sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um gentleman de chuteiras


Incrível observar como o tempo não abala alguns dos valores mais sólidos da humanidade. Caráter ? Honestidade ? Sim, também, mas agora mesmo, me refiro a um dos valores máximos que nós, amantes do futebol, entendemos como fato: as coisas que acontecem no Maracanã.

E quem nunca foi ao Maracanã ? Somente lá, de casa cheia, com os anéis superiores vibrando, o eco das torcidas indo e vindo, a alegria incontida que rompe, sempre, forte num grito de...juiz ladrão! (Ok...também gritamos gol, golaço, na trave !! Uhhh...), mas juiz ladrão é mais divertido.

Um templo. De adoração ao nosso esporte maior e de lembranças, como esta, que o tempo não apaga:

Campeonato Carioca de 84 ou 85 (desculpem a memória senil).

Acompanhem os fatos:

1. Fla x Flu;
2. Fluminense 1 x 0;
3. 43 minutos do segundo tempo;
4. Falta próxima ao lado direito da área do Fluminense;
5. O competente goleiro Paulo, tem crise de raiva no momento em que o zagueiro, aqui anônimo , comete a infração;
6. Zico estava em campo.

Silêncio absoluto. Por intermináveis segundos o "Maraca" ficou em silêncio. Todos observavam o jeito com que ELE ajeitava a bola antes da cobrança. Intimidade pura. Só ELE e a bola.

Apenas silêncio.

Chico Buarque diria nessa hora.."um silêncio tão profundo daqueles do vizinho reclamar...", logo ele fiel tricolor. Logo ele, amigo do Sr. Monteiro.

Três, talvez quatro passos para trás. Lembro-me ainda de vê-lo apontar alguma coisa para Adílio, antes da cobrança. Falou algo de lado com o menino da Cruzada e sorriu suburbanamente.

Salve Quintino.

Bateu seco. Com efeito. Trajetória semi-elíptica. Sem força. Com respeito ao goleiro, a bola e a torcida. A menina entrou no último limite, do último milímetro, antes do ângulo superior esquerdo do pobre Paulo.

Inexplicável golaço.

A física se perderia em teoremas. Não se explica aquilo que faz um homem chorar. Também não se explica o que veio depois.

O estádio explodiu em gozo rubro-negro. Nunca na história da vida terrena se ouvira tanto amor assim.

Foi no dia em que descobri que era Zico, antes mesmo de ser Flamengo.

Depois do abraço dos companheiros, ELE foi sorrir junto aos geraldinos. Arquibaldos, como eu, de longe, morriam de inveja.

No lado oposto, a acadêmica torcida tricolor aplaudia. Zico acenou de longe, com respeito, sem zombarias. A torcida aceitou alegremente o aceno. Então, como mágica, um côro rubro-alvi-verde-negro se fez ouvir, num crescente oitavado:

- ZICO ! ZICO ! ZICO !

Um gentleman de chuteiras.

Putz, como é saudoso viver !

Vamos em frente !

GM

Um comentário:

  1. Tentando influenciar as pessoas a sofrível sensação de ser flamenguista... abs irmão!

    Marcelo Leoncio

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