quinta-feira, 16 de maio de 2013

Blues Brothers, Bruce Willis e a música de elevador


Sabe quando você escuta tanto determinada música, tantas vezes e em tantos lugares diferentes, que parece que ela simplesmente deixou de existir ?

E quando uma música é tão presente no seu cotidiano que você simplesmente deixa de prestar a atenção nela, já percebeu isso acontecer ?

Existem músicas que estão tão enraizadas à nossa vida e que são tão reproduzidas pelos meios, que simplesmente parecem se tornar...silêncio.

Mas silêncio também se escuta.

Alguns chamam isso de "música de elevador".  O standard dos standards.  O clássico dos clássicos.  Aquelas músicas que estão inseparavelmente soldadas ao inconsciente das pessoas, permanentemente.

Às vezes, dormimos com elas e acordamos com elas, sem perceber.

Outro dia, estava assisitindo com meu filho ao último filme de Bruce Willis, da franquia "Duro de Matar", que, dependendo da áura e do momento do expectador, pode ser chamado de "Duro de Assistir".

No filme, há uma cena em que o personagem de Bruce (o durão John McClane), acompanhado do próprio filho e do vilão da estória, todos juntos num elevador de um prédio antigo, passam por um momento cômico.

Nesta cena, dentro do elevador, é possível se ouvir a melodia inconfundível de "A Garota de Ipanema", clássico de Tom & Vinícius. 

Três caras durões ouvindo bossa nova, nada de muito anormal, por enquanto.

Durante a edição da película, o diretor John Moore decidiu não usar uma outra cena, que trazia um diálogo cômico dentro desse elevador.

Na cena não usada, o filho do herói, ao ouvir a música dentro do elevador teria dito que aquela música era um clássico de Sinatra.  McClane, de mau-humor, teria corrigido dizendo ser um hit de Dean Martin e, o vilão, ouvindo aquelas baboseiras, teria dito baixinho: "...Gentlemen, it's Jobim...", sendo imediatamente calado por um bom bofetão  de esquerda.

Ora, não me preocupa aqui a ignorância musical dos brutamontes McClane e seu filho espião.

Burrice é burrice em qualquer lugar do planeta, até em Hollywood e até na pele de personagens quixotescos de uma franquia desgastada como esta.  Além disso, aquela burrice foi plantada naquela cena intencionalmente, para criar um clima cômico dentro de uma cena de tensão.

Também não é importante aqui, dizer que esta cena foi inspirada (ou surrupiada) em (ou de) outra clássica cena de um excelente filme oitentista. 

O filme "Blues Brothers" (1980), que aqui em Pindorama teve a infeliz e inexplicável tradução de "Os Irmãos Cara-de-Pau", tem uma cena ultraclássica em que os irmãos Jake e Elwood Blues estão  dentro de um elevador e, ao fundo, se ouve a mesmíssima "A Garota de Ipanema", dos mesmíssimos Jobim & Vinícius.

Uma boa idéia, bem copiada por John Moore e mal executada pela dupla de anabolizados Willis e Courtney.

Mesmo  assim, o ponto, aqui, não é esse.

O que me interessa nesta estória é que, de fato, existem as chamadas "músicas de elevador".  São os clássicos que, de tão assimilados, se tornaram parte do DNA de nossos ouvidos.  Nossas bigornas e martelos já não distinguem conscientemente a batida de suas melodias.

São canções que, de tão belas, se tornaram invisíveis e silenciosas.  Graças à Deus, pois é preciso saber ouvir o silêncio.

Minha lista de "músicas de elevador" não é grande.  Certamente Tom Jobim está presente, com "Wave", que por ter vocação instrumental, se presta melhor a este papel do que "A Garota de Ipanema".

Também considero "New York, New York", "What a Wonderful World" e "Singing in the Rain", como elegíveis nesta estranha e ridícula categoria.

As demais canções, todas, merecem audição atenta, calma e bem acompanhada.  Pois música é música, apesar das bobagens que Hollywood, de vez em quando, faz.

GM





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