do comportamento e da arte que existe há muito tempo e também é, digamos, de domínio público, há de se ter cuidado.

Todo mundo é dono do rock and roll e quase todo mundo se identifica com um cantor, guitarrista ou banda de rock and roll.

Portanto, olho vivo e faro fino.

O rock, enquanto gênero musical, não foi inventado por ninguém.  Não foi o DJ Alan Freed que inventou o gênero.  Ele pode no máximo ter popularizado a expressão “rock and roll” em 1951, reforçando, apenas, uma energia que já habitava as ruas e algumas pistas de dança.

Também o rock não foi invenção de Elvis, Little Richards ou Chuck Berry.   Estes com certeza estruturaram a coisa e edificaram a imagem.  Mas não inventaram o gênero.

De fato, em minha opinião, o rock and roll apenas aconteceu.  O motor deste acontecimento foi mesmo o comportamento dos jovens.  Havia na década de 1950 toda uma geração que represava seus pensamentos, instintos e desejos.  Havia um autoritarismo exacerbado por parte das famílias patriarcais americanas e havia também muito conflito social e racial.

O cenário era perfeito para que uma mudança ocorresse.  Uma mudança só ocorre quando um cenário qualquer está tão tenso e tão desgastado que não há outra saída além da ruptura.

O rock foi isso.  Uma ruptura comportamental e artística baseada em poucos acordes e muita atitude.

Esta estória, antes de virar história, começou com a música que veio do sul dos Estados Unidos.  Naqueles tempos, provavelmente da década de 20 à década de 50, existiam alguns gêneros, por assim dizer, musicais que ficaram conhecidos como os “pais” do rock na roll.

Das igrejas e da fé negra veio a “spiritual music”.  Mãe e pai do “gospel music” e que habitava lares, igrejas e o cotidiano de uma gente simples que gostava de cantar enquanto trabalhava.

Das colheitas de algodão veio o Blues.  Uma triste e reconfortante música que servia de alento para jornadas diárias de mais de 18 horas de trabalho e que também acalentava a alma de bêbados criativos que se reuniam em bares “honky tonky”, para fazer música e beber whisky de milho, do bom e barato.

O termo “honky tonky” servia para cunhar, além dos bares sujinhos da época, também os trens que faziam a ligação entre as cidades do sul e Chicago e também as festas “rent honky party”, aonde músicos viajantes tocavam a noite inteira em pensões e albergues, para atrair gente que dançava o “booogie-woogie” e bebia um Bourbon pobre e gostoso.

Era a única forma que músicos com muito talento e pouco dinheiro encontravam para pagar suas estadias e alguma comida que sobrasse.

Há ainda outro importante componente musical no contexto daquilo que se pode chamar de criação do rock and roll.  Das festas de rancharias e fazendas de gado, com um sotaque típico de cowboys e matutos, veio a música country, também conhecida como country and western.

Com uma base harmônica mais desenvolvida e com uma melodia mais alegre, o country teria um papel importante na miscigenação musical que daria origem ao rock.

Então temos um cenário musical que pode ser resumido mais ou menos assim:

a.       Spiritual music e Gospel Music – Harmonias vocais e elementos percussivos;

b.      Blues – Guitarra acústica e uso de escalas cromáticas;

c.       Country – Harmonização mais complexa com melodias mais alegres.

Essa combinação foi sendo feita aos poucos.  O novo gênero foi sendo construído com base em contribuições populares, de festejos, de encontros de jovens e através das viagens que os músicos faziam entre as cidades novas que iam surgindo no sul americano, a partir do Delta do Mississipi em direção ao norte, em direção a cidades como, talvez, Chicago.
O rock seria então um filho de três pais.

Na música spiritual e gospel uma grande influência foi a cantora Mahalia Jackson, que já na década de 20 e 30 foi a principal voz do gênero. 

O bluesman Robert Johnson e, mais tarde, Muddy Watters, também foram grandes influenciadores e no country, a principal referência foi Hank Williams.

Quando Elvis aconteceu em 1956 e, junto com ele, outros nomes importantes, as bases do rock já estavam sedimentadas e já eram do conhecimento de muita gente.

Elvis, Chuck, Richards, Jerry e muitos outros ajudaram a estruturar, dar forma, dar imagem e a popularizar o gênero.

A criação foi obra de Deus.
GM