sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma estória de Chico e Tom


Tom não gostava de dar entrevistas.

Exceto na compania de amigos, de uma boa bebida e, de preferência, que a entrevista fosse em sua casa, na Gávea.

Tom era assim mesmo.  Meio normal e meio gente.

Óbviamente não o conheci pessoalmente.  Sou apenas um ouvinte permanente.  Mas de tanto ler e ouvir me tornei íntimo.  Dele e de sua arte.

Através da incrível cultura musical de meu tio Arlindo, pude acessar umas e outras estórias deliciosas.

Algumas me lembro bem, e vou compartilhar aqui com vocês, nesta pequena coluna.

Outras ficaram para trás.

Aqui vai uma, narrada pela memória do bom Arlindo:

Conta-se que Tom e Chico, já tranquilizados pela ação moderada de um bom scotch, estavam na Gávea, na casa do Tom, concedendo uma entrevista para a TV Globo.

Tom falava do novo disco e sobre a dúvida que tinha entre sair em turnê ou se dedicar a shows mais intimistas no Canecão, tradicional casa de shows no RJ.

Chico sorria.  Dava palpites.  Vez por outra esboçava uma idéia contrária à do mestre e logo se ajustava, humilde e zeloso.

Quando o repórter apontou o microfone para Chico, a conversa ficou um pouco mais tensa.  A pergunta foi sobre as preferências instrumentais de Chico, sobre sua técnica ao violão, e outra bobagem qualquer do gênero.

Chico sorriu e disse: "- Acho que até hoje ainda não aprendi a tocar violão...não sei por que insisto nesta profissão...".

Tom teria feito uma intervenção, dizendo que Chico era um grande violonista.  Mas isto já não tinha a menor importância.  Boas gargalhadas dissiparam a névoa daquela pergunta tosca e mais uma dose escocesa selaria a questão.

Tom falou mais.  Confirmou seu amor pelo Jardim Botânico e de como gostaria de morar numa árvore centenária de lá (hoje a dita árvore está lá e se chama "espaço Tom Jobim").

Seguiu a entrevista, feliz, dedilhando algum arpejo ao violão, com dificuldade, e olhando fundo nos olhos do repórter, teria dito: "- Violão ?  Liga pro Baden, a gente aqui só enrola...".

Outra saraivada de risadas, pôs fim definitivo aquele quiz ridículo.

Estava finada a entrevista. 

Chico e Tom seguiram casa adentro, enrolados num abraço cúmplice de irmãos, na vida e na música.

O violão ficou aguardando, na varanda, paciente, na compania do vento.

Coisa de gênio.

GM

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