sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Maria, Carnaval e Cinzas, ou, Sobre o poder e seu uso





O festival da canção da TV Record de 1967 é casa de cenas pitorescas e inesquecíveis.




Desde a cena do cantor Sérgio Ricardo, duramente vaiado durante sua apresentação de "Beto Bom de Bola", quebrando o violão e o arremessando contra a platéia, até Hebe, errando o texto na apresentação.

Aquele ano era o ano de Edu Lobo. Dele e de Marília Medalha (magrinha, ainda). Dele, de Marília Medalha e de Capinam, que escreveu a letra para uma melodia do, ainda não maestro, Edu, o filho de Fernando, o Lobo.

Mas a cena que quero destacar, e que está disponível no site "Alma Carioca", é outra.

Trata-se do também ainda não-rei Roberto, cantando um samba-canção.

Maria, Carnaval e Cinzas ficou em 5º lugar naquele festival e Roberto, quando chamado para sua apresentação por Hebe, recebeu uma dura e longa vaia.
Sim, naqueles idos anos de chumbo, a repressão era tanta que na platéia as pessoas não perdiam a oportunidade para extravasar. De se revoltar e de gritar.

Provavelmente uma vaia a um artista era na verdade uma vaia oculta a um general qualquer, numa caserna qualquer.

Era a terapia que se podia pagar.

Que o diga Sérgio Ricardo.

Quando as vaias começaram Roberto abaixou a cabeça, num gesto tradicional de agradecimento que os artistas fazem quando recebem aplausos e, bem baixinho, começou a interpretar o samba.

Olhou fixamente para as pessoas que o vaiavam e sorriu, daquele jeito mesmo, com aquele sorriso de moleque de 09 anos.

Sorriu e cantou.

Aos poucos um fenômeno interessante aconteceu. As vaias foram diminuindo e se transformando em aplausos. Lentamente, aquelas pessoas antes insanas foram se convertendo e se deixando seduzir pela música.

Antes da 1ª metade da música todos já cantavam o refrão e aplaudiam. Alguns vibravam como nas velhas tardes de domingo.

Um cena muito forte e emocionante.

Num exemplo cândido e puro do uso do poder de um rei ainda não coroado, Roberto agradeceu os agora intensos aplausos e baixou a cabeça de novo, como a se lembrar das primeiras aulas de música em Cachoeiro.

Agradeceu aos músicos, jogou um beijo para Hebe e seguiu andando, mancando um pouquinho, mas num passo decidido direto para seu camarim de lá para a história da música pop.

Esse cara é impressionante !

GM






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