terça-feira, 11 de dezembro de 2012

No dia em que Niemeyer arredondou uma mesa de carteado

Neste dia inesquecível estavam, lá no céu dos justos e inteligentes, Chico Anysio, Millôr Fernandes e Joelmir Beting se divertindo às custas de uma jogatina pacífica e sonolenta.

Era um misto de bacará com sueca, típico jogo das noites de beco da Lapa.

Ocorre que estavam em três, e jogatina de cartas se calha melhor com quatro na linha.  Quatro na linha e nenhum no gol, pois craque feito nas letras e nas ruas, que se preze, só joga no ataque.

O estranho é que a mesa que dividia e juntava ao mesmo tempo os tres desencarnados amigos era pontuda.  Pontuda, bicuda, sisuda e triangular.  A pobre coitada, provavelmente, nunca fôra levada a passear uns dias em Brasília, posto que se tivesse ido, voltaria redonda.

Niemeyer foi então se achegando de mansinho.  Com passos lentos e precisos, marcados na cadência de respeitáveis 104 primaveras, encostou no ombro de Millôr, que assobiou em resposta:

- Demorou, meu velho !  E logo agora que eu estava ganhando !  Trouxe o projeto ?

Do bolso de sua túnica branca, única e radiante, tirou um arrazoado de idéias gentis, traduzidas em traços leves e equilibrados.  Tal qual a mãe natureza faria.

- É esse o projeto ?  Foi o Oscar que o fez ? Desdenhou o velho Beting, com ares de provocação inteligente.

- Fiz não...só estava no meu bolso.

Uma resposta proferida em meia boca e com palavras inteiras.

O projeto foi para a mesa, e a mesa ficou redonda.  Os traços do paraíso também se arredondaram.  E assim como na Terra, esse paraíso nunca mais foi o mesmo.  Ficou muito melhor, como melhor também seria uma Brasília desabitada de políticos corruptos.

Nosso planeta era diferente antes da passagem de Niemeyer.  Era mais feio, mais duro e mais frio.

O velho Oscar arredondou nossas vidas, e construiu a mais importante obra arquitetônica da história de nosso mundinho pequeno.

Lá em cima, a velha mesa de carteado, agora suave, equilibrada, ousada e perfeita, agradou a todos.

Exceto ao velho Millôr, que é muito mau humorado.

Pergunte ao Jaguar.

GM

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