quinta-feira, 23 de maio de 2013

Tommy, a ópera-rock, 44 anos depois


Um homem de 44 anos de idade.

Um tiozinho.  Um exemplar de Sapientis Balzac.  Um carinha meio-grisalho e meio-careca.  Um quase barrigudinho de estrias e varizes salientes.

É isso que eu sou.

Uma criatura com o privilégio de ter presenciado 75% de toda a produção musical de qualidade e beleza desta velha terra, desde que meus ouvidos despertaram, em 1978.

Os outros 25% escorreram por entre meus dedos, enquanto eu ouvia futebol, pela rádio Nacional AM.

Fui testemunha do fim da era da música de protesto.  Acompanhei o lançamento dos melhores discos de Chico e Caetano.  Assisti o ocaso do Clube da Esquina.  Esquentei o esqueleto ao som de Donna Summers.  Ignorei o punk, e depois me arrependi amargamente. Ensaiei passinhos ridículos embalados por Sugarhill Gang.  Fiquei maluco com a genialidade de Michael Jackson.  Desprezei o pop vazio de Madonna.  Pirei tardiamente com Beatles e seu universo.  Assimilei e defendi bravamente o movimento BRock.  Curti Paralamas, Barão, Legião, Plebe Rude, Finis Africae, Picassos Falsos e tantos outros oitentistas de qualidade.  Não entendi a dance music e o tecno-pop.  Aprendi a gostar de New Order e Pet Shop Boys (mas, bem pouquinho).  Flertei com o movimento grunge. 

E segui em frente...

Me abri para as muitas pesquisas atemporais que, sem cronologia, me permitiram conhecer o jazz, o blues, o samba-de-prato, o poder do Southern Rock (Lynyrd Skynyrd, principalmente), a força do The Band e do Blood, Sweat and Tears, a beleza incomparável da bossa-nova e a fumaça da paz dos Bob (o Marley e o Dylan).

Música é um dos pilares que me equilibram.  E eu vivo para ela, também.

Então, com o privilégio de ter hoje 44 anos e ter assistido, no gargarejo, ao despertar e fixar da boa música das últimas décadas, é que venho louvar, como o velho Gil, o aniversariante do dia !

Hoje é dia do aniversário de lançamento do disco Tommy, a ópera-rock do The Who, que foi parida em 23 de maio de 1969, 44 anos atrás.

Um disco que não vendeu muito, foram pouco mais de 20 milhões de cópias, mas que fundou o gênero e confirmou Pete Townshend, como um compositor sério e musicalmente preparado.

O disco, que daria ainda origem a um filme em 1975 e a uma produção teatral, tinha como cena de fundo a insólita vida de um menino, meio cego e meio surdo, mas que ouvia tudo e observava tudo, pela sensibilidade da música que não se ouve.

Tina Turner, Eric Clapton e Jack Nicholson emprestaram fama e qualidade à película que foi produzida em 1975, mas infelizmente, não entraram na produção do disco.

Ouvir o disco é uma aventura, tanto quanto ouvir The Who em sua essência.  Não espere baladas bonitinhas e arranjos comerciais.  Trata-se de um disco do The Who, e como Roger Daltrey dizia, a música deles não era pra ser ouvida, mas sim digerida.

Recomendo, mas tenha cuidado.   Esse disco fará você pensar, mais do que o necessário, e mais do que o de costume.

GM

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