sexta-feira, 18 de maio de 2012

Gamboa, berço da boa malandragem carioca



Eu nasci na Gamboa.

Senador Pompeu, 51.  Bairro da Saúde, pertinho da Zona Portuária. 

Um cortiço que abrigou famílias portuguesas que vieram trabalhar na edificação de um Rio de Janeiro, que crescia rápido, nos caminhos de Pereira Passos.

Nasci na rua onde morou Chiquinha Gonzaga e João da Baiana.

Brinquei a infância nas pedras das ruas da Conceição, Camerino e da Ladeira Pedro Antonio.  Subi e desci o Morro da Conceição, centenas de vezes, sem nunca ter observado malvadeza ou desvario.

A Lapa levou a fama, mas foi mesmo a Gamboa que foi o berço do samba e da boa malandragem.

Cantada pelos modernos Chico, Bezerra da Silva e Dicró e referenciada pelos eternos Donga, Heitor dos Prazeres e Sinhô, a região da Gamboa e da Cidade Nova sempre foram os alicerces do samba e da raiz.

Que assim o diga a Pedra do Sal, ali tão pertinho da subida da Conceição, do Valongo e da Sacadura Cabral.

Ontem, se não fosse pelas lembranças tão vivas daqueles tempos de infância, brindados na Gamboa, teria me perdido em meio a tanta reforma, construção e desordem urbana que hoje ali se vê.

De dentro do táxi, fui orientando o condutor, bom vascaíno: vira aqui, atravessa alí, estaciona lá...de forma que pudéssemos sair do aeroporto Santos Dumont e chegar na Praça Mauá, a tempo de meu compromisso.

Alguma coisa estava mudada e muita coisa permanecia igual.  Inclusive o aroma do ar, o prédio da Noite e a Ladeira do Escorrega.

A Gamboa está viva, ainda, mesmo que muitas autoridades incompetentes insistam em sufocá-la.

Viva na boa malandragem e no sorriso de João da Baiana, aonde que que ele esteja.

GM

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