1. Fernando Pessoa:
Ontem, li um poema de Fernando Pessoa, enquanto ele mesmo, que aprofundava na carne a percepção que a alma do homem tem, a respeito do corpo da mulher.
Dizia o luso poeta:
"...e não hei de querer amá-la posto que é comum e trigueiro, mas sim hei de devorá-la, até fazer sangrar a ponta dos mamilos...até que não haja um único lote de pele que não tenha sido mordido...".
E o tarado e imortal poeta seguia mais em frente, em seu soneto, desnudando dimensões eróticas na visão física das mulheres que amamos:
"...e quando cansados, dormindo valentes por entre coxas meladas, que não nos sobrem ares de insatisfação, tanto nelas quanto em nós, mas que nos falte o fôlego, perdido para sempre, expulso dos pulmões em tosses, caminhando ligeiro pela boca, com destino certo, através do lábio e da língua: o caminho sagrado do que é guardado entre as pernas das mulheres que sonhamos...".
Eu já tinha lido antes algumas poesias adultas de Drummond e de Bandeira. Mas acho que o portuguesinho magricela e bigodudo superou a ambos.
O cara era bom. Tarado, mas bom.
2. Hotel Ibis:
Meus amigos cansaram de me avisar que o Ibis não tem relação custo x benefício, e sim custo x malefício.
Me hospedo na rede há anos e me divirto sempre com a falta de foco daquelas criaturas.
A rentabilidade não vem da redução de custo. A redução de custo é um periférico, importante, mas suburbano.
A rentabilidade vem do bolso do cliente. Que volta. Sempre. Desde que esteja feliz.
Temos uma brincadeira lá em Itu para comparar o serviço do Pão de Açúcar, com o do Carrefour. É bem simples.
Uma grande amiga, esposa de um grande amigo, fala assim: "...Carrefour: lugar de gente infeliz...".
Adaptei o conceito para o Ibis:
a. Cena 1, no check in:
- Boa noite, reserva para Gilberto de Moura, por favor...
Uma criatura do sexo feminino, de cabeça baixa, sem me olhar, resmunga:
- O sr. pode estar aguardando um minutinho ?
Provavelmente o retorno de Katrina ou de um outro, de intensidade 4 pelo menos, se anunciava.
Respirei fundo e respondi:
- Sim.
02 minutos depois, a criatura finalmente levanta os olhos e diz:
- Pois não, senhor ?
E eu digo:
- Pois não, o quê ?
E ela diz:
- O Sr. já foi atendido ?
Pressão 16 x 12.
- Não, você não me atendeu...
E a corajosa insiste:
- Ah...pois não, então ?
(...)
Engoli minha pré-raiva e disse, de novo:
- Reserva para Gilberto de Moura, por favor...
Então, brilhantemente, aquele aglomerado de moléculas uniformizadas reponde:
- É o senhor mesmo ?
Jesusmariajosé...
b. Cena 2, no jantar:
Desci para o jantar as 19h30, mais ou menos, pois queria voltar para o quarto logo, para me conectar na web.
Após fazer meu prato e escolher um mesa longe da TV, chamei o garçon (que estava num papo animado com outras duas pessoas)...chamei de novo, de novo e de novo.
Ele veio.
Pedi um vinho e uma água mineral sem gás e sem estar gelada, ou seja, ao natural.
O vinho veio e a água não. Pedi de novo a água. Ela veio...gelada. Tentei explicar que queria a água sem gelo, ao natural. O garçon, um misto de Ralph Macchio com Amelinha, me disse que todas as águas minerais do hotel eram naturais.
Me calei perplexo...
c. Cena 3, café da manhã:
Desci animado depois de uma noite de sono cheia de sonhos interessantes.
Fui direto ao salão do café (que também é de jantar, que também é bar, que também é anexo do lobby...) e na entrada, fui chamado ásperamente por uma criatura de uniforme sujo:
- O senhor precisa assinar...
- Assinar o que ?
- O controle de café !
- Mas eu já paguei o café no check in...deixei todos os dias pagos...
- Mas o senhor precisa assinar...
- Minha jovem, o controle de fluxo para café da manhã é trabalho do hotel...não do hóspede...!
- O senhor pode estar reclamando na recepção, mas o senhor tem que assinar !
- (...)...(...)...(...)... = perplexidade infinta, que levou alguns segundos.
- É só assinar senhor...
Assinei.
d. Cena 4, ainda no café da manhã:
Já sentado, reparei que a faca estava suja, com manchas típicas de talher que após passar pela lavadoura, não foi bem enxaguado, então ficam manchas de detergentes, secas.
Não chamei o garçon, pois achei que ele pudesse demorar de novo e de novo.
Andei até um funcionário uniformizado e pedi, educadamente:
- Por favor, troque esta faca que está suja. Obrigado.
- Senhor, esta faca não está suja.
Olhei no fundo do nervo ótico daquela criatura pequena e franzina na minha frente e perguntei:
- Esta faca está limpa ?
Foi então que Gioconda, quase 600 anos depois, sorriu amarelo:
- Não senhor, ela não está limpa, mas também não está suja !
Recuei atônito, afônico, incrédulo, pasmo, mas ainda rubro-negro.
Respirei fundo e pensei:
- Dane-se o Vasco...!
GM
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