segunda-feira, 28 de março de 2011

RGE - Rio Gráfica e Editora

Muito competente operador do mercado editorial brasileiro na primeira metade dos anos 80 ! De muito saudosa lembrança ! Povoou boa parte do meu ócio criativo juvenil, diluído numa infância pobre e numa adolescência atenta. A RGE era uma editora bem à frente de seu tempo. Vou citar só alguns exemplos: Numa época em que a ditadura ainda se fazia presente, foi a primeira a inovar na linguagem editorial brasileira, trazendo a iconoclastia do POP para a mesa do jovem e cáustico tupiniquim.


Nos tempos em que a "Sra. Solange..." - a mesma que inspirou Léo Jaime a fazer a versão de "So Lonely" do The Police para o português - ainda assinava os termos de liberação de censura (aqueles cujas cópias em facsímiles iam para a tela da TV...como uma imagem scanneada, ao mesmo tempo em que uma locução em off dizia..."censura 14 anos...")...sim meus amigos, anos de chumbo...


Nessas eras, RGE comprou os direitos de publicação do universo Marvel, e passou a lançar quinzenalmente títulos que faziam a cabeça da geração HQ: "O Espetacular Homem-Aranha...O Incrível Hulk...O Invencível Homem de Ferro"...todos os heróis eram precedidos de um adjetivo pomposo, que chamava a atenção...uma fabulosa recordação, que me perdoe aqui o Luiz Fabiano...


Mas a estória que se recusa a sair da memória é outra. Ocorreu bem depois da RGE praticamente abrir falência. Morava em Campinas e estuda na PUC. Dos amigos da faculdade, alguns eram mais chegados, trocávamos idéias sobre mulheres, projetos, futuro...coisas normais para quem tinha na época 20 e poucos anos.


Ocorre que um desses chegados era o Miquiluchi, um cara muito bacana, de boa índole que certa vez nos convidou para um almoço em sua casa em Mogi-Mirim. Lá chegando fomos apresentados à família, tudo perfeito, todos gente de bem e do bem. Logo o Miquiluchi trouxe para a sala dois grandes livros, pesados, com capa dura, encadernação linda, projeto gráfico perfeito...uma obra-prima !! O livro se chamava "Rock - A Música do Século XX", apresentados em 02 volumes. Fiquei de boca aberta por quase 38 segundos e meio ! Naquele dia eu tinha levado para escutar lá na casa de meu amigo, o álbum duplo (vinil, pois CD era coisa de rico...e otário !) do Guns gravado ao vivo no Japão.


Uma beleza ! Com direito a encarte com letras traduzidas e ensaio exclusivo de fotos ! Combinamos assim: eu levava os livros e o Miqui ficava com os discos...depois de duas semanas trocaríamos a encrenca e cada um ficaria com o seu de direito.


Hum-Hum... Isto foi em 1992...enquanto escrevo esta nota para esta coluna...sabe o que está aqui comigo na mesa ao lado ? Pois é, não destrocamos nossos tesouros literários e musicais.


Também não sei dizer quem saiu ganhando, mas o fato é que eu fiquei até hoje com a esperança do meu amigo não pedir de volta estes livros incríveis.


Mas digo ao Miqui, que bem poderia estar me lendo agora, que se quiser de volta os belos exemplares....tudo bem !


Me traga aí o álbum do Guns, vamos ouvir aqui em casa...vamos apresentar nossos filhos...comparar nossas olheiras cansadas...lembrar dos bons tempos e esvaziar algumas garrafas de malbec juntos.


Seria sem dúvida um grande dia !


GM

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