sexta-feira, 10 de maio de 2013

Charles, Studio 260


Nós não tínhamos mais do que 13 anos, quando começamos aquilo que podia ser chamado, na época, de, "vida social noturna".

Nossa turma era unida.  Amigos da mesma rua, compartilhávamos escola, cinema, futebol na rua de terra, conversas noite à dentro, mentiras, verdades e, às vezes, compartilhávamos até namoradas.

Algumas, mais "dadas", eram conhecidas como "namoradas dos meninos", um jeito carinhoso e tênue de se dizer que as meninas da nossa rua, namoravam os meninos da nossa rua.

Azar das turmas que viviam da Rua Saturno, pra lá !

Nossa rua era a Cordura, que, num português que já não se fala mais, se traduz em cordialidade, sensatez e prudência.  Não por coincidência, nossa turma era bem desse jeito: nenhum de nós soube experimentar, jamais, nenhum tipo de droga, todos trabalhávamos e estudávamos ao mesmo tempo, nossas famílias, vizinhas, se conheciam décadas à dentro.

Era uma confraria, sem nunca ter sido.

Nossos dias eram preenchidos pelas coisas que permeavam o universo do moleque de 13 ou 14 anos: escola, cinema, clube, televisão, trabalho em meio período, futebol pela rádio Nacional AM (na época de José Carlos Araújo, Deni Menezes...), peladas na rua ainda sem calçamento e meninas.

Neste ciclo, o clube e as meninas tinham uma devida e hormonal prioridade.

Nosso clube era o TCM (Tênis Clube de Mesquita), que tinha uma estrutura invejável, tanto para a época quanto para a realidade de nossa comunidade.  Todo domingo ocorria uma rotina sagrada para todos nós: as tardes eram preenchidas pela badalada matinê da Equipe Charles - Studio 260 e as noites, eram um caso à parte.

Durante a matinê, que funcionava como uma espécie de aquecimento para o que viria depois, as paqueras eram sinalizadas e combinadas para depois.

E depois, já à  noite, acontecia o lendário baile da Charles 260, que só acabava as 23h00m, com as luzes acesas e ao som do mais puro Rock and Roll.

Aqui vale à pena destacar a qualidade daquilo que os DJ's da equipe Charles (Carlinhos Animal) faziam.  A seleção era eclética e de alto nível.  Do pop ao rock, da MPB às baladas pra dançar coladinho, rolava de tudo e com um som de muito bom nível técnico.

Ouvíamos e dançávamos Michael Jackson, Chic, Titâs, Legião, Kiss, Guns, Barão Vermelho, Bangles...de tudo um pouco.  E como o Carlinhos era na época locutor de uma FM (se não me engano a Ipanema FM), levava todos os lançamentos e todas as novidades para os bailes do TCM.

De Sig Sig Sputnik à Oingo Boingo !

O baile começava agitado, depois havia um espaço para as chamadas "músicas lentas", ou o "disco-sarro", como dizia o DJ e aí vinha o bloco final, com mais agito.

No final do bloco de lentas o Charles dizia sempre: "...quem beijou, beijou, quem não beijou deixa pra domingo que vem...!"  E aí começava mais um sequência de hits dançantes.

Memorável !

Das muitas estórias recordadas pela nossa turma da rua Cordura, Ciência, Virtude e União (nomes das ruas que faziam nossa comunidade - 'o universo conspira à favor'), amigos de infância e de fé, a grande maioria teve como trilha sonora o competente trabalho da Charles Studio 260 e como cenário de fundo, as piscinas do TCM.

Este fim-de-semana todos eles estarão juntos celebrando mais um aniversário da equipe, num evento lá mesmo no TCM.  Como não estarei presente, infelizmente, farei daqui de casa o meu brinde, desejando aos amigos saúde e torcendo muito para que haja alguma forma de se resgatar aquela tradição e aqueles valores que muito contribuíram para a nossa formação musical.

A isso, saúde !

GM



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