segunda-feira, 25 de junho de 2012

Irapuan, um brasileiro



Esta é a estória de Irapuan de Souza Coelho.

Um brasileiro. Não como eu, ou como o mais comum dos brasileiros. Irapuan e sua estória são incrivelmente incomuns. Nos mais diversos sentidos e dimensões.

Um brasileiro brilhante e vencedor, que fez, de sua dor, combustível para seguir em frente, muito em frente !

Conheci Irapuan na primeira metade dos anos 70. Acredito que nosso primeiro encontro tenha acontecido no início de 1976, nas ruas cheias de poeira e lama de uma Mesquita que ainda não era município.

Jogávamos bola. Era o que fazia qualquer menino de rua daqueles tempos. Jogávamos bola.

E foi jogando bola que o conheci. Num “dois toques” em frente a um terreno baldio qualquer da Rua Cordura.

Outros meninois compartilhavam aquele mundo simples. O habilidoso “Sergio Minhoca”, ou o guerreiro “Paulinho Pelanca”, ou mesmo um dos mais velhos, a quem temíamos e respeitávamos: Zé Ricardo, Geraldino ou “Maurício Cabeleira”.

Todos amigos de infãncia, na fé, na escassez e na bola.  Assim como Irapuan.
Era um tempo distante, aonde as zombarias de rua moldavam o caráter na dureza da pobreza. Bulling era uma palavra que simplesmente não existia.

Foi nesse contexto inocente e infantil que recebemos, todos os amigos da rua, a notícia que mudaria a vida de Irapuan para sempre.

Num acidente idiota, um ônibus invadiu a calçada da esquina das Ruas Virtude e Av. União e esmagou uma das pernas de Irapuan.

Perna, que em seguida foi amputada.

Irapuan tinha então 15 anos de idade. Estava se preparando para a vida e iniciando o aprendizado da natação. Esporte que seria seu oxigênio a partir daí.

A nossa rua (na época não havia o conceito de “comunidade”), sofreu um golpe violento. Um de nossos mais brilhantes meninos foi brutalmente agredido.

Golpe duro, físico e psicológico.

Depois disso veio a adaptação. Uma perna mecânica. Fisioterapias. Apoio da família, amigos e esporte.

Muito esporte.

Irapuan morava bem pertinho da minha casa. Não mais distante que uns 200 metros. Conheci seus pais e ele esteve em minha casa diversas vezes. Em festas ou brincadeiras. Com as primeiras garotas ou apenas jogando uma boa partida de “sueca”.

Era intrigante. Uma pessoa brilhante. Superou tudo. Passou por cima de suas dificuldades como um trator.

Tornou-se o maior nadador da cidade. E competia com atletas ditos “normais” fisicamente. Não era um competidor que nadava contra atletas que apresentassem algum tipo de deficiência. Encarava nadadores de “ponta” e vencia.

Somente depois de alguns anos é que começou a se dedicar ao esporte paraolímpico.

Em muito pouco tempo se tornou um dos maiores atletas de natação do Brasil, como atestam seus resultados:

Em 1977 - CAMPEÃO IGUAÇUANO;

Em 1978 - BI-CAMPEÃO IGUAÇUANO;

Em 1981 - CAMPEÃO BRASILEIRO (Curitiba, Paraná);

Em 1982 - Medalha de Bronze nos Jogos Pan-Americanos na cidade (Halifax, Canadá);

Em 1983 - BI-CAMPEÃO BRASILEIRO (Niterói/RJ);

Em 1984 - participou das Olimpíadas para Deficientes nos Estados Unidos / Illinois;

De 1985 a 1989 - obrigado a parar de competir porque precisava trabalhar;

Em 1990 - Jogos Amistosos em Maceió, quebrando todos os Recordes Brasileiros;

Em 1991 - TRI-CAMPEÃO BRASILEIRO (Curitiba, Paraná);

Em 1992 - participou das Olimpíadas de Deficientes em Barcelona;

Em 1994 - TETRA-CAMPEÃO BRASILEIRO em São Paulo/SP;

Em 1994 participou dos Jogos Mundiais de Natação na Ilha de Malta.

Irapuan é um vencedor. Superou obstáculos e se tornou modelo e referência para muita gente.

Inclusive para mim.

Depois que me mudei para São Paulo, perdi contato com o amigo de infância. E eis que já se passaram 23 anos, desde então.

Recordo-me com carinho daqueles tempos e do amigo atleta.

Sua estória, na íntegra e narrada por ele mesmo, se encontra no link:

http://www.reocities.com/HotSprings/7455/irapuan.html


Agradeço ao amigo “Puan”, aonde quer que ele esteja, por ter me ajudado com seu exemplo e caráter.

GM














3 comentários:

  1. Que linda e merecida homenagem ao nosso amigo e guerreiro Irapuan!Ele é realmente um exemplo para todos nós,uma pessoa linda e um ser humano incrível!E você,Gil! Têm uma sensibilidade impar, para trazer está homenagem ao nosso amigo para nós!Que amor!Um beijo enorme no coração de vocês dois, meus grandes amigos!!!

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