terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma Incrível Coincidência Beatleniana


Uma conversa descontraída de sábado à tarde.

O já tradicional churrasco estava quase no fim.  Estava finalizando a picanha ou dourando a costelinha.  Não importa.

A conversa caminhou para a música, como na maioria das vezes que reunimos os amigos no nosso cantinho da bagunça.  Falávamos do que estávamos ouvindo e naquele momento ouvíamos Beatles.

Meio que metido à besta, falei que nossa coleção de discos beatlenianos estava completa.  Tínhamos finalmente toda a discografia oficial e a última aquisição fora o raro “Love Songs”, de capa marrom, lançado apenas em vinil na década de 1970.

Num estalo e com a razão que a pureza dá às crianças, meu filho interviu dizendo que nossa coleção dos Beatles estava longe de estar completa.  Faltava, por exemplo, o disco “Strawberry Fields Forever”.

Disco ?  Zombei do alto de minha imodéstia falante. 

Argumentei que “Strawberry Fields Forever” era uma faixa de um grande disco, mas que não se tratava de um disco autoral e nem coletânea, a não ser pelo compacto de mesmo nome lançado no final da década de 1960.

Insisti na minha posição, mesmo sob os protestos gerais de que o tal disco de fato existia e que fora visto uma vez num site de discos raros.

Seria balela ?

Numa das paredes da área de lazer afixei um quadro, tempos atrás, com as miniaturas de todas as capas de todos os discos dos Beatles.  De “Please, Please Me” até a coletânea “Love”, produzida por George Martin.

Usei esse quadro como argumento final dizendo que se “Strawberry Fields Forever” fosse um disco, a capa estaria ali no quadro.  Ponto final.

Sepultei a questão, apesar dos firmes argumentos de meu filho.

Passa o tempo.  Poucos dias, na verdade.  Estava em viagem a trabalho, na rotina de sempre: aeroporto-cliente-almoço-cliente-jantar-hotel-aeroporto.  Na volta pra casa observei que havia, junto ao lobby do hotel, uma espécie de feirinha de velharias incríveis.  Uma senhora, acompanhada de uma jovem de uns 20 anos, vendia por ali de tudo um pouco.

Observei isqueiros antigos, facas e lanternas.  No canto do balcão uma pilha de discos de vinil descansava em paz. 

Um deles me golpeou o rim esquerdo !  Era uma capa de long play, dos Beatles, de nome “Strawberry Fields Forever” !!!

Como ???

Peguei a capa apressadamente.  Li seu conteúdo externo.  Tratava-se de uma coletânea, lançada pelo fan clube dos Beatles e que não teve fins comerciais.  Não foi vendida em lojas e teve uma tiragem bem reduzida.

Raro de verdade !

Faixas inéditas.  Gravações à capella e uma raríssima versão de “O Barbeiro de Sevilha” nas vozes harmonizadas de John e Paul.

Um pequeno detalhe: a capa estava vazia.  Faltava o LP.

Perguntei a senhora sobre o disco e ela me disse que os tirava das capas e os deixava empilhados num caixote, pois as pessoas só compravam as capas para usar como decoração.  Os discos ninguém comprava.

É óbvio que quase morri do coração na hora.  Seria fulminante se o tal caixote não estivesse ali, bem ao lado.

Procurei com cuidado e encontrei o vinil, com poucas avarias e uns poucos arranhões.  Comprei e com carinho transportei para casa.

O final de estória é previsível: meu filho, cheio de razão, zombando de minha arrogância de dias antes.  Muitas gargalhadas em comum e o disco espetado na agulha, tirando aquele som que só eles sabiam fazer.

Vou ter que mandar fazer outro quadro.

GM

 

 

 

 

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