Falar de uma seleção brasileira de futebol, para quem como eu, é apaixonado por futebol, é tarefa ingrata.
Ainda mais se a palavra for sobre seleções que marcaram época e memória, na lembrança de brasileiros de todo o mundo.
Não vi jogar os timaços de 58, 62 e 70. Firmes tri-campeões do mundo com uma constelação de craques do meio-campo para frente, e com bons jogadores da meia-cancha pra trás.
Pelé, aquele que é a síntese do próprio futebol, não vi bailar nos gramados.
A 1ª copa que assisti inteira, acompanhando os jogos pela TV, foi a de 78, na Argentina.
Leão, Toninho, Rivelino, Dirceu, Reinaldo e Roberto Dinamite fizeram um papel digno e saíram de lá invictos.
Dizem, o Brasil foi o campeão moral daquele certame.
A copa seguinte vivi intensamente.
Colecionei as figurinhas do chiclete Ploc (ou era o Ping-Pong ?). Pintei as ruas da minha rua de verde e amarelo. Aprendi a cantar a música hino daquela copa (Dá-lhe Canarinho, do Roberto Ribeiro).
E mais que isso, assisti a cada segundo de todos os minutos que formaram as horas de transmissão daquela copa.
Espanha, 1982 !
Era um time de artistas. Uma seleção que tinha um mágico por posição, do goleiro ao ponta-esquerda !
Nem a geração de Pelé conseguiu essa proeza. Ter uma escalação de tão alto nível em cada uma das posições.
E tínhamos Zico no auge da forma, eleito o melhor do mundo em 1981. Falcão com sua classe e firmeza. Júnior com toda a sua habilidade. Sócrates com inteligência e futebol moderno. Éder com força e habilidade. Leandro com agilidade e qualidade. E até mesmo o careca Valdir Perez, com firmeza e constância.
Cada jogo era uma baile de futebol. Contra URSS, 2 x 1 de virada, com direito a um golaço de Éder, apesar da grande atuação do goleiro Dasayev.
Contra Escócia uma goleada, com direito a gol de falta magistralmente cobrada por Zico.
Nova Zelândia e Argentina ficaram para trás, sem deixar vestígio. Contra a Nova Zelândia, Zico marcou de bicicleta e no jogo contra a Argentina, Maradona foi expulso de campo após agredir Batista, demonstrando ter perdido a cabeça pela derrota por 3 tentos a 1.
E então surgiu a Itália em nosso caminho.
Poucas palavras para falar disso.
Gentile marcou Zico os 90 minutos do jogo individualmente e com violência, chegando a rasgar a camisa do galinho dentro da área, num penalty que se tivesse sido marcado...
Começamos o jogo perdendo, gol de Paolo Rossi.
Logo 02 minutos após, Zico se livra de Gentile e Tardelli com um drible de calcanhar e toca para Sócrates marcar na saída de Zoff.
Uma grande bobagem na área somada com outra grande bobagem no meio de campo, e vieram mais dois gols de Paolo Rossi, que se tornaria artilheiro daquele mundial.
Falcão ainda empataria em 2 x 2, com um golaço de fora da área.
Oscar quase marcou de cabeça aos 44 do 2º tempo, o que seria nossa redenção: o empate classificava o Brasil.
Qual nada ! Foram 03 gols de uma medíocre Itália, contra 02 gols de uma seleção de sonhos.
Chorei nervosamente por quase duas horas. Esmurrei a parede da sala, corri para o quintal, berrei como um condenado.
Aquilo não podia ser verdade !
Doeu muito. Me senti mal por semanas. Mas estava feito. Era fato.
Minha geração aprendeu a viver com a dor de ter perdido aquela copa, mas soube valorizar seus guerreiros e reconhecer o esforço do time de Telê Santana.
Na volta ao país, no aeroporto do Galeão, a torcida recebeu o time com uma enorme faixa que dizia: "Tão belas quanto as conquistas, são as derrotas de cabeça erguida: valeu Brasil !".
Segui em frente, ainda apaixonado por futebol e ainda brasileiro.
Pra sempre.
GM
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