quarta-feira, 8 de junho de 2011
Pelé e a segregação na indústria da música
Durante a copa do mundo de futebol de 1962, no Chile, Pelé se contundiu feio logo no segundo jogo.
Ele teve um forte estiramento no músculo da panturrilha direita e ficou de fora da copa até o final.
Como expectador, viu seu substituto (Amarildo, o “possesso”) ajudar Garrincha a levar o Brasil ao bicampeonato mundial.
Ainda como expectador, foi entrevistado pelo americano Sonny Clarck, jornalista do Times, que lhe fez uma série de perguntas sobre o futuro do futebol brasileiro.
Paulo Francis, ao lado, meio irrequieto e visivelmente nervoso, acompanhava a entrevista.
Ao final da conversa o americano agradeceu a Pelé a entrevista concedida e, despedindo-se de Paulo Francis, disse que Pelé era um grande atleta, “... um orgulho para a raça dele...”.
Paulito Francis, já meio estrábico e míope, teria respondido que “... sim, Pelé era um orgulho para a raça dele... a raça humana...”!
Essa estória, que ouvi da boca e dos dentes de meu tio Arlindo, nos idos de 81, serve de aquecimento e pano de frente para outra questão:
E quem disse que existe música negra ou música branca ?
Só quem insiste em rotular a criatividade e a arte para que esta se encaixe em esquemas comerciais.
Quando foi que alguém disse para Sinatra: - Você é um grande cantor branco !!
Nunca.
Basta vermos uma mulher negra linda e deliciosa cantando um jazz sexual, como a nova Esperanza Spalding o faz, por exemplo, para que um crítico a rotule como “a mais sensual voz negra do jazz dos últimos anos...”.
E desde quando voz tem cor, no sentido literal da palavra ?
Mulher negra linda é, como já disse aqui, apenas uma mulher linda. Ou você diria que Juliete Binouche, apenas como exemplo, é uma mulher “branca” linda ?
Sou contra o rótulo das cores na música.
Sou a favor da música, como manifestação de arte e de um processo criativo único, que não se repete.
Black Music é Black Music apenas na capa do disco e na cor do vinil. Nos ouvidos soa como música, apenas.
No final, esse processo criativo todo, seja o artista branco ou negro, sai do cérebro; e até aonde eu fui informado, todos os cérebros são cinzas.
GM
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