quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A bossa é nossa

A Velha Bossa Nova.
Nos idos de 1961, o jazz passava por uma crise existencialista, bem aquém de Jean-Paul Sartre.
Entediado da virtuosi cromática de seus amigos, Charlie Byrd, guitarrista competente e careca, veio ao Brasil beber cachaça, comer umas mulatas e ouvir música.
No Rio, travou contato musical com a jovem turma da Zona Sul carioca e descobriu a síncope e a batida sincopada de João Gilberto. Descobriu também a sutileza, simplicidade e sofisticação de Tom Jobim.
Muitas garrafas depois, no beco de mesmo nome, resolveu voltar a terra da liberdade e reinventar o jazz.

Faltava um nome de peso.
Stan Getz voltava de uma turnê pela Europa e estava ávido por novidades. Depois de dois encontros furtivos, o careca convenceu o boca de ouro a ouvir uns discos que tinha trazido lá do Brasil.
"De onde ?", certamente teria dito o raposa Getz.
"Do Brasil, a capital da Argentina." Certamente teria respondido o curto guitarrista.
"Ah...bom !".

Depois desse encontrinho de bosta, os dois ensaiaram muito e, mesmo ainda sem ter aprendido o ritmo, as harmonias e a alma da bossa, resolveram gravar um disco: "Jazz Samba".
Até aí tudo bem.
O Problema é que no encarte do disco publicaram, 48 anos atrás, algumas inverdades que preciso aqui corrigir:
1. Essa duplinha de músicos notas sete e oito, respectivamente, não inventaram a bossa nova;
2. Também não a aperfeiçoaram, nem reiventaram e nem qualquer outra bobagem do gênero;
3. Mr. Byrd quase não conseguiu aprender as dissonâncias da bossa.

E olha que a bossa é só tudo isso.
Vinicius e Tom se reuniram para fazer a trilha da peça Orfeu do Carnaval. Bom começo. Logo depois , deram de presente à Divina Elizeth Cardoso, as canções de "Canção do Amor Demais".
Neste disco tinha um baianinho nervoso, jovem, e que tocava um violão de uma forma diferente. Ele fazia parte da equipe de músicos do disco e, a todo momento, implicava com a Divina, tentando fazer ela cantar de uma forma mais moderna, com menos vibrato.

"Fica quieto garoto, o disco é meu !"
Ele ficou, mas por pouco tempo. Pouco depois gravou ele mesmo a canção "Chega de Saudade"; sem vibrato, bem moderno, um quase jazz.
O resto é história e estória.
Stan e o velho, na época novo, Byrd, apenas seguiram os passos dos mestres brazucas. A bossa continuou dissonante e acessível.
Charlie ainda tentaria reproduzir o som em outros trabalhos, como em "Cry me a River" com Julie London. Lindo, mas muito longe das oitavas do maestro Antonio Brasileiro.
Stan ainda gravaria mais tarde uma obra-prima com João, o antológico Getz/Gilberto, ganhador de 04 grammy. A dupla faria de "Garota de Ipanema" a música mais executada no mundo em 64 .
A generosidade de João faria ainda Astrud, um sub-produdo daquele disco, com fina, pequena e afinada voz de fada.

E só para registrar, "Jazz Samba" é um disco bem fraquinho.

Vamos em frente !

GM

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